A primeira Academia Socialista realizada desde que o PS deixou de governar Portugal arranca nesta quarta-feira em Tomar, com 80 jovens de idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos na plateia, e uma das consequências dos novos tempos é o aumento do número de participantes que são independentes, acima da habitual dezena. Embora o deputado Miguel Costa Matos, secretário-geral da Juventude Socialista (JS), diga ao DN que, no passado, “vários tornaram-se militantes e dirigentes”, prevendo que possa suceder o mesmo a alguns dos que estarão num evento que terá o ex-primeiro-ministro (e futuro presidente do Conselho Europeu) António Costa como cabeça de cartaz, na noite de sábado..Na terceira edição deste evento de formação política, que tem início quando a edição de 2024 da Universidade de Verão do PSD vai no terceiro dia, muda a liderança partidária, com Pedro Nuno Santos a encerrar os trabalhos, na tarde de domingo, e também as coordenadas GPS. Ao contrário dos sociais-democratas, que se fixaram na localidade alentejana de Castelo de Vide, Tomar sucede a Évora e à Batalha..“Achamos que é útil e importante levar o evento aos quatro cantos do país”, defende Miguel Costa Matos, sem esconder que o “entrosamento com os autarcas socialistas” consta entre os objetivos dessa itinerância. Na sessão de abertura, além do secretário-geral da JS, da eurodeputada Marta Temido e do ex-ministro Duarte Cordeiro, a quem volta a caber a coordenação da Academia Socialista, um dos oradores será precisamente Hugo Cristóvão, que assumiu no final do ano passado a presidência da Câmara de Tomar..Com as eleições autárquicas a surgirem no horizonte como o grande desafio político de 2025, partindo do princípio que a Assembleia da República não volte a ser dissolvida, a Academia Socialista permitirá também mostrar aos jovens participantes - entre os quais “infelizmente ainda não é desta que existe paridade de género”, observa Miguel Costa Matos - as “boas práticas” dos protagonistas do “maior partido autárquico” de Portugal..Também não é por acaso que entre os pesos-pesados socialistas que irão falar aos 80 jovens haja potenciais apostas para alguns dos principais municípios nacionais. Na sexta-feira, poderão ouvir Ana Abrunhosa e Duarte Cordeiro falarem sobre Coesão Territorial e Ambiente, áreas que tutelaram em executivos de António Costa, sendo Alexandra Leitão a convidada do jantar dessa noite. Abrunhosa é tida como a escolha de Pedro Nuno Santos para tentar reconquistar a Câmara de Coimbra ao centro-direita, enquanto Cordeiro - que se afastou de cargos públicos até ficar esclarecido o seu envolvimento na Operação Tutti Frutti - seria o mais desejado para desafiar Carlos Moedas em Lisboa ou para manter Sintra depois do adeus de Basílio Horta, o que também poderá ser uma missão confiada à líder parlamentar socialista..Perfis diferentes.Mesmo sendo o presidente do PS (e antigo presidente do Governo Regional dos Açores), Carlos César, o orador do jantar da primeira noite da Academia Socialista, Miguel Costa Matos garante que existiu o cuidado de “não encher o programa só com antigos membros do Governo e deputados”. Algo particularmente evidente amanhã, pois a presidente da Câmara de Matosinhos (e da Associação Nacional de Municípios Portugueses), Luísa Salgueiro, que irá falar acerca de políticas de habitação, será a única filiada entre os oradores. Num dia iniciado pelo secretário-geral do Partido Socialista Europeu, o italiano Giacomo Filibeck, especialista em assuntos internacionais, o professor universitário Bernardo Pires de Lima, conselheiro do Presidente da República, dará uma aula de Relações Internacionais, Segurança e Defesa. E ao jantar será possível ouvir a antiga deputada bloquista Ana Drago - enquanto o socialista Augusto Santos Silva, ex-presidente da Assembleia da República, falará na manhã de sábado sobre o combate à extrema-direita no Fórum Socialismo, rentrée política do Bloco de Esquerda..“Entendemos que é importante o PS manter-se como um partido dialogante, no âmbito da esquerda e na sociedade”, diz o secretário-geral da JS, referindo-se à necessidade, numa ótica de “renovação do partido após oito anos de governação”, de a edição deste ano da Academia Socialista incluir os “perfis diferentes” de algumas “pessoas com que queremos conversar e que têm algo para dizer aos nossos jovens academistas”..Aposta nas masterclasses.Para sábado fica reservada a simulação de Assembleia da República em que os 80 participantes serão avaliados pelo vice-presidente do grupo parlamentar do PS, Pedro Delgado Alves. Procura-se um “momento de debate competitivo”, visando desenvolver competências no que toca ao debate de ideias e às técnicas de falar em público..Uma das mudanças na edição de 2024 passa pela introdução de masterclasses, seja de improviso e criatividade nas organizações ou de transformação de serviços com recurso à Inteligência Artificial. Aquilo que se pretende é reforçar o desenvolvimento das capacidades de comunicação e de liderança. E, observando os resultados dos participantes que estarão em Tomar, “acentuar o papel de recrutamento, procurando pessoas que se destaquem pela inteligência e pela capacidade de argumentação”..“O que resulta desta nossa Academia é que produzimos quadros e identificamos talentos”, remata Miguel Costa Matos, num balanço dos dois últimos anos - embora o PS e a JS tenham tido outras iniciativas deste género, a Academia Socialista começa agora apenas a terceira edição -, reiterando que muitos participantes se tornaram dirigentes de estruturas de um partido que, afastado do Governo da República e das duas regiões autónomas, permanece como a principal força autárquica de Portugal. .António Costa pode falar ao mesmo tempo que a escolha para a Comissão Europeia.A ida de António Costa à Academia Socialista, com o antigo primeiro-ministro e secretário-geral do PS a discursar enquanto presidente eleito do Conselho Europeu, pode resultar numa sobreposição de assuntos comunitários à hora de jantar de sábado. Ao mesmo tempo, em Castelo de Vide, a cerca de 120 quilómetros de Tomar, a Universidade de Verão do PSD tem prevista a presença de um(a) convidado(a)-surpresa que deverá ser a figura escolhida pelo Governo para integrar a próxima Comissão Europeia presidida por Ursula von der Leyen..Sem mais considerações sobre a provável coincidência de temáticas nas iniciativas dos dois partidos, o secretário-geral da JS, Miguel Costa Matos, refere que, na medida em que António Costa foi primeiro-ministro durante mais de oito anos, e será agora presidente do Conselho Europeu, “o que ele tem a dizer sobre a Europa e Portugal é do maior interesse para os socialistas, mas também para o país”. E acrescenta: “Até em Castelo de Vide haverá muita gente interessada naquilo que António Costa diz.”.Com a sua posse como sucessor do belga Charles Martin marcada para dezembro, o ex-primeiro-ministro pode abordar no sábado as mais recentes afirmações do secretário-geral do PSD, Hugo Soares, que se insurgiu contra quem encontra parecenças entre a governação de Luís Montenegro e a de António Costa. Reagindo ao discurso de Rui Rocha na rentrée política da Iniciativa Liberal, na qual o atual Governo foi apresentado como “toranja, laranja por fora, mas rosa por dentro”, o também líder parlamentar social-democrata disse que ouvir tais comparações lhe causa “indignação”..Quanto ao reencontro do atual secretário-geral do PS com o antecessor, Pedro Nuno Santos negou a ideia, há duas semanas, ao falar sobre a Academia Socialista, que esteja em causa uma reconciliação: “António Costa é um dos maiores do PS, foi primeiro-ministro e fui membro do seu Governo durante sete anos, trabalhei com ele sete anos, estive com ele desde o início na formação da solução de Governo muito importante para o país em 2015. Portanto, nós vamos recebê-lo na nossa Academia Socialista com muita saudade de o ter connosco, de ouvi-lo sobre a Europa e sobre o mundo, sobre aquilo que ele entender partilhar connosco.” .Pedro Nuno Santos fala no último dia.O programa da edição deste ano da Academia Socialista encerra no domingo, com um discurso em que Pedro Nuno Santos quer marcar o novo ciclo político, que será marcado no imediato pela negociação com o Governo da Aliança Democrática da proposta de Orçamento do Estado para 2025, mas que também inclui as autárquicas de setembro ou outubro do próximo ano e, poucos meses depois, as eleições presidenciais em que o PS tentará quebrar uma tendência de duas décadas de ex-líderes sociais-democratas no Palácio de Belém..Com Luís Montenegro a ser o último a discursar no encerramento da Universidade de Verão do PSD, numa sessão que tem início marcado para as 12.00, Pedro Nuno Santos vai ter que gerir bem os timings para garantir a “última palavra” num dia que marca mais uma estreia na sua atuação enquanto secretário-geral do PS..Apesar de o seu antecessor na liderança do partido, e principal responsável pelo maior ciclo de governação socialista, discursar na noite anterior, no PS não se antecipa que disso advenha uma pressão adicional para Pedro Nuno Santos. “Aquilo que o secretário-geral do PS quererá anunciar sobre o novo ano político terá todo o interesse para os portugueses”, antecipa Miguel Costa Matos, com o deputado e secretário-geral da JS a considerar que Pedro Nuno Santos tem o trunfo de “contar com o partido unido e mobilizado para mostrar que as nossas propostas vingam e são importantes para as pessoas”.