Qual é a principal razão que o leva a considerar que António José Seguro é o candidato mais indicado para ser o próximo Presidente da República?Há várias. A primeira é a honestidade, a segunda é a independência, a terceira é o conhecimento profundo da política portuguesa, e a quarta é o conhecimento acertado do que é o Estatuto do Presidente da República. A principal é a honestidade, que está à vista de todos. A primeira virtude do Presidente da República é ser honesto. Para com as instituições e os cidadãos que representa. Estas qualidades fazem dele o candidato ideal. No presente e, fundamentalmente, no futuro. Portugal terá desafios muito complexos, e é necessário que o Presidente da República tenha a capacidade política de os entender, e de fazer os consensos necessários para ultrapassar divergências que seguramente se irão colocar. Não há dúvida de que é a pessoa mais indicada para o fazer.As sondagens indicam que a sua passagem à segunda volta parece incerta. O que se pode fazer para mobilizar eleitores?O que é importante, em meu entender, é que quem irá votar perceba a decisão que vai tomar, em função dos candidatos. Que, ao olhar para Marques Mendes, veja um político, que foi presidente do PSD, e um advogado, não tanto na barra dos tribunais, mas a advogar interesses, o que é legítimo, mas tem a ver com o seu perfil . Quem olhar para o líder do Chega vê um populista puro, inserido numa rede mundial. Aquilo que André Ventura representa tem hoje repercussões na Europa, como se vê em Espanha, na Alemanha, em Inglaterra e em França, e no mundo, como se vê em Trump. Já o almirante [Gouveia e Melo] é uma pessoa independente, um homem de uma seriedade exemplar, sem dúvida nenhuma - tenho um respeito muito grande por ele -, mas a verdade é que se vê nos debates que não está convenientemente preparado para funções decisivas perante os problemas que Portugal terá. Fica Seguro, que foi secretário-geral do PS, conhece o país e as instituições, e tem grande capacidade de diálogo e de fazer consensos.A passagem de Seguro pelo PS criou-lhe muitos anticorpos em apoiantes de José Sócrates e de António Costa. O seu apoio pode recuperar alguns deles?Como sabe, eu não sou militante.Mas foi um dos principais autarcas do partido...Estive 12 anos à frente de uma Câmara apoiada pelo PS, e conheço alguma coisa do partido. É um partido de liberdade, em que as pessoas têm ideias e seguem-nas. Talvez fosse mais útil não as exprimirem publicamente em alguns momentos, mas cada um pensa legitimamente aquilo que entende. Creio que, no momento do voto, perante as alternativas que se colocam, mesmo as pessoas que não gostam de António José Seguro, por razões históricas que não vale a pena recordar, não vão pensar só nele. Podem não amar Seguro, mas amam o PS. E vão perceber que a sua eleição, além de muito importante para o país, é decisiva também para o PS. As presidenciais podem ser um grande momento de recuperação. Quem gosta do partido percebe a importância das eleições e não deixará de dar o seu contributo. Estou convencido disso. Conheço António Costa há muitos anos, tenho por ele grande consideração e respeito, e estou perfeitamente convencido de que, melhor do que ninguém - tal como as pessoas que lhe são próximas - perceberá a importância destas eleições para o PS.Arrisca dizer que António Costa votará em António José SeguroArriscaria. Repare que quando Mário Soares enfrentou Freitas do Amaral [na segunda volta das presidenciais de 1986], Álvaro Cunhal disse aos eleitores do PCP para votarem, não na pessoa, mas no projeto que representava. Estou convencido de que, num partido que precisa de recuperar, mesmo quem entende que Seguro não é o melhor candidato tem de ajudar na recuperação em curso do PS.Tendo em conta a abundância de alternativas à esquerda, qual é a importância para Seguro de reunir votos ao centro?António José Seguro não cede naquilo que considera serem valores essenciais. É um democrata puro, um homem da liberdade, que não é populista, não facilita na política, e pensa na comunidade que vai representar. Dentro destes parâmetros, de certeza que falará com todos. Mas aquilo que temos visto, à exceção do senhor almirante, com toda a franqueza, parece uma campanha eleitoral para as legislativas.Já ponderou em quem votará se Seguro não for à segunda volta?Só pondero votar em António José Seguro. Se for à segunda volta, é evidente que votarei nele. Se não for, o que seria uma grande injustiça, nessa altura se verá.Há algum candidato presidencial que lhe meta mais medo?No Palácio do Belém deve estar alguém que perceba que a luta pela igualdade de oportunidades é uma das razões da democracia e que tenha uma grande atenção por aqueles que mais sofrem com uma crise económica. É muito importante que tenha esse sentido social. Por exemplo, Cotrim [de Figueiredo] passa a imagem de ser muito desligado da noção de que a liberdade sem direitos sociais não é liberdade. António José Seguro é exatamente o contrário, e isso será muito importante num Presidente da República no caso de haver uma crise, o que é muito provável que nos próximos cinco anos venha a acontecer.Ficaria tão preocupado com um Presidente Cotrim como que com um Presidente Ventura?Não. Ventura preocupa-me bastante mais. Não conheço Cotrim suficientemente bem, mas a imagem que passa nos debates é de uma grande confiança em si próprio, para não dizer egocentrismo. Mas é um democrata e um homem da liberdade. Já André Ventura tem um conceito de liberdade muito próprio.