Política
25 junho 2021 às 12h41

Merkel "ficou esclarecida" que Delta não está ligada à final da Champions

O primeiro-ministro revelou em Bruxelas que teve oportunidade de esclarecer o assunto com a chanceler alemã e que lhe mostrou mesmo os dados da covid-19 sobre as diferentes regiões de Portugal.

O primeiro-ministro disse esta sexta-feira que a chanceler alemã Angela Merkel "ficou esclarecida" na cimeira europeia que o crescimento da variante Delta em Portugal "não está ligado" à final da Liga dos Campeões.

"Eu falei com a senhora Merkel e confirmei a própria interpretação que tinha feito das declarações que ela tinha proferido, não vi propriamente um incómodo ou crítica, vi mais como hipótese. Ela tinha um bocado a ideia que o crescimento da variante Delta poderia estar associado à final da Champions, mas verificou pelos números que, tendo a final tido lugar na cidade do Porto e estando dois terços desta variante concentrados na região de Lisboa, era muito difícil estabelecer qualquer tipo de ligação", afirmou António Costa.

Falando em Bruxelas no final de um Conselho Europeu de dois dias, o chefe de Governo assinalou que isto "tem-se visto pela evolução da situação no Porto". "Felizmente e já passaram muitas semanas e não é possível estabelecer qualquer ligação. A bolha pode não ter funcionado na perfeição, mas assegurou o essencial, que era conter os riscos de contaminação nesse evento", assinalou António Costa.

Em conversas bilaterais durante a cimeira europeia, Angela Merkel "ficou esclarecida, percebeu essa situação e pediu aliás para ver os dados que nós temos sobre as diferentes regiões", disse. "Ainda ontem o Reino Unido considerou a Madeira uma região verde, creio que a Irlanda tomou uma posição idêntica e, portanto, os países estão agora a olhar para os valores regionais", adiantou António Costa.

Na passada terça-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, criticou a falta de regras comuns na UE relativamente às viagens, dando como exemplo a situação de aumento dos contágios em Portugal, que a seu ver "poderia ter sido evitada".

Já na quarta-feira, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças estimou que a variante Delta do SARS-CoV-2 seja responsável por 90% das novas infeções na Europa até final de agosto e por um aumento nos internamentos e mortes, pedindo avanços rápidos na vacinação na UE.

No que toca à pandemia, os chefes de Governo e de Estado da UE comprometeram-se neste Conselho Europeu a "permanecer vigilantes e coordenados" relativamente à covid-19, nomeadamente devido às variantes, assegurando ainda assim livre circulação no espaço comunitário, de acordo com as conclusões referentes a esta matéria.

Ainda falando aos jornalistas, António Costa disse que o que saiu desta cimeira foi que "há que implementar as regras" de coordenação já existentes, nomeadamente depois de o Conselho ter chegado a acordo em meados deste mês sobre as viagens no espaço comunitário e de países terceiros.

António Costa assumiu que ainda há três objetivos "muito importantes" que a presidência portuguesa quer alcançar nos últimos dias, o primeiro dos quais o acordo sobre a reforma da Política Agrícola Comum (PAC).

Em declarações após de participar no último Conselho Europeu do semestre português, no qual apresentou aos seus homólogos um relatório de balanço da presidência portuguesa do Conselho da UE, Costa, reiterando a satisfação com os resultados obtidos, e notando que foi também essa a apreciação feita pela generalidade dos líderes europeus, apontou que "ainda falta uma semana" e trabalho por completar.

"Há três coisas pelo menos que ainda estão em aberto que eu acho muito importantes e que vão acontecer, e uma é o 'trílogo' que ainda está a decorrer neste momento para fecharmos a reforma da PAC", declarou.

Costa confirmou que na quinta-feira foram ultrapassados "os principais pontos de dificuldade" nas negociações com Parlamento Europeu e Comissão, pelo que a presidência portuguesa espera "alcançar este resultado", seja hoje, no sábado, ou no início da próxima semana, quando se realiza um Conselho de ministros da Agricultura, no Luxemburgo.

Por outro lado, prosseguiu, a presidência portuguesa obteve um mandato dos Estados-membros para tentar 'fechar' com o Parlamento Europeu a "criação da Agência Europeia para o Asilo", uma "peça fundamental para a política de asilo", e também neste caso disse ter esperança num acordo político até dia 30.

"E temos finalmente, a coroar a nossa presidência, a cimeira da recuperação, que vai lançar as bases do debate sobre o futuro da governação económica da Europa", afirmou, reportando-se ao evento agendado precisamente para o último dia da presidência, quarta-feira, em Lisboa.

Costa admitiu que gostou de ouvir os elogios dos seus homólogos e dos líderes das instituições, como a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, que considerou a presidência portuguesa "incrivelmente bem sucedida".

"Não somos os melhores julgadores de nos próprios. Fico obviamente confortado que todos os meus colegas no Conselho e também os presidentes das instituições tenham feito uma apreciação francamente positiva da presidência portuguesa", comentou.

António Costa defendeu ainda que "não é aceitável" que os países que não "partilham" os valores europeus possam "fazer parte da União Europeia", afirmando que Portugal se juntou ao bloco para "garantir" a "liberdade e a democracia".

"Muitos de nós, aqueles que vivemos em ditaduras, como foi o caso de Portugal - que viveu a mais longa ditadura de todo o século XX na Europa, 48 anos - a razão fundamental pela qual pedimos a adesão à UE, foi mesmo para garantir a nossa liberdade e a nossa democracia. E, portanto, não é aceitável que quem não partilha estes valores possa fazer parte da UE", sublinhou António Costa.

O primeiro-ministro falava numa conferência de imprensa conjunta com os presidentes da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do Conselho Europeu, Charles Michel, após a cimeira que reuniu os chefes de Estado e de Governo do bloco hoje e na quinta-feira.

Numa reunião onde um dos temas em debate foi a situação da comunidade LGBT na Hungria, após o país ter aprovado uma lei que proíbe a "promoção" da homossexualidade junto de menores de 18 anos, Charles Michel revelou que a discussão entre os líderes sobre o tema foi "difícil, algumas vezes rude", mas "necessária".

"Foi também um debate emotivo, porque é um debate que toca na intimidade das convicções no que se refere à conceção que cada um faz das liberdades fundamentais. E é por isso que este tema e este debate são absolutamente indispensáveis", referiu Charles Michel.

A seu lado, Ursula Von der Leyen também reconheceu que a discussão entre os líderes foi "intensa" e "franca", e acrescentou que foi "emotiva" porque se trata de um tema que se refere às "vidas das pessoas".

"É sobre as suas dignidade, os seus sentimentos e a sua identidade. É também isso em que acreditamos na União Europeia: os nossos tratados são muito claros no que se refere aos nossos valores, estão consagrados no artigo 2º: o respeito pelos direitos humanos, a igualdade, a dignidade humana, a liberdade, a não discriminação, e outros", salientou.

Nesse sentido, a presidente da Comissão afirmou que são esses valores que fazem da UE "única", e que a lei húngara, por ser "discriminatória", os viola "claramente e inequivocamente".

"E, por causa disso, iremos usar os instrumentos do Estado de direito para tomar medidas contra [a lei], e estou firmemente convencida que temos de conduzir este debate, também para continuar a conquistar os corações dos nossos amigos húngaros e convencê-los de que a democracia é a melhor forma de vida", apontou Von der Leyen.

No que se refere à legislação húngara, António Costa acrescentou também que a "expressão da generalidade dos membros do Conselho foi muito clara e afirmativa, de que consideram que violam os valores fundamentais da UE, designadamente os valores de tolerância, de respeito pela dignidade da pessoa humana, e da não discriminação".

Nesse sentido, António Costa reiterou que "não é possível estar na UE" sem "aceitar, respeitar, praticar e acarinhar" esses mesmos valores e princípios".

"Ninguém está na União Europeia por obrigação, estamos todos na União Europeia porque pedimos a adesão, porque nos reconhecemos nesses valores", afirmou.

O primeiro-ministro sublinhou assim que a UE, "mais do que uma União aduaneira", "um mercado interno" ou uma "moeda única", é "uma comunidade de valores".

"Só podemos estar nesta União querendo partilhar os mesmos valores: defendê-los, protegê-los e assegurar que todas e todos os cidadãos têm direito a exercer e a ver protegidos os seus direitos de acordo com estes valores", apontou.

A Hungria aprovou a 15 de junho uma lei proibindo "a promoção" da homossexualidade junto de menores de 18 anos, o que desencadeou a inquietação dos defensores dos direitos humanos, numa altura em que o Governo conservador de Viktor Orbán multiplica as restrições à comunidade LGBT.