Olhando para as sondagens, a dias das eleições autárquicas, com as coligações encabeçadas por Carlos Moedas e Alexandra Leitão em empate técnico, acredita que o Chega será imune aos apelos para o voto útil?Não nos preocupamos com sondagens e entendo que a questão do voto útil é uma forma de o sistema condicionar os eleitores. Na realidade, não existe outra alternativa além de um partido que venha fazer a ruptura. Voto útil em quê? Num PS, num PSD, que são a mesma coisa, que gerem a cidade há décadas exatamente da mesma forma, que têm acordos de corrupção, como o Tutti Frutti, onde vimos uma combinação entre os dois partidos, do género “ficas com uma junta e eu fico com a outra”, dominando os negócios da cidade de acordo com interesses partidários. Isso não é qualquer opção. Esses partidos estão habituados à dialética de ou um ou outro, quando são praticamente a mesma coisa. Daí que o apelo ao voto útil seja, talvez, a coisa mais absurda da democracia portuguesa. Há sondagens com entrevistas telefónicas e com voto em urna, que são aquelas que nos dão maior percentagem, pois nas telefónicas as pessoas ainda sentem algum receio de dizer que vão votar no Chega. Isso acaba por nos penalizar.De qualquer forma, está preparado para ser responsabilizado pela eventual vitória de Alexandra Leitão, apelidada de “candidata de Bangladesh” pelo vosso partido? Palavra de honra que me é completamente indiferente. Em termos de políticas, na mobilidade, na habitação, na educação, na segurança, na imigração, na ação social, são exatamente iguais. Portanto, é-me indiferente quem ganha. A minha preocupação, como dirigente e candidato do Chega, é o que podemos fazer para mudar o sistema. São exatamente iguais. Até na agenda woke que Moedas teve neste mandato, na marcha LGBT e na promoção do Europride. As pessoas estão fartas, e precisam de uma alternativa ao sistema que está montado, em que se revezam uns com os outros. Aparentemente são partidos diferentes, mas na realidade são iguais. Portanto, não me sinto nada responsabilizado. Os lisboetas saberão escolher. Se quiserem continuar com mais do mesmo, continuem. Mas muitos estão já a começar a abrir os olhos.O que será um resultado positivo para o Chega? Temos um programa de ruptura, que nas várias áreas da governação é completamente diferente do paradigma anterior. E uma equipa com profissionais de várias áreas, que me dão totais garantias, e não são uma imposição partidária. A minha equipa não é imposta nem pela concelhia, nem pela distrital, nem por qualquer outro sector do partido. É uma escolha minha, de quadros de alta relevância, que entraram para o partido e querem dar o seu contributo à sociedade. Sinceramente, entendo que estamos muito preparados para ganhar a cidade. Há uma corrida para ganhar a Câmara e há uma segunda corrida para ser o partido com maior influência e maior número de vereadores. Entendo que o Chega pode ser o partido com maior número de vereadores e ter uma posição decisiva na governação de Lisboa, seja a liderar ou a passar medidas. Queremos ganhar. Se o partido não ganhar, então que tenha a possibilidade de condicionar e de defender Lisboa, o que é o nosso lema.Mesmo que o Chega seja a terceira força mais votada, é muito possível que seja o fiel da balança.Temos a expectativa de dar força às nossas políticas. Na Assembleia Municipal, onde era líder da bancada, éramos três deputados em 75, e conseguimos condicionar muitas políticas de Moedas. Lançámos um conjunto de políticas, inclusive na parte da imigração, da habitação e da segurança. Sozinho, consegui suster a construção da mesquita do Martim Moniz. Mostrei que os lisboetas não queriam, e os partidos do sistema recuaram. Disse a Moedas que, se fizesse a mesquita, não era por ter sido uma decisão anterior que não lhe iria imputar responsabilidades, e os lisboetas não lhe iriam imputar responsabilidades. Ele entendeu recuar, e bem, pois seria muito complicado naquela zona, que já está guetizada. Falando em Assembleia Municipal de Lisboa, seria irónico se a moção de censura que apresentou ao executivo de Carlos Moedas, e só recebeu o voto favorável do PPM, além do Chega, fosse confirmada nas urnas a 12 de outubro?Moedas está capturado pelo seu partido. Veja como teve que mudar todo o executivo. Tem uma equipa nova e, no caso do CDS, uma pessoa que até nem queria, pois o único vereador que se mantém é o vereador Diogo Moura.Acabará por ser a pessoa com mais experiência naquele executivo.Não ponho em causa a capacidade de trabalho de Diogo Moura e o seu conhecimento da cidade. Mas quando se passa para a aplicação prática, as suas políticas são um perfeito desastre. Para recapitular, entendo que se Moedas for penalizado será pela sua incapacidade de gerir a cidade, desde logo também por causa do Elevador da Glória, que foi o efeito mais notório da falência da sua gestão e da falta de fiscalização. O que é comum a quase todas as áreas da cidade? A falta de fiscalização, transversal à higiene urbana, ao licenciamento zero, a uma série de áreas. Não há fiscalização e não há, sobretudo, coragem de tomar medidas. Moedas está muitíssimo condicionado pelo seu mandato, que foi uma desgraça. Como é que se lembra, depois de quatro anos em que a cidade está suja, e foram despejados milhões de euros nas juntas de freguesia para limparem os ecopontos, de dizer que foi dinheiro deitado à rua, e agora vamos centralizar a higiene urbana? Não faz a mínima ideia do que está a fazer. Todas as dinâmicas de higiene urbana vão no sentido da descentralização. Quanto mais próximos estivermos de onde há sujidade, mais rapidamente podemos limpar. O problema não é o sistema estar descentralizado, e sim a falta de fiscalização. Muitas vezes digo que não há qualidade nos autarcas eleitos nas juntas de freguesia, que não têm qualquer aptidão e são boys colocados pelos partidos. As pessoas que ascendem aos cargos políticos não têm qualidade, são escolhidas não pelo mérito, não pela capacidade profissional, mas por serem aparelhistas. Uma junta de freguesia tem seis a dez milhões de euros, dependendo da dimensão, para gerir por ano. Estamos a falar de fortunas, que são mal aplicadas, porque se preocupam mais em distribuir tachos e assessorias do que em fazer o trabalho que é suposto ser feito. Gostou de ver Moedas pedir mais 500 agentes da PSP ao Governo, insistir que devehaver mais 100 elementos na Polícia Municipal e dizer que o número de abusos sexuais disparou na parte da cidade que inclui Arroios e Santa Maria Maior?Moedas é um fantasma de si próprio. Está de cabeça perdida. Há quatro anos, pôs-se em bicos de pés, a dizer “vou fazer e acontecer”, e o que verificamos é uma diminuição do número de polícias municipais. Só recebeu 25, ainda por cima do anterior Governo. Este Governo, que é da cor dele, não lhe deu efetivos, e até decresceu o número. Como é que ele agora tem a capacidade de chegar ao pé dos lisboetas e do Governo e dizer que vai pedir mais 500 PSP e mais 100 para a Polícia Municipal? As pessoas já perceberam que não vai ter essa capacidade.E isso tem a ver diretamente com o receio da progressão do Chega? Sabia o que iria acontecer, em termos da minha candidatura à Câmara, há algum tempo, e fiz de propósito para chamar a terreiro Moedas, que andou sempre a dizer que somos uma cidade aberta e multicultural, com todas as implicações sociológicas e o tipo de imigração que isso implica. Desdizer tudo o que disse nestes quatro anos demonstra que não há qualquer credibilidade nas suas afirmações. É óbvio que a agenda do Chega é a correta, e os lisboetas já o perceberam, e estão cada vez mais a dar-nos razão e a aderir, pois é insustentável que a cidade consiga absorver esta autêntica invasão. Ele está a infletir o discurso, e isso é completamente fake.Que impacto espera na cidade da aplicação da Lei de Estrangeiros?Tenho muitas dúvidas de que tenha para já impacto. Temos é de estancar esta invasão. Mas não temos na cidade de Lisboa um centro para acolher pessoas identificadas como imigrantes ilegais para deportação. Vão para um centro no Porto. E se, ao fim de 60 dias esse processo não terminar, o que na maior parte das vezes sucede, são libertadas. Uma das nossas propostas é criar um centro em Lisboa, gerido pela PSP, que já tem uma unidade de 20 elementos na cidade para identificar estas pessoas. Se a Câmara não fornecer instalações, porque é a única coisa que pode fazer, não podemos ter pessoas a tomar conta destes imigrantes ilegais. Tem de ser a PSP. Mas se disser que tem dez polícias para isso, é uma coisa; se precisarmos de 100 teremos de arranjar instalações muito maiores. É algo que temos de fazer enquanto município. Tudo o resto, no meu entender, são paliativos.Lisboa pode funcionar sem os milhares e milhares de estrangeiros que asseguram a maior parte dos serviços e do comércio?Temos dois tipos de imigração. Há uma que só funciona na economia paralela. Já alertámos inúmeras vezes para as ditas lojas de souvenirs, cujo negócio é a vinda de imigrantes, que pagam um determinado valor para terem contrato. Estamos a falar de 7500 euros para vir e 7500 para ficar. Representam cerca de 15 mil euros. Se tiverem contratos de trabalho com 100 pessoas - o que muitas vezes temos nas lojas, sem lá estar ninguém, criadas por estas máfias - veja quanto isto representa em volume de negócio, pois o negócio em si não é a venda de pins; isso é a fachada. A polícia sabe disso, e espero que o Estado cruze dados com a Segurança Social e com as Finanças, faça fiscalização efetiva, e resolva o problema, prendendo estas máfias. Depois, há outra imigração, que tem de estar de acordo com as necessidades da economia, e dos principais sectores de que falamos, que são a construção e o turismo. Resta saber se estamos a recrutar quem queremos e com a qualidade que queremos. Tenho as maiores dúvidas. Há barreiras culturais.Não se deve ir buscar imigrantes de certos países?Naturalmente. Já o disse.Como se define quais são os países certos para ir buscar imigrantes?Está estudado e provado, e na Europa temos inúmeros exemplos, que é uma questão civilizacional. Há civilizações contrárias à nossa e pessoas que, por mais que queiramos, nunca se irão integrar, até por uma questão de afirmação religiosa. Há religiões dominantes e expansionistas, e temos de ter isso em consideração. Tudo o que seja imigração de países com os quais temos afinidade cultural e religiosa é muito bem-vinda. Precisamos deles e são de países irmãos. Todos os dos países que abusam do nosso sistema para entrar e nos dominar, não os queremos. Como lisboeta, preocupa-me muitíssimo a invasão feita por algumas comunidades, e a promoção, até nos países de origem, do destino de Portugal para este efeito.Refere-se em particular ao Bangladesh e ao Paquistão?Bangladesh, Paquistão, Afeganistão e países do Médio Oriente. Já agora, faço uma distinção. Alguns são verdadeiros refugiados, cristãos perseguidos e mortos nestes países, e temos de olhar para eles de outra forma. Para todos aqueles que vêm com um propósito que não é benigno, que vêm prejudicar a economia e a população portuguesa, e que tratam as mulheres mal, temos de ser muito claros e firmes na defesa da nossa cultura, dos nossos valores, dos nossos princípios e, no fundo, daquilo que é a nossa pátria.Uma medida do vosso programa é transformar inquilinos da Câmara de Lisboa em proprietários. Que indicadores tem de que haja aptência das pessoas para o quererem ser? Temos estado nos bairros e falado com associações de moradores, e as pessoas têm o sonho de ter a sua própria casa. Há inquilinos cumpridores e não cumpridores. No tempo do PS, 20% da habitação social não pagava renda, e com Moedas a Gebalis só conseguiu recuperar 7%. Ainda há 13% da população da habitação social de Lisboa que não paga. Aos cumpridores, temos que lhes dar a possibilidade de comprar. O Regulamento Municipal da Habitação Social permite a aquisição do imóvel ao fim de algum tempo, com uma medida tampão de sete ou dez anos, para não termos especulação imobiliária. Mas às pessoas que durante 10 ou 20 anos, muitas delas até mais, pagaram a renda de forma certinha, e até hoje veem os do lado a não pagar, queremos dar a oportunidade de comprar. Porquê? Porque estimaram o imóvel e serão aqueles que depois irão criar um regulamento de condomínio e permitir que o parque habitacional da cidade esteja estável. É algo que me parece justo e que vai ajudar muito a Câmara. Não só em geração de receita, mas sobretudo por retirar um peso imenso. Moedas gastou neste mandato 560 milhões de euros em habitação social. Foi feita uma série de obras, mas praticamente só na fachada dos edifícios, e o interior ficou por reparar. É insustentável. Imagine quanto representa manter cerca de 25 mil fogos na cidade. Está a onerar muitíssimo os orçamentos camarários. Os partidos do sistema querem ter as pessoas que hoje pagam 100 euros a dizer que as coisas lhes correm mal e que querem baixar a renda. A Gebalis baixa-a, mas a seguir têm que votar no partido que lhes disserem. Se calhar não é feito de uma forma tão direta, mas na prática é o que acontece. Em sua opinião, essas lealdades políticas são uma grande parte do problema nas questões de mobilidade? Claro. Veja o que saiu recentemente na comunicação social sobre a quantidade de quadros do PSD metidos na EMEL. Se calhar, as coimas passaram todas para a EMEL para sustentar esta clientela política que tem ordenados elevados. Ou o que se passa na Carris, onde espero que as autoridades policiais e o Ministério Público consigam apurar exatamente o que aconteceu com empresas que têm proximidade com quadros da Carris e possam verificar o que se passou no Elevador da Glória. Porque é que não há fiscalização, porque há estes contratos de adjudicação direta, porque é que empresas que prestam serviços à Carris não têm quadros certificados e o caderno de encargos diz que não têm de os ter. Ganham os contratos e depois é que vão contratar pessoas. Este tipo de situações é absolutamente vergonhoso e é evidente que tem a mão de uns e de outros, com a conivência de uns e de outros. Daí que digamos que esta gestão do PSD foi um falhanço completo. Muitos trabalhadores da Carris foram denunciar o que se passava, tal como na higiene urbana, onde os quadros dirigentes também têm muitas sensibilidades partidárias. Temos que fazer uma verdadeira limpeza em todas as empresas municipais. Mas é uma limpeza cirúrgica de quadros dirigentes que se perpetuam, e que nem permitem que outros ascendam. E há muita gente com muita qualidade nos quadros da Câmara nas empresas municipais.Não se sabe se será o caso de Lisboa, mas é muito provável que o Chega não só aumente muito a representação em executivos camarários como venha a assumir a presidência de várias câmaras. Isso será o teste do algodão com que os adversários contam para mostrar que o vosso partido fará o mesmo que os outros?É importante que o Chega comece a assumir poder. Viemos realmente para reformar, para mostrar que somos capazes de fazer melhor. Sinceramente, acho que não é difícil fazer melhor, tendo em conta a realidade que temos. Cada vez as pessoas estão mais insatisfeitas, cada vez os meios públicos são pior utilizados e estamos aqui com vontade de fazer melhor. O Chega, enquanto partido, tem que ter a oportunidade de governar e mostrar realmente que sabe e é capaz de fazer diferente.Espera que seja como na célebre frase de Ruben Amorim: “E se correr bem?”Eu próprio, na altura, não esperava que ele tivesse essa capacidade e foi capaz. Devemos dar uma oportunidade para mudar, porque de mais do mesmo estamos fartos..Chega em Lisboa quer unidade de controlo de imigrantes, registo digital obrigatório e centro de instalação