A nova Aliança Democrática parece ter sido benéfica para as aspirações de Luís Montenegro. De acordo com a última sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, a coligação ganha terreno, quando se compara a soma de resultados do PSD e do CDS de há um mês com a projeção atual (27,4%), enquanto o PS tropeça (32,7%). Ainda assim, Pedro Nuno Santos não só mantém uma vantagem de cinco pontos, como a maioria dos portugueses (51%) antecipa que será ele o próximo primeiro-ministro. O Chega permanece ancorado no terceiro lugar (16,2%), é o primeiro entre os mais jovens e vale mais do que a soma dos três partidos seguintes: um BE a crescer (8%), uma Iniciativa Liberal estacionária (4,2%) e um PAN a perder fulgor (2,9%). A CDU (2,6%) e o Livre (1,9%) fecham a tabela..Na segunda sondagem com Santos na liderança, o cerco ao PS aperta-se. A vantagem ainda é razoável, mas há sinais de degradação (o socialista pode agradecer às mulheres, que não cederam um milímetro no seu apoio, ao contrário dos homens). Para além do ponto e meio perdido entre dezembro e janeiro, está longe da maioria absoluta de António Costa em 2022 (nove pontos de diferença), do Governo minoritário de 2019 (quase quatro pontos) e até umas décimas abaixo de 2015, o ano de estreia da “geringonça”, que não tem, por enquanto, a força suficiente para se repetir: o bloco à esquerda vale 45 pontos, enquanto a direita soma 48..Crescer, mas pouco.Se o cerco se aperta para o socialista, o tempo escasseia para Montenegro. A nova AD vitaminou o candidato do centro-direita, mas o crescimento de ponto e meio face ao mês passado é insuficiente e ainda deixa PSD e CDS três pontos abaixo do que somaram nas últimas legislativas (30,7%). E quando se compara com os resultados de todas as eleições em que uniram esforços, a distância é abissal: menos 20 pontos do que a AD de Sá Carneiro, em 1980; menos 11 pontos que a coligação liderada por Passos Coelho, em 2015. Mesmo quando se somam os votos virtuais da Iniciativa Liberal, uma coligação pós-eleitoral alargada continuaria a valer menos do que o PS (31,6% contra 32,7%)..Com uma maioria absoluta fora do radar (69% dos portugueses não acreditam nessa hipótese), o cenário que se abre é de instabilidade (é o que antecipam 50% dos inquiridos). Veja-se a presente conjugação de fatores: o PS venceria, mas sem maioria à esquerda; haveria uma maioria à direita, mas, com o Chega fora da equação, o PSD não teria força suficiente para suportar um Governo; mesmo que o PAN se juntasse a uma geringonça que já incluísse o PS, o BE, a CDU e o Livre, o melhor a que este arco-íris poderia aspirar era a um empate com a metade à direita do hemiciclo..Estabilidade no Chega.Alerte-se, no entanto, para a possibilidade de estas contas saírem furadas a 10 de março. Não apenas por causa do tempo que ainda falta, ou por causa de eventos como as suspeitas de corrupção na Madeira (cujos efeitos esta sondagem não mede, uma vez que o trabalho de campo decorreu entre 16 e 20 de janeiro), mas porque há outros dados que persistem e reforçam a imprevisibilidade: os 5,5% de indecisos; os 26% de abstencionistas da amostra (em 2022 foram 42% no território nacional); e os 23% que assumem que só vão decidir o seu voto em definitivo mais em cima das eleições..Mesmo que se reconheça a fragilidade dos estudos de opinião, há um partido para o qual se anuncia um tempo novo, tal a estabilidade que apresenta: os 16,2% do Chega, patamar em que se mantém pela terceira sondagem consecutiva, significam que seria o partido com maior crescimento desde as legislativas de 2022 (mais nove pontos), podendo aspirar a um grupo parlamentar na ordem das três dezenas de deputados (agora são 12). Uma força imprescindível para a formação (ou bloqueio) de um eventual Governo de direita. E há 44% de portugueses para quem a participação de André Ventura num Governo seria, ou um aspeto positivo, ou pelo menos indiferente..BE em maré alta.Há mais um partido a quem a projeção de resultados traz boas notícias: o Bloco de Esquerda de Mariana Mortágua chega aos 8%, sendo que isso significa um ganho de quase dois pontos relativamente a dezembro e quase quatro face às legislativas. Sentimento misto anuncia-se para o PAN de Inês Sousa Real: os atuais 2,9% representam uma queda de um ponto face a dezembro, mas mais um ponto que nas legislativas. Também o Livre de Rui Tavares está um pouco acima (1,9%) das eleições de janeiro de 2022, mas não o suficiente para deixar de ser deputado único..Os dois partidos que restam estarão entre o purgatório e o inferno. No primeiro está a Iniciativa Liberal, cuja tendência, mesmo que com altos e baixos, é a de perder fulgor: está com 4,2%, quase um ponto menos do que na última ida às urnas. Com Rui Rocha, os liberais ficaram mais longe do paraíso a que aspiravam com João Cotrim de Figueiredo (quase dez pontos nas sondagens do início de 2023). No segundo está a CDU (marca eleitoral dos comunistas), abaixo dos três pontos (2,6%) pela segunda sondagem consecutiva. Com este resultado (o estudo tem uma margem de erro de 3,5%) teria sérias dificuldades em manter os atuais seis deputados..Chega ganha força entre os mais novos.A força persistente do Chega nas sondagens (16,2%) reforça a sua importância na formação de uma eventual maioria parlamentar à direita. E há 29% de portugueses que vêm como positiva a sua participação num Governo..Se somarmos os 15% para quem essa possibilidade é indiferente, já são 44% os que pelo menos admitem que André Ventura venha a ter uma pasta ministerial. Ainda assim, há uma maioria (52%) que encara esse cenário como negativo. É entre os mais novos (18 a 34 anos) que a possibilidade do Chega ser incluído num acordo de Governo tem maior apoio (42%). Este é, aliás, um dos três segmentos da amostra (os outros são os eleitores do Chega e os da IL) em que há mais respostas positivas do que negativas. O que está em linha com as intenções de voto dos mais jovens: o partido de Ventura lidera no segmento, com mais um ponto do que a AD e mais 14 do que o PS. Outro segmento em que o apoio à presença do Chega num Governo está acima da média é o dos homens: são 38%, mais 16 pontos do que nas mulheres. De novo em linha com as intenções de voto: o Chega continua a depender de forma evidente do eleitorado masculino, que representa mais do dobro (22,5%) do seu eleitorado feminino (10%)..Finalmente, é entre os que residem no Norte que se encontram mais respostas positivas (32%). E a consulta às intenções de voto de André Ventura nas diferentes regiões também explica o fenómeno: é no Norte que o Chega consegue o melhor resultado nesta sondagem (21,9%), a pouco mais de três pontos dos socialistas. O segundo melhor resultado é o da Área Metropolitana de Lisboa (18,9%), longe do PS (mais de 13 pontos), mas próximo da AD (pouco mais de três pontos)..Mais dados.Um país à Direita...O escalão etário dos 18/34 anos está ancorado à direita. Somando os resultados da AD, do Chega e da Iniciativa Liberal, são 66 pontos percentuais (contra 39 da esquerda). No escalão seguinte (35/49 anos) a vantagem ainda é da direita, mas mais diluída: 49 contra 39 pontos..... e outro à EsquerdaQuando o eleitorado ultrapassa os 50 anos, a história inverte-se. Nos 50/64 anos a vantagem já é da esquerda (soma do PS, BE, CDU e Livre): 51 pontos, face a 45 da direita. E acentua-se entre os que têm 65 ou mais anos: a esquerda soma 55 pontos, contra 41 da direita..Género também contaA vantagem do PS sobre a AD é sobretudo feminina: Pedro Nuno tem mais seis pontos entre elas (35,8%) do entre eles (29,5%). Mas há dois partidos em que o desequilíbrio é mais vincado: os homens valem mais do dobro do que as mulheres no Chega, enquanto no BE elas representam quase o dobro..43% - O apoio ao PS vai crescendo à medida que aumenta a idade dos eleitores, chegando aos 43% nos que têm 65 ou mais anos. No PSD, reina o equilíbrio geracional (entre 26 e 28 pontos nos quatro escalões), mas fica à frente dos socialistas nos dois primeiros (18 a 49 anos)..36,3% - Quando se analisam os segmentos geográficos, o PSD só lidera na Região Norte (36,3%), perdendo o Centro para o PS (por escassos dois pontos). O melhor resultado dos socialistas é, desta vez, na Área Metropolitana do Porto (37,7%)..41% - Os eleitores liberais são os que apontam para uma decisão final sobre o voto mais em cima da eleição (41%, em contraste com a média de 23%). Os do Chega parecem ser os mais decididos: 85% asseguram que a decisão é tomada “muito antes da eleição”..FICHA TÉCNICA.Sondagem de opinião realizada pela Aximage para DN/JN/TSF. Universo: Indivíduos maiores de 18 anos residentes em Portugal. Amostragem por quotas, obtida a partir de uma matriz cruzando sexo, idade e região. A amostra teve 801 entrevistas efetivas: 671 entrevistas online e 130 entrevistas telefónicas; 383 homens e 418 mulheres; 173 entre os 18 e os 34 anos, 209 entre os 35 e os 49 anos, 211 entre os 50 e os 64 anos e 208 para os 65 e mais anos; Norte 273, Centro 177, Sul e Ilhas 124, A. M. Lisboa 227. Técnica: aplicação online (CAWI) de um questionário estruturado a um painel de indivíduos que preenchem as quotas pré-determinadas para pessoas com 18 ou mais anos; entrevistas telefónicas (CATI) do mesmo questionário ao subuniverso utilizado pela Aximage, com preenchimento das mesmas quotas para os indivíduos com 50 e mais anos e outros. O trabalho de campo decorreu entre 16 e 20 de janeiro de 2024. Taxa de resposta: 71,04%. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de +/- 3,5%. Responsabilidade do estudo: Aximage, sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.