A surpresa aconteceu na noite de terça-feira e André Moz Caldas, da segunda lista mais votada à Assembleia Municipal de Lisboa no dia 12 de outubro, passou a ser o presidente do órgão. Tal como o DN adiantara enquanto Carlos Moedas tomava posse como presidente de Câmara, existiam negociações para que o socialista, apoiado por PS, Livre, Bloco de Esquerda e PAN, pudesse ter apoios da CDU para uma maior expressão à esquerda. E confirmou-se o cenário: dos 75 votos, sete ficaram em branco ou foram nulos e a coligação Viver Lisboa derrotou a Por Ti, Lisboa por 37-31. “Sabia que era uma possibilidade real, tentámos, primeiro, uma solução mais plural com o PSD, mas não foi possível. Decidimos apresentar uma lista alternativa. É claro que não estava convicto de que venceria, acaba por ser uma surpresa”, começa por adiantar André Moz Caldas ao Diário de Notícias, prosseguindo depois com os detalhes dos encontros com elementos do PCP para efetivar uma parceria que, para a Câmara, também foi tentada pelo PS, mas rejeitada pelos comunistas. “Estive presente nessas conversas, tentámos uma mesa com uma configuração próxima, mas a CDU reservou o sentido de voto para o momento da votação”, elucida, repetindo que esses mesmos votos não eram conhecidos por “não se tratar de um acordo formal”, afirmando, categoricamente, que “não existiram conversas com o Chega.”O antigo secretário de Estado, pessoa importante na coordenação de programas eleitorais do PS, aborda o futuro. Sobre um reequilibrar de poderes na Assembleia, enquanto na Câmara Moedas tem oito vereadores, vinca que o presidente da Assembleia “não fixa isoladamente a agenda” e que “depende dos grupos municipais a fiscalização.” Promete, sim, “criar todas as condições para que a Assembleia o faça em pleno”, procurando garantir que existirá “apoio técnico e político, recursos para a fiscalização e que todo o potencial do regimento é cumprido”. Moz Caldas expressa ainda a vontade de “ter uma porta aberta à cidadania”, convidando crianças e jovens para o efeito.Mas se há expetativa que seja, ele próprio, fiscalizador, Moz Caldas diferencia papéis. “Depende de mim dar condições aos grupos para fiscalizar. Mas não sou eu a oposição ao presidente da Câmara. Estou empenhado numa fiscalização robusta, mas serena. Não esperem de mim puxões de orelhas pouco institucionais”, responde ao DN, assinalando a “cordialidade” no “telefonema matinal de Moedas” para o parabenizar pela eleição.O único reparo ao edil reeleito passou pela representatividade no órgão: “Manifestarei a importância do respeito pela Assembleia, espero que o presidente possa estar nas reuniões. Tem possibilidade de se substituir, mas tem poder e dever de representar a Câmara na Assembleia. Seria um gosto vê-lo mais vezes do que no mandato anterior.”O desenrolar da noite: PCP com sete votos no PS, Chega 'desforra-se' da recusa de MoedasO PCP, com seis deputados provenientes da votação para a Assembleia, e um pela vitória da freguesia de Carnide, entregou os sete votos a Moz Caldas, confirmou fonte do partido ao DN. “Não tendo sido aceite a proposta uninominal do PCP, entendemos que o nosso sentido de voto deveria ter em consideração elementos da atitude do PSD após as eleições que colocavam riscos acrescidos quanto a critérios desadequados na condução dos trabalhos e funcionamento geral da Assembleia Municipal a partir da Mesa”, anotou ao DN o grupo comunista da Assembleia Municipal de Lisboa. Sem o PCP a coligação Viver Lisboa não venceria. Seria preciso que o Chega, na sua maioria, tivesse votado em Caldas ou se mantivesse em branco. Assim deverá ter sido, pelo menos na maioria dos seus seis votos. Bruno Mascarenhas, vereador eleito, não quis substituir-se aos deputados eleitos, mas assume que “pode haver uma lógica partidária.” Questionado pelo DN se a votação foi influenciada pelo facto de Moedas não ter mostrado abertura para ter o Chega em acordos ou lugares na Câmara, com peso importante da oposição da Iniciativa Liberal para o efeito, Mascarenhas assumiu: “O resultado é elucidativo da inexistência de acordos.”A IL e o CDS-PP, por sua vez, disseram em comunicado que votaram em Margarida Mano, embora assumindo que, de 32 votos atribuídos à coligação Por Ti, Lisboa 31 tenham sido entregues à candidata escolhida por Moedas. “Isto torna claro que foi o Chega quem deu a vitória à esquerda”, aponta o deputado municipal Francisco Camacho, do CDS-PP, reiterando: “Qualquer tentativa de insinuar o contrário é falsa e injusta para o nosso trabalho, que é sério e coerente.” A Iniciativa Liberal, via comunicado, salientou que o grupo municipal “possui evidências da votação indesmentível na Lista A”, no caso fotografias do voto em urna, lamentando depois que o Chega “una esforços com o socialismo.”.Assembleia Municipal Lisboa: CDU confirma ao DN que votou PS, abstenção de elementos do Chega fez a diferença.Na ausência de Luís Montenegro, Moedas garante ter exigido mais polícias municipais e agentes da PSP