Paulo Raimundo prometeu um PCP “mais estruturado e organizado” e “mais forte no plano ideológico”.
Paulo Raimundo prometeu um PCP “mais estruturado e organizado” e “mais forte no plano ideológico”.António Cotrim / Lusa

Luta por salários e Palestina marcam encerramento da Festa do Avante!

Discurso de Paulo Raimundo apelou à intensificação da luta contra o Governo, acusando socialistas de estarem “em cima do muro” e de se prepararem para viabilizar o Orçamento. Houve uma denúncia do “massacre em curso” dos palestinianos, mas a Ucrânia ficou longe da Atalaia.
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O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, desafiou os militantes comunistas a empenharem-se numa “campanha nacional para colocar os salários no centro do debate político”. No discurso que encerrou a Festa do Avante!, na tarde de domingo, após referências internacionais, em que falou muito da Palestina e nada da Ucrânia, o líder partidário apelou à mobilização pela “grande emergência nacional do aumento geral e significativo dos salários”, com vista a uma vida melhor, prometendo que “a luta vai mesmo intensificar-se” quando saudou o papel da CGTP-IN na “resistência, luta e conquista de direitos dos trabalhadores”.

Os problemas que o PCP enfrenta, reduzido a quatro deputados e 18 presidências de câmara - em Setúbal, André Martins é militante do PEV -, não foram completamente esquecidos, pois no final do discurso Raimundo, referindo-se ao 22.º Congresso, que se realizará entre 13 e 15 de dezembro, elencou a necessidade de ter um partido “mais estruturado e organizado”, bem como “mais forte no plano ideológico, para melhor enfrentar o quadro internacional e nacional”. Mas a nota dominante foi de otimismo: “Por muito que custe a alguns, o PCP, com a sua identidade, este partido patriótico e internacionalista, ligado aos trabalhadores e ao povo, não se deixa levar pela espuma dos dias, e é capaz de resistir e de avançar.”

No que toca ao Orçamento do Estado, que acusou o PS de “se preparar para viabilizar”, o secretário-geral comunista disse que “não se pode ficar em cima do muro” entre as “forças de Abril e da Constituição” e as “forças da direita”, juntando à Aliança Democrática os “sucedâneos” Chega e Iniciativa Liberal, descritos como “lebres de corrida da velha receita reacionária a que Abril pôs termo”. Quanto aos efeitos do possível chumbo do documento, Raimundo defendeu que “a verdadeira instabilidade é a da vida das pessoas”, seja pelas urgências de obstetrícia encerradas como pela falta de professores na abertura do ano letivo, que prometeu levar a debate no Parlamento. Tal como defenderá mais 100 mil vagas gratuitas nas creches, “para responder às necessidades dos pais e das crianças”.

“Cúmplices do massacre”

Os ataques ao Governo começaram no arranque do discurso, criticando-o por não reconhecer o Estado da Palestina. Falando para uma plateia em que eram visíveis bandeiras palestinianas, Paulo Raimundo recordou a edição de 2003 da Festa do Avante!, quando a voz do então presidente da Organização para a Libertação da Palestina, Yasser Arafat, cercado em Ramallah, foi ouvida no recinto numa chamada telefónica. Repetindo que o PCP “não cala o genocídio do povo palestiniano”, acusou os países da União Europeia de serem “hipócritas, cúmplices e promotores do massacre em curso”.

Também houve “abraços solidários” para a Cuba, a Venezuela e o povo sarauí, “exemplos de resistência heroica”, mas da Ucrânia nada se ouviu falar na Quinta da Atalaia, no Seixal, além da habitual palavra de ordem “guerra não, paz sim”, tão entoada pelos milhares de presentes quanto a anterior “Palestina vencerá”.

“Damos combate aos que fazem da morte e da destruição as garantias de lucro da indústria de armamento”, disse Raimundo, para quem a “União Europeia está cada vez mais às ordens dos Estados Unidos” e a “superação revolucionária” do capitalismo “é o grande objetivo do povo e dos trabalhadores”.

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