Carlos Moedas esperou até agora para confirmar que se recandidata à Câmara de Lisboa, mas a três meses das eleições autárquicas, marcadas para 12 de outubro, não só persistem dúvidas quanto às coligações que estarão nos boletins de voto como falta oficializar os escolhidos por alguns dos maiores partidos nacionais para disputar as capitais de distrito. Assim sucede em Portalegre, onde o PS anunciará cabeça de lista nesta semana, e ainda em Aveiro, Coimbra, Faro e Viana do Castelo, onde o Chega não anunciou candidatos, embora os nomes do líder parlamentar Pedro Pinto, três vezes cabeça de lista pelo círculo algarvio em legislativas, e do deputado Eduardo Teixeira, que há quatro anos foi eleito vereador na cidade do Alto do Minho, quando era dirigente do PSD, sejam vistos como muito prováveis.Entre Lisboa e Porto, não poderia ser maior a diferença. Desde logo, ao contrário de Carlos Moedas, que está a terminar o primeiro mandato e pede mais quatro anos aos eleitores, o independente Rui Moreira está impedido de se recandidatar por ter atingido o limite legal de permanência em funções. E também porque Moedas tem mais atrasadas as negociações com os presumíveis parceiros do PSD, até porque a Iniciativa Liberal (IL), que ficou de fora da Novos Tempos em 2021, pretende fazer valer o seu peso relativo em relação ao CDS. Com Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da Câmara, afastado dos centristas, manter satisfeitos os atuais parceiros, evitando que arrisquem a candidatura própria, é muito mais difícil para Moedas - que adiou a questão “para uma segunda fase” - do que foi para o ex-ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte. Este já fez um acordo entre sociais-democratas, centristas, liberais e o movimento de cidadãos ligado a Moreira, embora o vice-presidente da autarquia, Filipe Araújo, vá a votos como independente.No que toca aos candidatos do PS, também persiste a indefinição quanto a alianças em Lisboa. A ex-ministra e líder parlamentar Alexandra Leitão tem feito muitas ações de pré-campanha, expondo o que diz serem falhas da gestão de Moedas, mas está a ser evasiva quanto à possibilidade de, além dos Cidadãos por Lisboa, contar com o Livre e juntar-lhes o PAN e o Bloco de Esquerda, apesar de esse partido já ter apresentado Carolina Serrão. Por seu lado, o ex-ministro e ex-eurodeputado Manuel Pizarro, que tenta ser eleito presidente da Câmara do Porto à terceira tentativa, sabe já que Bloco de Esquerda e Livre têm candidatos próprios e que o PAN apoia o independente Filipe Araújo. Mas tal não o impediu de surgir à frente de Pedro Duarte (36%-33%) na sondagem ICS/ISCTE divulgada pelo Expresso e pela SIC na sexta-feira.Também na luta pelas duas autarquias, nas quais não elegeu sequer um vereador em 2021, está o Chega, que procura confirmar o avanço nas legislativas, embora em Lisboa e no Porto tenha ficado bastante abaixo dos 22,46% que garantiram 60 deputados e o estatuto de segunda força parlamentar. Avança o deputado municipal Bruno Mascarenhas em Lisboa, e no Porto o cabeça de lista será o ex-deputado municipal social-democrata Miguel Côrte-Real, estando ambos empenhados em condicionar o balanço de poder, estabelecendo-se como primeira fasquia substituir o PCP enquanto terceira força autárquica. Ainda assim, os cabeças de lista da CDU são figuras destacadas dos comunistas, com o vereador João Ferreira em Lisboa e a ex-deputada Diana Ferreira no Porto..Lugares deixados em aberto.Entre as 18 capitais de distrito, contando já com as substituições no decorrer dos atuais mandatos, recandidatam-se 13 presidentes. De fora fica o comunista Carlos Pinto de Sá, que a CDU trocou pelo eurodeputado João Oliveira em Évora (Pinto de Sá tentará reconquistar Montemor-o-Novo, que liderou muitos anos), e mais três pesos-pesados além de Rui Moreira: Ricardo Rio (PSD-CDS, em Braga), Ribau Esteves (PSD-CDS, em Aveiro) e Rogério Bacalhau (PSD-CDS-IL, em Faro).Em Braga, a AD procura manter-se à frente do município, com o atual vereador social-democrata João Rodrigues, filho de um dos maiores clientes da Spinumviva, empresa fundada pelo primeiro-ministro Luís Montenegro e ligada ao chumbo da moção de confiança que ditou a dissolução da Assembleia da República. Enfrenta António Braga, que integrou executivos do socialista Mesquita Machado, presidente da autarquia ao longo de três décadas e meia. E ainda o líder demissionário da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, o independente Ricardo Silva, que presidiu a principal junta de freguesia do concelho, nas listas de Ricardo Rio, Filipe Aguiar, do Chega, e João Baptista, da CDU.Literalmente familiar é a disputa em Aveiro, pois envolve dois irmãos. Luís Souto de Miranda é o nome do PSD e CDS, numa escolha polémica que não convenceu Ribau Esteves e levou a demissões nas estruturas locais sociais-democratas, enquanto o PS tenta recuperar a cidade com Alberto Souto de Miranda, que foi o seu presidente entre 1997 e 2005. Ainda sem nome do Chega, Iniciativa Liberal, Bloco de Esquerda e CDU querem um lugar na vereação, o que não será fácil.Sendo o Algarve um epicentro do tripartidarismo, e Faro um dos concelhos onde o Chega superou a média nacional nas legislativas - mas ficando 272 votos aquém da AD -, a sucessão de Rogério Bacalhau estará condicionada pelo partido de André Ventura. Confirmando-se que o escolhido será Pedro Pinto, agrava-se o grau de dificuldade para o deputado Cristóvão Norte, líder distrital do PSD, manter a cidade nas mãos da coligação que governa Portugal, e que volta a contar aqui com a IL, e aumentam as hipóteses do socialista António Miguel Pina, que transita para Faro após três mandatos na Câmara de Olhão..Independentes e insólitos.Parte da estratégia autárquica da AD para as capitais de distrito, tendo em vista o objetivo, apontado por Luís Montenegro, de retirar a presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses ao PS, implica apoio a independentes em bastiões da esquerda. Isso levou à escolha do ex-candidato presidencial Paulo de Morais para disputar a Câmara de Viana do Castelo com o incumbente socialista Luís Nobre, numa corrida que poderá contar com Eduardo Teixeira, do Chega.Já em Castelo Branco, bastião do PS, Leopoldo Rodrigues recandidata-se na certeza de que José Augusto Alves, do movimento Somos, está com o PSD e o CDS. Tal como sucederá em Setúbal com o movimento de Maria das Dores Meira, que liderou a cidade em representação da CDU, e tenta impedir a reeleição de André Martins, único presidente de Câmara a militar no PEV, e a vitória do socialista Fernando José. Mas tão contestado apoio poderá impulsionar o resultado da candidata do Chega, a ex-deputada do PSD Lina Lopes.Anteveem-se duelos complicados em Vila Real (o edil socialista Alexandre Favaios enfrenta Alina Vaz, apoiada por PSD e IL), em Bragança (ex-deputada do PS, Isabel Ferreira tenta derrotar o social-democrata Paulo Xavier) e em Coimbra (José Manuel Silva, novamente apoiado pela AD, IL e outros partidos, procura a reeleição, mas a ex-ministra Ana Abrunhosa junta PS, Livre e PAN).Com Évora em aberto, tendo PS (Carlos Zorrinho) e CDU (João Oliveira) à frente, e AD, Chega e o movimento Cuidar de Évora à espreita, menos complicada parece ser as reeleição de Paulo Arsénio (PS, em Beja), Fermelinda Carvalho (PSD-CDS, em Portalegre) e João Teixeira Leite (PSD-CDS, em Santarém. Já em Leiria, o socialista Gonçalo Lopes terá a concorrência de dois deputados: a social-democrata Sofia Carreira e Luís Paulo Fernandes, um dos muitos deputados do Chega mobilizados para as autárquicas (tal como João Ribeiro, em Castelo Branco, e João Aleixo, em Portalegre). E entra ainda nas contas a vereadora do PSD Branca Matos, candidata do CDS. Na Beira Alta, enquanto o independente Sérgio Costa deverá ter dificuldades na Guarda, perante João Prada (PSD) e António Monteirinho (PS), o veterano Fernando Ruas (PSD) é o favorito para o que diz ser o último mandato em Viseu, apesar da concorrência de João Azevedo (PS) e de Bernardo Pessanha (Chega).