Carlos Moedas insiste: Medina deve demitir-se

Candidato social-democrata à Câmara de Lisboa não aceitou justificação dada pelo autarca sobre o envio de dados de manifestantes anti-Kremlin à embaixada russa em Lisboa
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Carlos Moedas não aceitou a justificação dada por Fernando Medina sobre o envio de dados de manifestantes anti-Kremlin à embaixada russa em Lisboa e reiterou que o autarca lisboeta deve demitir-se.

"Fernando Medina veio dizer que há um erro técnico, mas é preciso tirar responsabilidade política de um erro que põe em perigo a vida das pessoas. A responsabilidade política é demitir-se. Um presidente de Câmara deixa que os dados dessas pessoas sejam partilhados? Como é que esses ativistas vão dormir? Quem é que lhes vai dar proteção?", questionou o candidato social-democrata à Câmara de Lisboa.

"Fernando Medina é o responsável. Como é que um presidente de Câmara pede desculpa e acha que está tudo resolvido quando deixa todas estas questões em aberto? A conferência de imprensa de Fernando Medina vem levantar ainda mais questões e preocupar todos aqueles que acreditam na democracia e na liberdade", acrescentou, em declarações aos jornalistas.

"Eu, no seu lugar, assumiria essas responsabilidades. Nós, como políticos, temos de assumir essas responsabilidades. Houve mais manifestações? Da Ucrânia e da China? Quem são essas pessoas e onde estão esses nomes? Ele não explicou como é que vai proteger essas pessoas nem explicou se um cidadão nacional vai manifestar-se contra uma instituição e a Câmara de Lisboa vai enviar a essa instituição a sua informação pessoal. Os que eu vou atacar recebem a minha informação e o meu telemóvel? Isso é muito assustador e mostra que estamos num sistema em que a nossa democracia está a ficar doente", aditou Carlos Moedas, incrédulo.

"Em quantas manifestações alusivas a outros países que que destratam e destroem os seus oponentes e que têm uma atitude de desrespeitar os direitos humanas é que se fez isso? Fernando Medina deve responder a esta pergunta. Isso é muito grave", afirmou esta quinta-feira, em declarações aos jornalistas.

"É gravíssimo que a situação já se tinha repetido. Portugal não respeita a dignidade da pessoa humana? Estamos a falar de contactos de telefone, email de pessoas que vão ser enviadas para o regime contra o qual as pessoas se estão a manifestar. Isso é gravíssimo para a democracia e há uma responsabilidade política", voltou a frisar o ex-eurodeputado.

Carlso Moedas mostrou-se surpreendido pela violação da proteção de dados numa altura em que a política europeia de proteção de dados está mais exigente do que nunca. "Trabalhei cinco anos na Europa, a lutar pelos direitos humanos, e chego ao meu país e vejo uma situação destas? Sempre que vamos à televisão temos de preencher uma declaração em como damos os nossos dados e de repente Fernando Medina envia todos esses dados para um país estrangeiro?", questionou.

Em janeiro de 2021, três cidadãos (dois deles com dupla nacionalidade, russa e portuguesa) organizaram uma manifestação contra o regime de Moscovo a propósito da detenção do ativista Alexei Navalny, num protesto que decorreu junto à embaixada.

De acordo com Fernando Medina, a legislação determina que a CML seja informada das manifestações, enviando depois as referências necessárias para a PSP e para a entidade junto da qual se realizam os protestos - neste caso a embaixada da Rússia.

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