A Operação Ab Initio, que investiga suspeitas de concursos públicos terem servido para saldar dívidas do PSD no âmbito da campanha para as eleições regionais madeirenses de 2023, está a fragilizar ainda mais o executivo minoritário de Miguel Albuquerque. E nem as suas garantias de que as contas demonstram que não houve financiamento ilícito sossegam os sociais-democratas. .Depois de o secretário-geral do PSD-Madeira, José Prada, ser alvo de buscas e constituído arguido nesta quinta-feira, tendo de ser levantada a sua imunidade enquanto deputado na Assembleia Legislativa Regional, o DN apurou que o grau de inquietação se elevou entre os governantes madeirenses, ainda que nenhum dos atuais esteja envolvido na investigação judicial. Mas entre os oito detidos pela Polícia Judiciária na terça-feira estão o ex-secretário regional da Agricultura, Humberto Vasconcelos, e o atual presidente da Câmara da Calheta, Carlos Teles..O acréscimo de pressão sobre o PSD-Madeira, que se manteve no poder, ainda mais minoritário, após as eleições antecipadas de 28 de maio, levou Miguel Albuquerque a questionar o inquérito judicial que investiga crimes de prevaricação, participação económica em negócio, financiamento partidário e recebimento indevido de vantagem, através de adjudicações por entidades públicas regionais, estando sob investigação pelo menos 25 concursos públicos. “Não deixa de ser estranho que neste momento existam um conjunto de denúncias anónimas contra os órgãos do Governo, com objetivos eminentemente políticos”, disse..Já a oposição aguarda o desenrolar da Operação Ab Initio, com as medidas de coação dos detidos - que incluem o ex-diretor regional da Agricultura, Paulo Santos, os empresários Humberto Drummond e Miguel Nóbrega, o gestor público Bruno Freitas, e duas funcionárias da Secretaria Regional da Agricultura - a deverem ser conhecidas nesta sexta-feira. Empenhado na comissão de inquérito aos incêndios na Madeira, o socialista Paulo Cafôfo mantém-se na expectativa, até porque o Governo Regional tem dependido do Chega, com três dos seus quatro eleitos a absterem-se para viabilizar o Programa de Governo que só teve votos favoráveis do PSD, CDS e PAN..Atual líder regional do Chega, Miguel Castro, que no domingo saberá se é reeeleito, disse ao DN que “todas as implicações do presidente do Governo Regional em casos de corrupção que possam surgir, assim como a falta de compromisso com o acordado com o Chega para a viabilização do Programa de Governo e passagem do Orçamento Retificativo, serão passíveis de apresentação de moção de censura pelo nosso grupo parlamentar”..Sem poder apresentar uma moção de censura, visto que é deputada única, Mónica Freitas realçou que “não se sabe ainda muito sobre o processo” e considerou “lamentável” que envolva detentores de cargos públicos, pois “descredibiliza as instituições, comprovando ser preciso apostar em medidas de combate à corrupção, maior transparência e rigor nos contratos públicos”. Mas as palavras de ordem do PAN são “acompanhar” e “aguardar”..Para o deputado da Iniciativa Liberal, Nuno Morna, embora os processos judiciais da Operação Ab Initio tenham o PSD-Madeira como “denominador comum a outros processos que ainda decorrem”, envolvendo “figuras de destaque em cargos regionais, partidários e autárquicos e a aparente promiscuidade com algum tecido empresarial”, há que deixar que a justiça “siga o seu curso sem interferências externas ou julgamentos precipitados”. .Chega escolhe líder regional no domingo.O Governo minoritário de Miguel Albuquerque ficará ainda mais ameaçado se mudar a liderança regional do Chega, que será eleita neste domingo. Além de Miguel Castro, atual presidente e líder parlamentar, vão a votos a deputada regional Magda Costa e o deputado municipal José Fernandes, sendo os últimos muito críticos da viabilização do Programa de Governo decidida por Castro - causando uma cisão entre Magda Costa e o resto do grupo parlamentar..Os três fizeram na quarta-feira aquilo que a moderadora da RTP-Madeira qualificou de “debate aceso”, no qual o líder em busca da reeleição disse sentir-se “envergonhado” após Fernandes lhe perguntar se não estava na política “também para ganhar dinheiro”. Por seu lado, Magda Costa pediu “imensa desculpa” por os seus colegas de bancada parlamentar terem viabilizado o Programa de Governo.