O apelo do militante e autarca Miguel Coelho, numa entrevista ao DN, para que Pedro Nuno Santos seja o candidato do PS à Câmara de Lisboa, está a ser recebido com silêncio pelo secretário-geral. “O interesse é nulo” e “a ideia nem sequer faz muito sentido”, disse ao DN fonte próxima do líder socialista..Miguel Coelho, presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, identificou Pedro Nuno Santos como a opção mais válida do partido para o “objetivo difícil, mas não inalcançável”, de derrotar Carlos Moedas em 2025. “Sem nenhum tipo de ironia, nem jogo escondido, acho que o secretário-geral do PS, se se candidatar, provavelmente vence estas eleições”, disse o histórico socialista, recordando o exemplo de Jorge Sampaio, eleito para o “terceiro lugar mais importante do país, depois do Presidente da República e do primeiro-ministro”, quando também era líder da oposição..Entre as principais figuras do PS na capital prevalece a tese de que as situações não são comparáveis. “Isso foi noutros tempos, e noutro contexto”, disse um responsável socialista ao DN. Sendo certo que a escolha da figura a quem caberá a missão de recuperar a presidência da principal autarquia portuguesa, só deverá avançar após as eleições para a Federação da Área Urbana de Lisboa do PS, no final de setembro..Até agora, foi anunciada a candidatura de Ricardo Leão, presidente da Câmara de Loures desde 2021, havendo a convicção generalizada de que será o único a disputar a sucessão de Pedro Pinto de Jesus, que está a completar o mandato de Duarte Cordeiro, autoexcluído de cargos políticos e partidários enquanto não ficar esclarecido o seu envolvimento na operação Tutti Frutti, no âmbito da qual foi constituído arguido Fernando Medina..Entre os socialistas tidos como os mais prováveis candidatos à Câmara de Lisboa estava justamente Duarte Cordeiro, que chegou a ser vice-presidente da autarquia num dos mandatos de António Costa. E a ex-ministra da Saúde Marta Temido, que no ano passado fora eleita presidente da concelhia lisboeta, pelo que surpreendeu muitos ao aceitar o convite de Pedro Nuno Santos para encabeçar a lista do partido nas eleições para o Parlamento Europeu. Assim sendo, estão a ser consideradas outras hipóteses, como a também ex-ministra Mariana Vieira da Silva..Má recordação autárquica.Miguel Coelho também incluiu José Luís Carneiro, de quem foi apoiante na disputa da liderança do PS, no perfil de “candidato fortíssimo” necessário para recuperar Lisboa, mas o ex-ministro da Administração Interna não comenta o assunto. Ainda assim, o autarca dá prioridade ao líder partidário: “Se quiser ser o candidato, é ele. Ponto final.”.A única candidatura do secretário-geral do PS à presidência de uma câmara municipal foi em São João da Madeira, e correu mal. Foi derrotado em 2009 pelo autarca social-democrata Castro Almeida, atual ministro-adjunto e da Coesão Territorial, e ficou de ficar fora da Assembleia da República, pois José Sócrates estabelecera a regra de que os candidatos autárquicos não podiam integrar as listas às legislativas desse ano..Antecedentes.Jorge Sampaio.Eleito secretário-geral do PS em 1989, após a primeira maioria absoluta do PSD de Cavaco Silva, nas legislativas de 1987, com o eleitorado socialista reduzido a quase metade, Jorge Sampaio candidatou-se à Câmara de Lisboa nas autárquicas de 1989. A sua vitória, à frente de uma coligação de esquerda, alicerçada no entendimento com o PCP (que apontou o escritor José Saramago, que ainda não tinha recebido o Nobel da Literatura, para a presidência da Assembleia Municipal de Lisboa), e com o MDP-CDE, PEV, UDP e PSR, pôs termo a uma década de gestão de centro-direita, liderada pelo centrista Nuno Krus Abecassis. Reeleito em 1993, Jorge Sampaio deixaria a autarquia, dois anos mais tarde, para derrotar Cavaco Silva nas eleições presidenciais de 1996. António Costa.Ao contrário de Jorge Sampaio, de quem foi apoiante dentro do PS, António Costa só foi eleito secretário-geral depois de ser presidente da Câmara de Lisboa. O então ministro da Administração Interna do primeiro Governo de José Sócrates foi o candidato do PS às eleições intercalares de 2007, que puseram termo a um período de incerteza política na capital. Costa teve apenas 29,49% dos votos, mas beneficiou da divisão de votos entre o PSD e o movimento independente liderado pelo ex-presidente Carmona Rodrigues. Em 2009 e 2013 levou o PS a duas maiorias absolutas, apesar de haver listas da CDU e do Bloco de Esquerda. Não terminou o terceiro mandato, deixando Fernando Medina em Lisboa, para tornar-se secretário-geral e primeiro-ministro ao longo de 2015.