António Pina assume que só queria coligar-se com o Livre, mas que a união não foi possível. O candidato socialista lidera Olhão há 12 anos e agora tenta rumar à cidade onde vive, criticando os adversários de circunstância e rejeitando que os farenses o vejam como rival.Foi presidente por 12 anos em Olhão. Não teme ser visto como um não farense ao território? Sou o único que vive em Faro. Cristóvão Norte vive há muitos anos em Lisboa. Até há seis meses dava entrevistas a dizer que não seria candidato. Andou a pressionar Macário Correia [ex-presidente e candidato à Assembleia Municipal pelo PSD] para ser ele o candidato. Nem Cristóvão Norte nem Pedro Pinto têm alguma experiência autárquica e os farenses sabem que têm um compromisso é com os seus partidos. Os farenses têm a noção de que estão numa fase em que vão contratar o CEO para os próximos 12 anos e não podem voltar a falhar. Todos os dias, quando ando na rua, as pessoas deixam-me esse desafio para fazer em Faro aquilo que fiz em Olhão.Livre, Bloco e PCP têm candidaturas próprias. Não tentou estabelecer acordos à esquerda?Não estamos necessariamente dispostos a juntarmo-nos com toda a esquerda. Ainda fizemos uma abordagem ao Livre, do ponto de vista programático as diferenças eram mínimas, mas foi vontade da Direção do Livre fazer um caminho sozinho.Compreende a opção de o PAN estar na coligação do PSD?Não obstante a causa animal e o ambiente, o PAN em Faro é contra o desenvolvimento da frente ribeirinha e da marina. Portanto, os farenses passam a saber que a única candidatura que defende a revitalização das frentes ribeirinhas e a náutica de recreio é o Partido Socialista, porque o Cristóvão Norte tem escondido esse facto dos farenses. Há um processo para a construção de uma nova frente ribeirinha e esse projeto tem uma providência cautelar, de suspensão por parte de organizações ligadas ao ambiente, de que fazem parte pessoas do PAN. Com o PAN nessa coligação não há frente ribeirinha.Pretende retirar os habitantes da Horta da Areia para construir uma marina?Queremos um turismo de grande qualidade, que se desenvolverá no espaço onde hoje é a Horta da Areia. É preciso chamar os proprietários daqueles terrenos, alguns são do município, ter um plano para urbanização e desenvolvimento turístico da zona, onde uma parte das mais-valias seja atribuída ao município através de taxas para depois investir na requalificação da zona urbana. Queremos ter uma marina interior, com cinco grandes iates, como Vilamoura. Isso implica desalojar cidadãos.É possível requalificar o espaço e, naqueles que são os lotes do município, fazer a integração daquelas 50 famílias, em vários blocos de apartamentos, sem ser necessário continuar o modelo antigo de habitação social onde colocamos todos no mesmo sítio. A segregação é um dos grandes problemas do país.Quantos fogos de habitação prevê ter?Propomos a construção de habitação a custos controlados e, se houver possibilidade financeira no município, o ideal era que 10 a 15% dessas habitações ficassem para arrendamento acessível. Pretendemos construir 1000 fogos. É um objetivo difícil, mas o município de Faro tem dois loteamentos para moradias, que pretendemos alterar para aumentar o número de casas e chegarmos aos 750. Existem mais 250 possíveis noutras áreas.Será fácil negociar com Luís Montenegro?O Governo não tem intenção de continuar a financiar a habitação. O que vai criar é uma linha para que os municípios se endividem. É por isso que o nosso modelo assenta na construção de habitação para venda. Gostaríamos de ter construção para mais arrendamento, mas aquilo que se exige é que sejamos financiados a fundo perdido, como foi no âmbito do PRR, com mais de 25 mil fogos. Para termos habitação de renda acessível, é preciso mudar a Lei das Finanças Locais e esta subsidiação por parte do Estado. Cristóvão Norte diz negociar com Montenegro e representar Faro no Parlamento.É mais um embuste. Se tivesse verdadeiramente esse peso político, Cristóvão Norte teria sido o cabeça de lista por Faro às legislativas de há um ano. Não quero ser desagradável e dizer aquilo que sei que muitas das pessoas da estrutura do PSD julgam de Cristóvão Norte. Macário Correia foi altamente pressionado por todos para ser candidato, acaba por ser candidato à Assembleia, mas nas conversas que tive com ele sei quem ele considerava a pessoa mais capaz para liderar a Câmara de Faro. Tenho até algumas coisas escritas por ele.Onde aposta na mobilidade?Faro precisa de melhorar transportes públicos, propomos a redução de tarifas em 50%, a construção da 3.ª Circular e acesso direto à Via do Infante desde Faro. Torna-se mais premente com a deslocalização do hospital. Vão morrer pessoas nas ambulâncias se não for conseguido isso.É a imigração que justifica o voto dos algarvios no Chega?O Partido Socialista abriu as portas por ceder aos empresários que precisavam de mão de obra barata. Não estamos preparados para receber mais e é preciso estancar. Temos preocupações com grupos ligados ao tráfico de droga. Esse clima contribui para os votos no Chega, mas o Algarve sempre sentiu falta de apoio do Governo. O partido que consegue protagonizar, mesmo de forma populista, é o Chega, mas não tem preparação nem princípios democráticos que os portugueses lutaram para ter.Será uma luta a três a eleição para a Câmara Municipal? Não. Os farenses levariam as mãos à cabeça no dia 13 se as pessoas que nada têm a ver com a cidade fossem eleitas. Pedro Pinto foi candidato a Beja [cabeça de lista para as Legislativas de 2019], Portalegre [Autárquicas’2021], vem aqui fazer um serviço político. E estão desejosos de uma mudança e reconhecem que não é com Cristóvão Norte, que tem uma ligação a estes 16 anos de governação PSD.Ficará como deputado se perder as eleições? Com certeza. É aqui que vivo, que tenho contrato de arrendamento para cinco anos. Sou funcionário da Associação de Municípios. Há mais de 25 anos que trabalho em Faro. Sou o único que continuarei a trabalhar e a viver em Faro.Aceitaria pelouros? Depende das circunstâncias, gosto do trabalho autárquico. Se fizer sentido, que não prevejo que aconteça, claro que sim, se puder ajudar os farenses. ."Os farenses levariam as mãos à cabeça no dia 13 se as pessoas que nada têm a ver com esta cidade fossem eleitas"António Pina, candidato do PS a Faro.Autárquicas. À beira da Ria Formosa surge uma luta a três, com Chega e PS a desafiarem domínio do PSD .Faro. Cristóvão Norte: "O candidato com maior influência política sou eu".Montenegro de mãos dadas com Cristóvão Norte no Algarve: promessas antes das autárquicas em Faro.António Pina: Presidente da Polis Ria Formosa não tinha condições para o cargo