Governo reúne de emergência. Portugal é o país da UE com mais infetados/dia

Executivo pondera acabar com os cafés no postigo. Marcelo afirma que estado de emergência irá no mínimo até meados de Março. Marta Temido reconhece incumprimento do confinamento

António Costa convocou para esta segunda-feira uma reunião de emergência do Conselho de Ministros - reunião que, segundo o DN apurou, deverá decorrer por via eletrónica ou vídeo conferência.

Em causa está o facto de existirem várias indicações de que o "dever geral de recolhimento" decretado na passada quarta-feira não estar a funcionar. O Executivo poderá agora decretar o fim dos cafés vendidos ao postigo. Também está em cima da mesa inverter a decisão que encerrou os ATL.

Os números são o que são (ver gráficos à direita). Assente nos dados de sábado, a base de dados Our World In Data, feita com tutela da Universidade de Oxford (Reino Unido), colocou o país em segundo lugar na tabela mundial dos novos infetados por dia por milhão de habitantes (1074).

A mesma fonte atribui a Portugal o 4º lugar, também na tabela mundial, no que toca a novas mortes diárias por milhão de habitantes (16,3). No que toca a novos infetados, Portugal lidera o ranking da UE; já nas novas mortes só está atrás da República Checa.

O boletim de domingo emitido pela DGS revelou mais 152 mortes (8861 no total desde que a pandemia chegou a Portugal (março de 2020). Foram registados 10 385 novos infetados - e assim o total já ultrapassa o meio milhão (549 801). Em relação a sábado, o número de novos mortos diminuiu (tinham sido 166) e de novos infetados também (10 947). As autoridades de saúde têm em vigilância 161 120 contactos, mais 5 719 relativamente a sábado. O boletim revela ainda que 4387 pessoas foram dadas como recuperadas

Mais uma vez, como já acontece há vários dias, os dados oficiais indicam que se morre muito mais na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) do que na Região Norte, apesar de o número de novos infetados ser nas duas zonas não muito diferente. A DGS revelou no domingo quase o dobro das mortes na região de Lisboa quando comparada com o Norte: 59 contra 33.

"Quase a chegar ao limite"

Quanto à pressão sobre o SNS, a DGS indicava ainda estarem internadas 4889 pessoas (mais 236 do que no sábado), das quais 647 em cuidados intensivos (mais nove). Em ambos os casos, novos máximos desde o início da pandemia.

Depois de, no sábado, as administrações hospitalares de Santa Maria, Garcia de Orta e Torres Vedras terem verbalizado sérias preocupações com a pressão a que as respetivas unidades estavam a ser sujeitas (no Garcia de Orta falou-se mesmo em situação de "pré-catástrofe"), a ministra da Saúde, Marta Temido, veio a terreiro - numa visita, precisamente, ao Garcia de Orta - apelar "veementemente"a "todos os portugueses" para que fiquem em casa.

Temido multiplicou-se em declarações dramatizando a situação: "Não há situação que aguente", "há um limite e estamos quase a chegar a esse limite", o SNS está "numa situação extrema, em sobre esforço", "não se podem deixar os profissionais de saúde sozinhos".

"Neste momento, temos o número que se sabe de internados por Covid-19 e quando pedimos para todos respeitarem as regras de confinamento e quebrarem as cadeias de transmissão é também porque precisamos de ajuda para que o SNS responda a às outras patologias", afirmou. Concluindo: "E não vale a pena dizer que são as exceções que justificam os comportamentos. O número de exceções que temos hoje é semelhante ao de março; a mentalidade das pessoas, a reação das pessoas é que é diferente."

Emergência até março

A seu lado, o presidente do Conselho de Administração do hospital, Luís Amaro, preferiu agora usar a expressão "pressão acentuada" em vez da "pré-catástrofe" usada na véspera pelo hospital em comunicado.

Porém, reconheceu , estão ocupadas todas as 173 camas covid do hospital ( das quais 19 de cuidados intensivos). Na próxima semana deverá abrir uma nova enfermaria com 33 camas, logo que seja reforçado o pessoal médico e de enfermagem - anunciou ainda.

Vestindo a farda de Presidente da República (PR), Marcelo Rebelo de Sousa visitou o Hospital de Santa Maria.

Falando com jornalistas, admitiu que o estado de emergência pode ir até meados de março - portanto para lá do final do seu primeiro mandato (9 de março).

"A próxima renovação do estado de emergência será, em princípio, no dia 29 deste mês, e depois haverá várias renovações mesmo até ao fim do atual mandato presidencial, haverá três", afirmou.

O estado de emergência está novamente em vigor em Portugal desde 6 de novembro e na quarta-feira passada foi prolongado pelo Presidente da República até 30 de janeiro. Se for prorrogado por mais quinze dias, o período máximo por que este quadro legal pode ser decretado, sem prejuízo de eventuais renovações, o próximo diploma do estado de emergência abrangerá o período entre 31 de janeiro e 14 de fevereiro, e os seguintes irão vigorar de 15 de fevereiro até 1 de março, e de 2 a 16 de março.

Marcelo pressionou ainda o Governo para ponderar as medidas de confinamento "semana a semana" - e não quinzenalmente, como acontece agora.

"Ir mais longe"

Também alinhando num registo de dramatização - potenciado no sábado pela imagem de filas de ambulâncias nas urgências de hospitais à espera para poderem deixar doentes -, Marcelo disse que a situação "não é crítica, é muito crítica", "para os portugueses e para os políticos". Admitiu então que poderá ser necessário ir mais longe no confinamento (igual ao de março, com a exceção do sistema de ensino, que permanece aberto). "Pode ser necessário ir mais longe no fechamento de atividades que ainda ficaram abertas, como sinal à sociedade", disse. Assegurando, ao mesmo tempo, que "se for preciso reponderar medidas, o Governo naturalmente terá o apoio do Presidente da República".

Loures transfere doentes

Ontem a administração do Hospital Beatriz Ângelo (HBA), em Loures, admitiu ter de enviar os doentes em tratamento de quimioterapia para outros hospitais devido à necessidade de libertar profissionais e espaços para reforçar os meios destinados à covid-19.

Esta unidade hospitalar da Grande Lisboa tinha ontem 204 doentes covid internados, 19 dos quais em cuidados intensivos, correspondendo ao maior número desde o início da pandemia, o que obriga à transferência de doentes para outros hospitais.

"Neste momento está em análise a possibilidade de os doentes em quimioterapia poderem vir a fazer os seus tratamentos fora do HBA, com toda a segurança e sem qualquer perturbação para a continuidade desses tratamentos, de maneira a libertar mais alguns profissionais de saúde e espaços necessários ao reforço de meios destinados à covid-19", refere a administração do hospital. Que disse também que todos os dias tem sido necessário transferir alguns doentes covid-19 para hospitais públicos e privados.

O HBA tem 60% da sua capacidade dedicada exclusivamente a doentes covid.

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