Ainda que assumam que não há pausas na vida política, entre agosto e setembro os partidos assinalam sempre um regresso tácito às rotinas, a começar já esta semana, no dia 14 de agosto, com a tradicional Festa do Pontal, do PSD, no calçadão de Quarteira - Toy é a cabeça de cartaz -, que contará com a mensagem reveladora de intenções do líder social-democrata, Luís Montenegro, num ano em que confirmou a sua manutenção como primeiro-ministro. Depois, segue-se a Universidade de Verão do PSD e, em substituição da habitual Academia Socialista, o PS leva a Coimbra uma convenção nacional autárquica. E é a pensar nas eleições autárquicas de outubro que acontece a maior celebração partidária em Portugal: A Festa do Avante!, do PCP, sempre no primeiro fim de semana de setembro, com um cartaz cultural eclético que rivaliza com festivais de verão, mas com o habitual comício como ponto alto, com a mensagem do líder comunista, Paulo Raimundo. Já o BE, no final de agosto, ruma a Coimbra para mais um Fórum Socialismo, com um forte contributo de forças internacionais de esquerda.Com uma aposta na formação cívica de 100 jovens, o PSD promete levar a Castelo de Vide , entre 25 e 31 de agosto, “uma semana intensiva, com oito aulas, cinco jantares-conferência, dez simulações de assembleia, três workshops e a apresentação de trabalhos de grupo”, descreveu ao DN o reitor da Universidade de Verão do partido, o antigo eurodeputado social-democrata Carlos Coelho. A servir de base a tudo isto, os jovens participantes têm um jornal diário e um canal de televisão interno, para assegurar a formação e garantir que o “talento” é aproveitado.A fórmula da Universidade de Verão é a mesma dos anos anteriores, explica Carlos Coelho, enquanto destaca as três características que distinguem o evento deste ano dos anteriores.Em primeiro lugar, sustenta, Portugal esta a atravessar “um novo ciclo governativo”, com “maior estabilidade política”. É por este motivo que a Universidade de Verão contará com “mais membros do Governo no programa”, e não só.Além do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, o ministro da Economia, Manuel Castro Almeida, o ministro da Reforma do Estado, Gonçalo Matias, a ministra da Cultura, Margarida Balseiro Lopes, e o ministro da Educação, Fernando Alexandre, o painel da Universidade de Verão contará ainda com a intervenção do secretário de Estado da Energia, Jean Barroca.No entanto, a linha de referência dos sociais-democratas neste momento de regresso às lides políticas passa também pelas eleições presidenciais, em 2026. É assim que o candidato do PSD ao Palácio de Belém, Luís Marques Mendes, fará parte deste elenco.Por outro lado, a pensar nas autárquicas, agendadas para 12 de outubro, no “jantar formal de abertura o convidado de honra será o engenheiro Carlos Moedas, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa”, diz Carlos Coelho, acrescentando a esta lista o antigo ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, que agora é candidato à Câmara do Porto. É na qualidade de “especialista em questões relacionadas com as novas tecnologias” que “vai dar a aula de Inteligência Artificial”, frisa o reitor da Universidade de Verão do PSD.Como é habitual, este regresso social-democrata conta também com personalidades de outras forças políticas. E é para dar a aula de Relações Internacionais, “dedicada aos radicalismos no mundo”, onde também entra Paulo Rangel, que o PSD conta com Nuno Severiano Teixeira, que foi ministro do PS, “quer na área da Defesa, quer na área da Administração Interna”, conclui Carlos Coelho.Adaptação ao momentoA par da Universidade de Verão do PSD, costuma decorrer a Academia Socialista, do PS. No entanto, o recém-líder socialista, José Luís Carneiro, optou por realizar “uma convenção nacional autárquica no próximo dia 6 de setembro, em Coimbra”, explicou ao DN o coordenador do PS para as autárquicas, André Rijo.Depois das eleições legislativas de maio, que deixaram o PS como terceira força política, pelo menos em termos de mandatos, o partido liderado por José Luís Carneiro apostas as fichas nas próximas eleições, e é por isso que pretende “afirmar-se como um partido profundamente autárquico”, até porque é “o principal partido autárquico português e pretende continuar a ser um partido marcante”, argumenta André Rijo, enquanto garante que a Convenção Socialista será “um marco muito importante”.Para já, antecipa o também deputado socialista, a convenção arranca dia 5 de setembro, “com um jantar-debate”. Depois, no dia seguinte, haverá seis painéis temáticos”, que vão “abordar temas relevantes do ponto de vista autárquico e não só”. Num desses momentos, decorre a “assinatura de uma Carta de Compromisso que terá entre 10 a 15 princípios-chave do autarca socialista e, no fundo, vincula o autarca socialista àquilo que é a prosseguição do próximo mandato”, completa André Rijo. E isto é algo que vai acontecer “em parceria com o meio académico e com as estruturas locais do PS, quer com a Associação Nacional de Autarcas do Partido Socialista”, quer com os socialistas que integram a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e a Associação Nacional de Freguesias (Anafre).Entre homenagens a antigos líderes da ANMP e Anafre, debates e “conteúdos programáticos”, a convenção deverá cumprir o objetivo de mobilizar todos os candidatos a nível nacional num “momento de reflexão conjunta”, para enfrentar o “desafio das eleições”, assume André Rijo.No que diz respeito a contributos externos, o PS opta por levar à convenção apenas parceiros do Partido Socialista Europeu e representantes da família socialista no Parlamento Europeu, o grupo dos Socialistas e Democratas (S&D), que vão debater “políticas europeias que impactam nas políticas territoriais”, nas suas várias dimensões, adianta André Rijo.Música e política no SeixalÉ também a olhar para as autárquicas que o PCP ergue a maior festa partidária em Portugal. A Festa do Avante! continua a decorrer na Quinta da Atalaia, na Amora, Seixal, e assinala este ano a sua 49.ª edição, nos dias 5, 6 e 7 de setembro. Os comunistas não entendem esta festa como um “rearranque”, mas é “um ponto alto do PCP que marcará os aspetos centrais da intervenção política do partido”, explicou ao DN o membro da Comissão Política do Comité Central do PCP Vasco Cardoso.O PCP é um dos dois partidos, até ao momento, que apoia formalmente um candidato presidencial. Apesar de António Filipe estar na corrida a Belém com o apoio comunista, Vasco Cardoso considera que esse desafio eleitoral “tem o seu registo próprio” e está para “além do PCP”, até porque é uma candidatura em nome próprio. Por isso, “é evidente que as prioridades estão colocadas nas eleições para as autarquias locais”, sublinha. Ainda assim, Vasco Cardoso garante que António Filipe, que tem estado no terreno a ouvir as pessoas, já transmitiu que “a sua candidatura está a confirmar as possibilidades que tem de ser um grande espaço de convergência democrática”.“Só pode crescer nos próximos meses”, assevera.Numa alusão às “grandes responsabilidades do ponto de vista autárquico” que tem a CDU (a coligação eleitoral que o PCP mantém com o Partido Ecologista Os Verdes), Vasco Cardoso faz um balanço da corrida às autarquias. “A CDU dirige 19 câmaras municipais, umas largas dezenas de juntas de freguesia, tem milhares de eleitos por todo o país com um projeto distinto dos do PS e PSD, e queremos afirmá-lo”, revela o dirigente comunista, enquanto destaca a ambição do partido concorrer a todos os municípios do país, até porque as eleições de outubro “vão definir o ciclo autárquico para os próximos quatro anos”.Questionado sobre se o partido está a ser pressionado com a nova configuração parlamentar que saiu das legislativas de maio, Vasco Cardoso desabafa que “é melhor ter uma série de deputados do que três”. Porém, “independentemente do número de deputados, temos uma exigência muito grande que nos colocamos a nós próprios do ponto de vista de iniciativa política e legislativa”, garante..Por tudo isto, o PCP promete estar focado no debate em torno do Orçamento do Estado, que decorrerá em paralelo com a campanha autárquica, e sempre com um olho posto num “país marcado por baixos salários e crescentes dificuldades reveladas pelo aumento do custo de vida, e num quadro em que o Governo se prepara para desenvolver um ataque fortíssimo à legislação laboral”.Na “linha de intervenção “ comunista, continua Vasco Cardoso, haverá ainda margem para continuar a lutar pelo Serviço Nacional de Saúde, para combater a falta de professores e outros profissionais nas escolas e contra as privatizações, como a da TAP.Por fim, Vasco Cardoso promete que a intervenção do PCP será assente “na luta pela paz, na recusa de acorrer aos armamentos e ao militarismo, que se traduzirá - se não for entretanto interrompida - numa degradação das condições de vida do nosso povo”.BE focado no momentoÉ perante um “quadro internacional muito difícil, muito marcado pelas guerras, pela questão do crescimento da extrema-direita”, que, entre 30 e 31 de agosto, decorre o Fórum Socialismo, promovido pelo BE, este ano em Coimbra.Haverá uma “sessão plenária com Catarina Martins e Thiago Ávila, um ativista que esteve na Flotilha pela Liberdade e que, quando tentou chegar a Gaza, foi preso pelo governo israelita”, porque, justifica ao DN o dirigente do BE Adriano Campos, é muito importante para o partido “ter esse momento de afirmação pelos direitos do povo de Gaza”.Ainda com uma visão sobre o mundo, Luís Fazenda e José Manuel Pureza vão falar “sobre Trump e a desordem internacional”.A Marisa Matias junta-se a antiga ministra da Saúde do PS Marta Temido, sustentando a tradição deste evento bloquista em trazer convidados exógenos ao partido.“Não são vozes que necessariamente concordem com o Bloco”, lembra Adriano Campos, revelando a “certeza de que Marta Temido será uma oradora capaz de trazer uma perspectiva diferente a este debate”.No plano nacional, as atenções vão estar viradas para “os anos de oposição que o Bloco tem pela frente”. “Achamos que o Bloco de Esquerda tem condições para marcar as suas posições nesse quadro de oposição”, garante o dirigente do BE, antecipando painéis que integram os economistas Alexandre Mergulhão e Madalena Figueira, “que vão falar sobre a carga fiscal em Portugal”, o que também vai marcar o ritmo político do partido.“Seria inevitável falarmos sobre a alteração às leis laborais, este grande ataque que o Governo está a fazer”, atira Adriano Campos, tal como já prometera fazer o PCP. Haverá ainda lugar para debater o feminismo, com “Inês Marinho e Mariana Jones, para falar sobre a questão do assédio, da luta feminista, das novas masculinidades”, continua Adriano Campos, que não esquece o tema quente do momento, e com uma estratégia diferente: “Vamos partir para estas eleições autárquicas com um número considerável de coligações, nomeadamente com o Livre e com o PAN.” Mas será a disputa eleitoral em Lisboa que marcará o ritmo de outubro para o BE. “É uma disputa real, acreditamos que é possível criar na capital do país um clima de respiração face àquilo que é a hegemonia da direita”, assegura.“E teremos o tema das presidenciais, que estará em cima da mesa e que será um tópico que o Bloco de Esquerda terá de traçar na segunda metade do ano”, afirma, sem revelações.O que falta revelarO PAN organizará uma conferência no dia 12 de setembro, com o objetivo de assinalar os 30 anos da lei de proteção animal, enquanto o Livre prepara um regresso para os dias 6 e 7 de setembro, sem ainda revelar se será mais uma edição da tradicional celebração do partido: Os Setembristas.O Chega, para já, mantém-se fechado em copas, enquanto a IL promete um regresso a 30 de agosto, em Albufeira, que, de acordo com fonte liberal, poderá ser a tradicional festa A’Gosto da Liberdade, mas com uma única certeza: serão discutidas “as prioridades políticas do partido para o novo ano”.Já o partido que há menos tempo tem assento parlamentar, o JPP, explicou ao DN que “não vive de arranques, porque está sempre em movimento”.“Continuamos a trabalhar no terreno, a ouvir, a propor e a estar presentes. Setembro será apenas mais um capítulo dessa missão, com os pés bem assentes na Madeira e os olhos postos no país”, garantiu ao DN o JPP..Directas no PSD fazem ressuscitar Festa do Pontal.Autárquicas. PS faz queixa de ministro Pedro Duarte por “uso do aparelho de Estado” para campanha .Festa do Avante apresenta cartaz com A Garota Não, Capicua, Brigada Víctor Jara e Stereossauro