Seria preciso recuar até 1993 para encontrar na Câmara do Montijo a mais recente vitória em eleições autárquicas que não pertence ao PS. Na altura, a CDU (PCP-PEV) ganhou com 37,6% dos votos. No entanto, quatro anos depois, em 1997, o PS arrecadaria 45,3% dos votos e manteria a liderança do Executivo municipal até agora. Na últimas eleições autárquicas, em 2021, os 29,49% dos votos conseguidos pelos socialistas já estavam muito próximos dos 27,74% que o PSD angariou. Logo a seguir, com 19,40%, a CDU apresentou-se como um pretendente à câmara e longe de todos os restantes partidos. Ainda com uma emergência muito tímida nessas eleições, o Chega ficou com 6,60% dos votos, logo seguido pela IL, com 4,36%, pelo BE, com 4,14% e pelo PAN, com 3,17%. Porém, as mais recentes eleições legislativas, em maio, trouxeram uma diferente distribuição dos votos, com o Chega a ser o partido mais votado no Montijo (31,41%), contra os 23,72% da coligação do PSD com o CDS e os 20,69% do PS.“Em 28 anos fazem-se muitas coisas boas, outras coisas menos boas, mas nós estamos aqui para responder por todas”, assegurou ao DN o candidato socialista à Câmara do Montijo, Ricardo Bernardes, enquanto apresentava garantias de a candidatura que agora apresenta ser “renovada, nos cabeças de lista, nos outros membros das listas, nas ideias” que traz.Questionado sobre como compara o resultado das últimas autárquicas, há quatros anos, com o das legislativas - onde o PS surge como terceira força política no município -, o também professor de Direito na Universidade de Lisboa encara os números apenas como uma “fotografia do momento”.Com esta observação, Ricardo Bernardes, insiste na ideia de renovação subjacente à sua candidatura, por oposição a uma continuidade do executivo socialista. O candidato é chefe de gabinete da atual presidente da Câmara do Montijo, Maria Clara Silva, que assumiu o mandato em 2024, depois do seu antecessor, Nuno Canta, ter renunciado para integrar a Comissão Executiva da Amarsul, Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos. De qualquer modo, Nuno Canta estava a cumprir o terceiro mandato como presidente da câmara e não poderia candidatar-se outra vez.No primeiro dia de campanha, Ricardo Bernardes e a sua comitiva visitaram o Centro de Convívio de Reformados, Pensionistas e Idosos do Montijo, onde a receção, por parte de cerca de duas dezenas de utentes, foi proporcional ao estímulo que o candidato socialista imprimiu ao momento. Um dos idosos fez até questão de mostrar a Ricardo Bernardes uma fotografia que tinha tirado num Carnaval passado, o que motivou uma brincadeira em torno de uma potencial iniciativa legislativa, que poderia vir a chamar-se “lei matrafona”.Sobre a escolha daquele lugar para início da campanha, Ricardo Bernardes explicou que se deve à “prioridade” que a sua equipa dá “aos projetos para os séniores”, “que passam por reforçar concretamente os apoios” a este tipo de instituições.Confrontado o desafio demográfico naquele concelho, o socialista diz que esse “é o grande desafio”, porque a população cresceu. “Esse crescimento deve-se a migrantes, a imigrantes vindos do exterior, mas deve-se sobretudo a migrantes, isto é, a cidadãos nacionais que vêm de outros pontos do nosso território”, como “casais jovens que têm vindo viver” para o concelho, vindos de outros pontos do país. explica.Portanto, para além de “muitos seniores, há uma população que rejuvenesceu”, indica o candidato, assinalando um “lado bom” nesta análise, que é acompanhado pelo verdadeiro desafio: “Necessidade de reforços e infraestruturas, particularmente de escolas.”É aqui que surge a primeira prioridade de Ricardo Bernardes: “a construção de um novo centro escolar, do pré-escolar até ao terceiro ciclo” e a revisão da “carta educativa”, para melhor planear o futuro. O crescimento das infraestruturas também terá em conta a proximidade do novo aeroporto, por enquanto planeado para Alcochete, o concelho vizinho.“Se formos eleitos, nos primeiros 100 dias de mandato, apresentaremos um plano estratégico para orientar aquilo que queremos negociar e reivindicar com o Governo, no sentido de planear no médio prazo as mais valias que o aeroporto nos pode trazer”, garante.Em relação ao maior desafio, que é transversal a todos os concelhos do país, Ricardo Bernardes diz querer responder à habitação “garantindo a execução das candidaturas que o município apresentou este mandato ao PRR [Plano de Recuperação e Resiliência]” e através da atração de investimento privado, até porque, defende, “os privados constroem mais depressa”. De acordo com o candidato, trazer o setor privado para o lado do município passa por “ceder terrenos” para construção, mas também pode passar por “aceitar o pagamento das taxas urbanísticas “em espécie”, e não em dinheiro.Para o candidato, isto aconteceria “através da entrega de fogos que depois o município vai colocar no mercado a preços acessíveis. Pode reduzir ou isentar taxas, nalguns casos, também com a contrapartida dos privados cederem fogos para serem colocados no mercado a preços acessíveis”, conclui.Entre técnico e político“Nós queremos planear o futuro, resolver os problemas do presente e acelerar a recuperação dos atrasos - que estimamos ser de mais de 20 anos - por causa das políticas ruinosas que têm vindo a ser preconizadas aqui no Montijo, principalmente pelo PS”, disse ao DN o candidato da coligação entre PSD e IL à Câmara do Montijo, Pedro Vieira.Com o antagonista identificado - o PS - Pedro Vieira traz consigo a experiência de ter sido vereador naquela autarquia entre 2013 e 2017. No entanto, o candidato social-democrata destaca a sua formação como arquiteto e o facto de a ter exercido na Câmara de Lisboa, junto de Carlos Moedas, como atributo que o coloca à frente nesta corrida eleitoral.Com um olhar muito concreto sobre a habitação, Pedro Vieira assinala que “o Montijo ficou arredado de receber 30 milhões de euros por via do PRR”, enquanto, garante, na Câmara de Lisboa, na qualidade de arquiteto, conseguiu “executar à volta de 300 milhões de euros por via das políticas seguidas pelo executivo do PSD”.“Por exemplo, é preciso fazer habitação cooperativa, e nem estão identificado os terrenos onde se pode desenvolver esses processos”, sublinha, enquanto admite, sobre si próprio, que “é um político estranho”.“Na realidade, eu não sou um grande político, ou seja, a minha capacidade é uma capacidade técnica”, afirma. Questionado sobre se esta sua postura associada à sua formação académica poder configurar uma vantagem em relação aos seus adversários políticos, Pedro Vieira diz que não, apesar de todos os seus argumentos indicarem que sim.“Estou aqui a concorrer contra cinco advogados e um bancário. Portanto, se alguém quisesse defender uma causa em tribunal, provavelmente escolheria um advogado. Mas se quisesse defender uma causa de um futuro de uma cidade ou de um concelho, o que é que escolhia? Escolhia um advogado ou um arquiteto”, pergunta de forma retórica, acrescentando: “Não percebo por que motivo não há mais colegas meus na política.”Uma das críticas mais transversais que o DN encontrou ao Executivo socialista dos últimos 12 anos, repetida pela maioria dos partidos que concorrem à Câmara, é a falta de revisão do Plano Diretor Municipal (PDM), que é uma ferramenta de estratégia e planeamento territorial de cada concelho.“A cidade não está preparada para muita coisa desde há 12 anos”, afirma Pedro Vieira, destacando como primeira prioridade a revisão do PDM, “que está em revisão desde 2004”, lembra.Com a acusação de que o PS “não quis rever o PDM, nem quis que a assembleia municipal se pronunciasse e percebesse o estado dessa revisão”, o candidato social-democrata deixa críticas à “pouca transparência no exercício dessa competência, porque as revisões do PDM devem ser uma coisa transversal a todos os partidos”.“Nós nunca percebemos por que é que ele era guardado a sete chaves, por trás de uma gaveta, e continua a ser”, explica, enquanto faz a ponte entre a necessidade de rever o PDM e dar uma resposta ao desafio demográfico que todos os partidos identificam no concelho.Sobre os adversários políticos que enfrenta, especialmente Ricardo Bernardes, Pedro Vieira recusa a ideia de ter no PS uma candidatura renovada.“Pode ser novo em termos de idade [Ricardo Bernardes tem 38 anos], mas está com as pessoas que sustentam o poder que esteve cá estes anos todos”, acusa o candidato da coligação do PSD com a IL, acrescentando que a equipa socialista “não têm novas ideias”, para além de ter um programa que “vem no esteio” do Executivo anterior.“E a mesma coisa com os independentes”, diz sobre Fernando Caria, o candidato que integra o movimento Montijo com Visão e Coração. Fernando Caria é atualmente o presidente da Junta da União das Freguesias do Montijo e Afonsoeiro, eleito pelo PS há três mandatos, tendo-se desfiliado do partido em 2024, para seguir uma candidatura independente à Câmara.“Estão ali dois PS, que se estão a digladiar pelo poder do Montijo e isso não tem interesse nenhum para o montijense, porque o programa que eles apresentam, a maneira como ele é montado, é a mesmíssima formulação dos anos anteriores. Portanto, os resultados não poderão ser diferentes”, critica, enquanto sustenta que a coligação do PSD com a IL traz um “programa muito fresco, que pretende resolver os problemas do Montijo de uma maneira muito veloz, muito focado nas soluções e pouco focado em erros do passado”.“O meu interesse é perceber se tenho aqui uma solução e se essa solução é adequada, se é focada e se é capaz de ser implementada muito rapidamente para ter resultados”, remata.Montijo “à frente de qualquer partido”“O rumo que eu estava a ver no meu partido, há uns anos largos desta parte, não se coadunava com o meu pensamento sobre o Montijo”, explicou ao DN o candidato à autarquia Fernando Caria, que é o cabeça de lista do movimento independente Montijo com Visão e Coração.Fernando Caria deixou o PS há um ano e meio, no seu terceiro e último mandato como presidente da Junta da União das Freguesias do Montijo e Afonsoeiro.“A experiência que eu tenho vivido deu para confrontar as ideias que o partido tinha e as minhas ideias em relação ao Montijo”, explica, enquanto revela que a origem da sua dissidência começou pela sua participação no Conselho Diretivo da Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE), onde acabou por perceber como é que, “nos outros concelhos”, era a relação entre as câmaras e as juntas.“Falei com quem de direito, expliquei as razões, mostrei o meu projeto, não aceitaram”, insiste, antes de concluir que, “muito antes disso, era montijense”.No entanto, em quatro anos, entre as últimas eleições autárquicas e as mais recentes legislativas, o Montijo mudou. Questionado sobre como espera que seja o desafio eleitoral no município, principalmente depois do voto expressivo no Chega em maio passado, Fernando Caria fala numa “batalha, de veras bastante complicada”.“Até porque, infelizmente, no meu ponto de vista, o crescimento do Chega não é benéfico para a democracia”, considera, ainda que “democraticamente” admita que terá de “aceitar” que haja na corrida eleitoral outros partidos, “mesmo sendo de extrema-direita e acentuando a sua forma de estar na base do populismo e de muitas inverdades”.“Terei que aceitar isto e vamos lutar, ainda com mais força, para tentar que o Chega não chegue a qualquer tipo de vitória”, garante.Num balanço do seu trabalho como autarca, Fernando Caria diz ter passado pelas “dificuldades inerentes a uma junta de freguesia, que poucas competências recebeu da câmara”.Portanto, como uma das prioridades desta campanha, o candidato independente destaca que, se ganhar, as suas “freguesias terão outro tipo de funções”, com mais competências.Questionado sobre que competências vai transferir da câmara para as juntas, Fernando Caria opta por dizer que o objetivo é “dar dignidade”.“As juntas de freguesia, praticamente, servem para angariar votos para o presidente da câmara quanto se candidata às eleições, porque não são chamadas, praticamente, para nada”, critica, antes de descrever parte do trabalho que deveria ter tido como presidente de junta: “Temos a obrigação, por lei, de ser consultados para as obras que o município faz na sua freguesia. Eu, em 12 anos, nunca fui chamado para dar qualquer opinião, ou ser mostrado aquilo que iria ser feito. Era apenas convidado para a inauguração, quando isso acontecia”, aponta.“Não é só passar as competências, é passar as competências com recursos humanos, com recursos financeiros, porque só assim é que uma freguesia consegue, efetivamente, levar a bom porto o seu barco”, justifica, antes de avançar a ideia de que a “higiene urbana” é um tema que tem de ser abordado, passando por uma “modernização dos serviços”.Sobre habitação, Fernando Caria diz ter esperança de que o prazo de execução do PRR seja prorrogado, até porque “é urgente lutar para fazer habitações”.“Tem que haver uma força de vontade muito grande da parte da autarquia, porque nós não podemos só pensar nos nossos cidadãos quando temos eleições preparadas”, conclui.Projeto para três mandatosCom a consciência de que o concelho enfrenta “uma conjuntura complexa”, o candidato da CDU à Câmara do Montijo, Luís Miguel Franco, é o único entre os pretendentes à liderança do Executivo municipal que tem experiência nesta função. Luís Miguel Franco liderou este município entre 2005 e 2017 e garante que esta experiência o coloca em vantagem.“Não quero parecer presunçoso, mas acho que não há comparação entre as competências que eu tenho, porque as adquiri, e as competências dos restantes candidatos”, confessa, acrescentando que “a complexidade da conjuntura” não lhe retira o ânimo, nem a vontade de ter bons resultados”.Luís Miguel Franco diz que tem “um excelente projeto para o Montijo”, que inclui “desenvolvimento económico, social e ambiental”, e é “um projeto para três mandatos”.A estratégia do candidato comunista para o desenvolvimento económico começa logo pelo ordenamento do território e pela revisão do PDM, que, critica, , “ainda tem como referencial a construção do aeroporto na Base Aérea nº 6, quando o Governo já tomou uma nova decisão de construir o aeroporto no Campo de Tiro”.Luís Miguel Franco projeta para o Montijo “a criação de zonas diferentes, zonas para habitação, zonas industriais e zonas também para serviços. Acho que é uma ambição antiga também no Montijo ter uma zona dedicada a um polo tecnológico, com oferta de empresas altamente qualificadas, com a possibilidade de trazer uma instituição de ensino superior”, explica, enquanto defende a construção de um polo com “contornos semelhantes aos que existem, por exemplo, em Oeiras”, mas sem esquecer as pequena e médias empresas.Em relação à habitação, o candidato do PCP defende que, “se queremos oferecer habitação social, habitação a custos controlados, rendas a custos acessíveis, os fundos do PRR são fundamentais”, para além de ser “necessário terrenos públicos que depois possam ser utilizados para a construção de habitação, a custos controlados, a custos mais reduzidos”.Sobre os seus adversários políticos, Luís Miguel Franco deixa uma nota: “Há não muitos anos, um político que mentisse ficaria estigmatizado para o resto da sua vida política por causa dessa mentira. Em relação ao Chega, que mente todos os dias, há tolerância.”Contra a “bandalheira” na imigraçãoSem experiência direta como político - apesar de ter vindo das fileira do CDS, onde chegou a ser dirigente da juventude do partido -, mas com um currículo empresarial sólido e mais de 20 anos como emigrante em África, o Chega apresenta Nuno Valente como candidato à Câmara do Montijo. É assessor parlamentar do partido e não hesita em assumir a nível municipal as bandeiras que o Chega defende a nível nacional.“Quando tomei conta da coordenação do Montijo, éramos cinco. Hoje, já somos umas centenas largas”, descreve Nuno Valente sobre o crescimento municipal do Chega, que ficou espelhado na votação nas legislativas, e depois de ter sido questionado sobre se o partido é de um homem só.O Chega é a única força política que nos cartazes apresentou o líder do partido, André Ventura, ao lado dos candidatos autárquicos. Nuno Valente argumenta que o que move o Chega, e que é a maior “vantagem” do partido, “é que a maior parte das pessoas não tem partido, não tinham partido até aparecer o André Ventura”.“Ao fim e ao cabo, o grande motor do Chega foi o André Ventura, e continua a ser o André Ventura, embora todos nós estejamos à volta dele”, remata.Questionado sobre as prioridades para o concelho, Nuno Valente destaca “a imigração descontrolada”, que diz ser mais evidente em Pegões e na baixa do Montijo.“É uma imigração diferente. E hoje já vêm a querer impor as ideias deles”, diz sobre os hindustânicos, comparando com a sua própria experiência em Angola.“A esquerda fala muito na violência doméstica. Isto são povos que não têm respeito nenhum pelas mulheres”, aponta, enquanto revela que até já assistiu a casos em vários locais.Como argumento, Nuno Valente, aludindo a declarações anteriores do Chega, explica que, “dos quase dois milhões de imigrantes que temos cá, só contribuíam [para a Segurança Social] efetivamente 500 mil ou 600 mil. O que é que os outros estão cá a fazer? Não dá”, remata.De acordo com os dados da Segurança Social, em 2024, havia 4.532.109 “beneficiários ativos nacionais”, enquanto havia 1.053.020 “beneficiários ativos estrangeiros”.Para além de defender a resposta à imigração, Nuno Valente recorre também a outra das bandeiras do Chega como uma das suas prioridade: combate à corrupção, a começar pela câmara municipal.“Sou adepto dos nórdicos nesse aspeto. Numa câmara municipal, as despesas do presidente, do gabinete ou dos vereadores, são publicadas no site. Isto tem que ser claro. E nós queremos fazer isto não só para o gabinete do presidente, mas também em tudo o que são adjudicações. Tudo clarificado”, promete, acrescentando que é prioritário dar condições à PSP e à GNR para desempenharem as suas funções, principalmente no que diz respeito a renovação das esquadras.Em relação à habitação, Nuno Valente admite que é “verdadeiramente de direita”. Por isso, vinca que “o Estado não tem competência para construir”, pelo que defende investimento privado nessa área..Barracas em Almada e Imigração são armas de arremesso autárquico.Filipe Araújo: “Intimamente, sempre senti o apoio de Rui Moreira. Não por acaso, escolheu-me para seu vice-presidente”