Mais de um terço dos dez primeiros candidatos das nove listas que se apresentam à Câmara de Lisboa residem fora da capital, ou pelo menos estão recenseados noutros concelhos. Consultada a documentação entregue no Palácio da Justiça de Lisboa pelos partidos e coligações que a 12 de outubro disputarão a maior autarquia nacional, fica claro que a dificuldade em encontrar casa na cidade, que tem perdido habitantes nas últimas décadas, também se aplica a quem a pretende governar nos quatro próximas anos.Desde logo, nas listas da coligação Por Ti, Lisboa, formada pelo PSD, CDS-PP e Iniciativa Liberal (IL), com vista a assegurar um segundo mandato para o social-democrata Carlos Moedas, atual presidente da autarquia. Natural de Beja, que trocou pela capital devido aos estudos universitários, o antigo comissário europeu é residente na freguesia lisboeta de Campo de Ourique, mas quatro dos seus potenciais vereadores - há quatro anos, a coligação de centro-direita elegeu seis além de si, que agora não esconde a ambição de ter um executivo municipal maioritário - estão recenseados noutros concelhos. A independente que surge em terceiro lugar, Joana Baptista, “recrutada” à Câmara de Oeiras, vive em Porto Salvo, enquanto o também independente Vasco Moreira Rato é de Algés, também no concelho de Oeiras, mas mesmo junto à capital. Do concelho de Cascais são o liberal Vasco Anjos, recenseado na freguesia de São Domingos de Rana, e o atual vereador Rui Cordeiro (10.º da lista da Por Ti, Lisboa e com menores probabilidades de reeleição direta), que é de Carcavelos. Pelo contrário, entre os residentes na capital que contam integrar o executivo camarário do candidato à reeleição estão o seu novo número dois, Gonçalo Reis, que vive na freguesia da Misericórdia, o liberal Rodrigo Mello Gonçalves (Campolide), os centristas Diogo Moura (Arroios) e Maria Luísa Aldim (Areeiro) e a independente Ana Gattini (Benfica).Já os dez primeiros candidatos da coligação Viver Lisboa, que volta a juntar o PS ao Livre, mas desta vez agrega ainda o Bloco de Esquerda e o PAN, vivem todos na capital, sendo a única lista em que tal acontece. Desde a cabeça de lista Alexandra Leitão, lisboeta de nascimento e residente na freguesia de Belém, às restantes escolhas do PS, como Sérgio Cintra e Carla Madeira (Marvila), ou Pedro Anastácio (Carnide), e também aos parceiros de outros partidos colocados em lugares elegíveis, embora uns mais do que os outros: Carlos Teixeira (do Livre, em quinto), Carolina Serrão (do Bloco de Esquerda, em sexto) e António Morgado Valente (do PAN, em oitavo). Até hoje, nenhum partido ou coligação elegeu mais de 11 dos 17 elementos da vereação da Câmara de Lisboa, com o máximo a ser estabelecido por António Costa nas autárquicas de 2013. Mas o atual presidente do Conselho Europeu, que da Praça do Município viria a passar para a residência oficial do primeiro-ministro, chegou a ser exceção à habitual prática socialista de ter candidatos residentes na capital, pois em 2007 morava no concelho de Sintra.Perto de ser exclusivamente constituída por lisboetas é também a lista da CDU, que apresenta nos dois primeiros lugares os atuais vereadores João Ferreira (residente na freguesia do Lumiar) e Ana Jara (que vive em Arroios). De fora da capital só a quinta da lista, Marta Boavida, recenseada em Loulé e natural de Portimão, e a nona, Isabel Barbosa, residente em Almada. Mas a primeira é uma estudante da Faculdade de Letras de Lisboa, enquanto a segunda é dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses e membro da Direção da Organização Regional de Lisboa do PCP.Por seu lado, o Chega, que em 2021 não conseguiu nenhum vereador e agora espera beneficiar do crescimento de votos verificado nas três eleições legislativas realizadas desde então, apresenta como candidato à presidência Bruno Mascarenhas, deputado municipal do partido. Já a segunda da lista, a dentista Ana Simões da Silva, é residente em Belas, no concelho de Sintra, enquanto o terceiro, Luís Pedro Alves, está recenseado em Cantanhede, que fica no distrito de Coimbra, e a sétima, Isabel Guimarães, numa localidade do concelho de Grândola. Curiosamente, entre os residentes em Lisboa há nascidos no Brasil e na Turquia..Monárquicos açorianos.Entre os partidos e coligações que terão menores hipóteses de eleger vereadores encontra-se a única candidata à presidência recenseada noutro concelho: a cantora Adelaide Ferreira, cabeça de lista do Alternativa Democrática Nacional (ADN), é de Cascais. E o partido conta, entre os restantes nove primeiros candidatos, com três que vivem em Alcochete e dois de Oeiras.A prevalência de candidatos à Câmara de Lisboa que não residem na capital repete-se no Nova Direita, embora a cabeça de lista (e líder partidária) Ossanda Liber, nascida em Angola, que enfrentou Carlos Moedas e Fernando Medina em 2021, na altura como independente, resida na capital. Metade dos dez primeiros candidatos vivem nos concelhos de Sintra, Torres Vedras e Amadora. E no RIR - Reagir, Incluir, Reciclar são quatro os “não-lisboetas”, incluindo a líder do partido, Márcia Henriques, residente na Atouguia da Baleia (Peniche), que surge logo atrás do cabeça de lista Luís Mendes.No caso do paneuropeísta Volt Portugal, a lista encabeçada pelo lisboeta José Almeida tem três dos dez primeiros candidatos fora da capital. E a número quatro, Ana Carvalho, que foi copresidente desse partido até 2024, encontra-se mesmo fora do território nacional. A documentação entregue ao tribunal apresenta a engenheira de energias renováveis como residente numa localidade da Catalunha, no outro lado da Península Ibérica. No caso da lista apresentada pelo Partido Popular Monárquico (PPM) e pelo Partido Trabalhista Português (PTP), que pretendia utilizar a designação Democrática Aliança, a informação sobre a residência dos seus candidatos foi completamente rasurada, ao contrário da sua naturalidade.Contactado pelo DN, o presidente do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, garantiu que quatro dos dez primeiros nomes apresentados a votos para a Câmara de Lisboa, incluindo o cabeça de lista Tomás Ponce Dentinho, professor da Universidade dos Açores, é residente na cidade que se dispõe a liderar nos próximos quatro anos. Mas a maioria dos candidatos são naturais e residentes nos Açores, onde os monárquicos mantêm peso eleitoral e integram o executivo regional de José Manuel Bolieiro. .Quem mora fora de Lisboa?.Por Ti, Lisboa (PSD-CDS-IL)Joana Baptista3.º lugar Porto Salvo (Oeiras)Vasco Moreira Rato 7.º lugarAlgés (Oeiras)Vasco Anjos 9.º lugarSão Domingos de Rana (Cascais)Rui Cordeiro 10.º lugarCarcavelos (Cascais)Viver Lisboa (PS-Livre-BE-PAN)Todos os dez primeiros candidatos residem em LisboaCDUMarta Boavida5.º lugarPortimãoIsabel Barbosa9.º lugarAlmadaChegaAna Simões da Silva2.º lugarBelas (Sintra)Luís Pedro Alves3.º lugarCantanhedeIsabel Guimarães7.º lugarGrândolaADNAdelaide Ferreira1.º lugarCascaisVanda Martins4.º lugarAlcocheteRodolfo Rodrigues5.º lugarAlcocheteJoana Silva7.º lugarCarnaxide (Oeiras)Marta Neves9.º lugarCarnaxide (Oeiras)Nuno Trindade Santos10.º lugarAlcocheteNova DireitaPedro Godinho2.º lugarMassamá (Sintra)João Andrade5.º lugarTorres VedrasMaria Vasconcelos6.º lugarQueluz (Sintra)Tomás Miguel7.º lugarTorres VedrasRita Ferreira Costa10.º lugarAmadoraPPM-PTPSara Luís4.º lugarHortaMarcos Pereira5.º lugarHortaAndreia Leite6.º lugarPonta DelgadaNuno Ferreira7.º lugarPonta DelgadaMaria João Domingos8.º lugarSanta Cruz das FloresMaria Dias Garcia10.º lugarHortaRIRMárcia Henriques2.º lugarPenichePedro Serrano Silva5.º lugarOdivelasAna Lopes Teixeira6.º lugarOdivelasThiago Mesquitela7.º lugarSão Domingos de Rana (Cascais)Volt PortugalAna Carvalho4.º lugarCatalunhaTânia Girão8.º lugarMontijoVasco Capela9.º lugarBarreiro