Das "vaidades partidárias" à vida da República e da Democracia, Moedas e Marcelo deixam recados no 5 de Outubro
Foto: Gerardo Santos

Das "vaidades partidárias" à vida da República e da Democracia, Moedas e Marcelo deixam recados no 5 de Outubro

Discurso de Carlos Moedas marcou mais do que o de Marcelo, com o Chega a rever-se nas palavras do autarca e com o BE a apelidá-lo de “pequeno Napoleão”. Palavras do PR foram mais consensuais.
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O PAN criticou hoje os discursos do 05 de Outubro por serem muito virados para o passado e sem tradução numa "mudança efetiva" que é preciso fazer em Portugal, considerando que estas intervenções são "mais do mesmo".

A deputada única do PAN, Inês Sousa Real, falou aos jornalistas no final da cerimónia do 05 de Outubro, que decorreu em Lisboa, e na qual discursaram o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas.

"Olhamos para estas intervenções como mais do mesmo, todos os anos ouvimos o mesmo género de intervenção aqui neste tipo de cerimónias, sendo que evocar a implantação da República tem que ter mais do que uma cerimónia evocativa, tem que se traduzir numa mudança efetiva para o país que queremos construir e para o futuro que queremos deixar para as próximas gerações", criticou.

Para a líder do PAN, este foi "um discurso muito virado para o passado, muito pouco focado naquilo que são os desafios do presente para os portugueses, mas também de Portugal a nível global".

"Não podemos continuar a alimentar esta cultura do medo, do nós e eles, não podemos continuar a olhar para as questões e os desafios da segurança apenas numa perspetiva da imigração, esquecendo-nos no papel que a integração também tem nestas políticas, a própria habitação e as soluções", avisou.

Outro aspeto criticado por Inês Sousa Real foi o facto de ter ficado de fora "o flagelo da violência doméstica".

"Ano após ano, parece que é vira o disco e toca o mesmo. Não temos, de facto, aqui uma visão do futuro das reformas", lamentou.

O PAN quer também respostas para desafios como o das alterações climáticas e como é que as cidades como Lisboa se vão adaptar.

"Não houve uma palavra dedicada a estes mesmos desafios e aquilo que verificamos é que estas políticas continuam fechadas num núcleo político mais conservador e mais virado para as políticas do passado, ao invés de olharmos efetivamente para aquilo que são as preocupações dos portugueses", condenou.

No final da cerimónia do 5 de Outubro, o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, afirmou que se reviu no discurso de Carlos Moedas, que tinha referido a imigração, os bombeiros e as forças de segurança.

O deputado do partido liderado por André Ventura considerou que é importante haver o Chega em Portugal, uma vez que, defendeu, antes não se falava em imigrantes, bombeiros e condições de trabalho das forças de segurança.

Em relação ao discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Pinto classificou-o como "contraditório", por ter andado durante algum tempo com um "discurso do medo" em torno da possibilidade do Orçamento do Estado não ser viabilizado e por agora ter dito que "Portugal, desde que é uma República, tem superado todas as crises".

Já o líder da bancada do CDS, Paulo Núncio, recordou o discurso de Carlos Moedas e assinalou a "intransigência, inflexibilidade e radicalismo" do PS em relação ao IRC, lembrando a contraproposta do líder socialista, Pedro Nuno Santos, à proposta do Governo para este imposto.

"Por um lado, o Partido Socialista parece querer condicionar a negociação deste ano para o resto da legislatura", continuou o deputado centrista, sublinhando que a proposta de Pedro Nuno Santos para substituir a descida do IRC pelo regresso do Crédito Fiscal Extraordinário ao Investimento não é aceitável, por ser uma "medida temporária".

"É preciso que o Partido Socialista ceda nesta intransigência, inflexibilidade e radicalismo", concluiu.

O líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Fabian Figueiredo, classificou o presidente da Câmara de Lisboa como um "pequeno Napoleão".

No seu discurso, Carlos Moedas tinha criticado a política de "portas escancaradas" que possibilita o surgimento de "redes criminosas" que geram "escravatura moderna", o que "aumenta a desconfiança na nossa sociedade e alimenta os extremismos".

"Fez um discurso lamentável", afirmou Fabian Figueiredo, acusando o autarca de se colar "ao discurso de extrema-direita".

"República é igualdade de todos os cidadãos e de todas as cidadãs", defendeu o deputado bloquista.

Questionado sobre se concorda com a contraproposta de Pedro Nuno Santos a Luís Montenegro, Fabian Figueiredo disse apenas que "a esquerda tem de se apresentar como alternativa à governação da direita".

O discurso controverso de Carlos Moedas também mereceu críticas do deputado do Livre Rui Tavares, que lembrou que Luís de Camões, "o grande poeta nacional" evocado pelo autarca de Lisboa, "tinha um imigrante ao lado" a ajudá-lo quando morreu, "na miséria".

O porta-voz do Livre, Rui Tavares, acusou este sábado o presidente da Câmara de Lisboa de "ir atrás do discurso da extrema-direita", relativamente à imigração, e negou que a situação dos sem-abrigo no largo dos Anjos esteja resolvida.

"Uma pessoa pergunta se Mário Soares alguma vez teria deixado fazer este discurso sobre imigrantes e ir atrás sem ter, a certa altura, um estado de alma, um grito de alma a dizer: Os outros receberam-nos bem quando fomos exilados. Receberam-nos bem quando passamos a salto", questionou.

Rui Tavares falava aos jornalistas no final da cerimónia comemorativa do 114.º aniversário da Implantação da República, que decorreu na Praça do Município, em Lisboa, e na qual intervieram o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

No seu discurso, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, defendeu que o país não pode "aceitar uma política de portas escancaradas que conduz à desordem".

"Hoje assistimos a manifestações de um drama humanitário que nos envergonha a todos como país. Nós precisamos de imigração, mas não podemos aceitar uma política de portas escancaradas que conduz à desordem, dá espaço a redes criminosas e multiplica casos de escravatura moderna", disse o autarca, anfitrião das cerimónias oficiais do 05 de Outubro.

Este discurso foi criticado pelo porta-voz do Livre, que acusou Carlos Moedas de "ir atrás da extrema-direita" e de citar o poeta Luís de Camões, "desconhecendo a história.

"É bonito citar Camões, mas é mais bonito não passar o mandato inteiro. Já lá vão três anos do presidente da Câmara a chamar a tudo aquilo que inaugura, às vezes de mandatos precedentes, 'factory' não sei quê, 'hub' não sei que mais. A língua portuguesa existe, mas se não cuidarmos dela vai definhando", observou.

Rui Tavares negou ainda que a Câmara de Lisboa tenha resolvido a situação dos imigrantes que estão há meses a viver em tendas junto à igreja dos Anjos, ao contrário do que foi anunciado por Carlos Moedas durante o seu discurso.

"O largo dos Anjos não apresentava nenhuma diferença sensível nesta manhã. A situação dos sem-abrigo não é de um largo. É de uma cidade inteira, na qual o presidente Carlos Moedas pouco ou nada fez para resolver esta situação", apontou.

O dirigente do PCP João Ferreira lamentou este sábado que o discurso do Presidente da República não sinalizasse um caminho para "combater a pobreza e as desigualdades sociais", sublinhando que o próximo Orçamento do Estado também não trará essas respostas.

"O Presidente da República evocou a necessidade de haver mudanças. Disse que havia a necessidade de combater a pobreza, as desigualdades sociais. É difícil não subscrever essas palavras, a questão é como. Sobre isso nada foi dito", apontou.

João Ferreira falava aos jornalistas no final da cerimónia comemorativa do 114.º aniversário da Implantação da República, que decorreu na Praça do Município, em Lisboa, e na qual intervieram o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

No seu discurso, o Presidente da República afirmou que "a democracia está viva", embora não seja "perfeita nem acabada", e defendeu que tem de ser "mais livre, mais igual, mais justa, mais solidária"

Marcelo Rebelo de Sousa destacou ainda a pobreza e a corrupção entre os problemas que persistem "em 50 anos de Abril" e que exigem mudanças.

"Não é possível vencer a pobreza, as desigualdades sociais, as justiças, sem uma alteração radical das políticas que têm vindo a ser seguidas. Sem uma elevação dos salários e do investimento público", considerou João Ferreira.

Questionado sobre a contraproposta apresentada na sexta-feira pelo PS ao Governo, no âmbito do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) o dirigente comunista considerou que a discussão ainda está "longe do que verdadeiramente interessa".

"Se há alguma virtude que esta novela tem trazido é evidenciar como estamos longe da discussão que verdadeiramente interessa, sobre o conteúdo do orçamento e em que medida o orçamento responde ou não ao que são os grandes problemas que o país está confrontado", apontou.

No entendimento de João Ferreira, esta aproximação entre o PS e o Governo revela que "não são tão diferentes assim os posicionamentos e os objetivos programáticos de um e de outro".

"Se olharmos para a dimensão daquilo que o orçamento deve responder, quer o orçamento, quer a política deste Governo está longe de responder a essas necessidades. Pelo contrário, o que verificamos é que há um caminho no sentido do agravamento desses problemas que o país se defronta", sublinhou.

A líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, disse este sábado que os socialistas vão "aguardar serenamente a resposta oficial e formal" do Governo à contraproposta orçamental que enviaram, escusando-se a comentar as posições de alguns governantes que foram conhecidas.

No final da cerimónia do 5 de Outubro, que decorreu em Lisboa, Alexandra Leitão foi questionada pelos jornalistas sobre se já havia alguma resposta do Governo à contraproposta que o PS apresentou na sexta-feira à noite pela voz do líder socialista, Pedro Nuno Santos, com vista às negociações para o Orçamento do Estado para 2025 (OE2025).

"Vamos aguardar serenamente a resposta oficial e formal do Governo", respondeu, escusando-se a comentar críticas que foram sendo feitas por alguns elementos do executivo a esta contraproposta.

Referindo que pelo aquilo que sabe ainda não houve qualquer contacto do Governo, Alexandra Leitão considerou que ainda não é tarde para que isso possa acontecer.

"Não comentarei até haver uma resposta formal e oficial que não foram essas. Respeito, obviamente, oiço, obviamente, mas não teço, até por cortesia, nenhum comentário", respondeu, perante a insistência dos jornalistas.

A ministra e dirigente do PSD Margarida Balseiro Lopes escusou-se este sábado a comentar as negociações orçamentais por ser dia para falar do 5 de Outubro, sublinhando os alertas do Presidente da República para as imperfeições da democracia a corrigir.

Em reação aos discursos do 114.º aniversário da Implantação da República, que decorreram na Praça do Município, em Lisboa, a vice-presidente do PSD e ministra da Juventude e Modernização, Margarida Balseiro Lopes, foi questionada pelos jornalistas sobre a contraproposta orçamental que o líder do PS, Pedro Nuno Santos, apresentou na véspera ao Governo.

"Hoje é o dia para falarmos do 05 de Outubro, da mensagem do senhor Presidente da República e não é dia para falar do Orçamento do Estado. Estamos para comentar esta intervenção do senhor Presidente da República, para falarmos do 05 de Outubro e não para falar do Orçamento do Estado", respondeu Margarida Balseiro Lopes, perante a insistência dos jornalistas.

A ministra foi ainda questionada sobre as declarações do presidente da Câmara de Lisboa, o também social-democrata Carlos Moedas, que citou Camões para criticar aqueles que no presente estão "reféns de ansiedades pessoais e partidárias", abdicando do "interesse nacional".

"Eu compreendo a pergunta, mas a minha resposta vai ser sempre igual: não vou falar do Orçamento do Estado", reiterou.

Margarida Balseiro Lopes destacou do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa a importância que deu à República e à democracia, referindo que "fez sempre essa relação, mas sobretudo alertando para as imperfeições" e para aquilo que é preciso corrigir.

"Falou da necessidade e nós estamos perfeitamente alinhados com essa preocupação com o combate às desigualdades, com combate à pobreza, com o combate à corrupção, mas há uma mensagem que eu queria destacar: a necessidade de rejuvenescer o país", enfatizou.

A dirigente do PSD assinalou que o Presidente da República "falou do envelhecimento" de Portugal, considerando que o país precisa de reter jovens.

"Precisamos de ter essa capacidade de oferecer boas condições, de sermos audazes, corajosos, nas medidas, nas políticas públicas para conseguirmos também cumprir esse desígnio de fixar os jovens cá", disse.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou este sábado que "a democracia está viva", embora não seja "perfeita nem acabada", e defendeu que tem de ser "mais livre, mais igual, mais justa, mais solidária".

Para o Presidente da República, é mais importante "viver com liberdade" e "sem repressão", "com tolerância e universalismo" do que com "fechamento". Com esta missiva no seu discurso do 5 de Outubro, Marcelo Rebelo de Sousa deixou claro que nem a República nem a democracia estão acabadas nem perfeitas mas estão vivas.

Foi com palavras de resistência que o Chefe de Estado começou a sua intervenção.

"O 5 de Outubro está vivo, a democracia está viva em Portugal. A República resistiu à fragilidade do parlamentarismo", considerou, enumerando outros momentos que abalaram Portugal, como a "Grande Guerra" e a "gripe Espanhola".

"Resistiu ao 28 de maio de 1926", frisou Marcelo, numa referência ao golpe que impôs a ditadura e o fim da primeira República.

"A República renasceu na coragem dos jovens militares no 25 de Abril de 1974", defendeu, e à "conturbada descolonização no meio de uma revolução", continuou.

No périplo pela história, Marcelo lembrou que "a República e a democracia viveram, em 86, a adesão às comunidades europeias" e em "2002 a efetiva adoção da moeda única".

O presidente da Cãmara de Lisboa, Carlos Moedas, é o primeiro a discursar na cerimónia.

Começa por destacar a "feliz coincidência" dos 114 anos da Implantação da República corresponderem aos 50 anos do 25 de Abril. No entanto, a grande data assinalada no discurso de Moedas foi os 500 anos do nascimento do poeta Luís de Camões.

"É uma viagem onde há tempestade e bonança", sublinhou, acrescentando que "Camões colocou-nos nessa caravela da história".

Mas rapidamente o discurso do autarca derivou para recados sobre a viabilização do Orçamento do Estado, centrando as palavras naqueles "que se desviam do seu passado", deixando um "aviso": "Quantas vezes nos desviámos do nosso caminho por interesses partidários".

"O próprio 5 de Outubro foi uma resposta contra a vaidade de políticos", afirmou.

"A República e democracia viram o mundo mudar de bipolar para unipolar e multipolar", continuou Marcelo Rebelo de Sousa na sua intervenção na cerimónia do 5 de Outubro, lembrando que a democracia também está a resistir "a guerras como a da Ucrânia e a do Médio Oriente".

O Presidente da República também deixou uma palavra para uma nação "sempre deimigrações, de falantes e não falantes de língua portuguesa", acrescentando também os "que vivemn cá dentro", referindo "1 milhão de não nacionais", entra os quais "predominam os lusófonos".

"Com 114 anos a República e 50 anos a democracia, estão vivas", repetiu Marcelo.

"A democracia está viva, não é perfeita nem acadaba, longe disso, mas está viva", continuou, lembrando "2 milhões de pobres e em risco de pobreza".

Carlos Moedas assegurou este sábado, no seu discurso do 5 de Outubro, que as tendas de imigrantes que estavam ao lado da Igreja dos Anjos foram retiradas e as pessoas alojadas.

O autarca continuou com o discurso centrado nos bombeiros.

"Um obrigado aos nossos bombeiros será sempre pouco", lançou.

As principais figuras do Estado, unidas, hasteiam a bandeira nacional na varanda da Câmara Municipal de Lisboa. Ouve-se novamente o hino nacional, tocado pela banda da Guarda.

Foi nesta varanda que há 114 anos foi proclamada a República.

O hino nacional abriu a cerimónia do 5 de Outubro com todos os protagonistas presentes, entre o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, Luís Montenegro e o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco.

Como é habitual, também estão presentes os líderes dos partidos com representação parlamentar.

Os discursos começam dentro de momentos.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai discursar hoje no 114.º aniversário da Implantação da República, data em que se tem dirigido aos políticos com mensagens sobre a qualidade da democracia.

Este é o primeiro 5 de Outubro no atual quadro de Governo minoritário PSD/CDS-PP chefiado por Luís Montenegro, na sequência das legislativas antecipadas de 10 de março, e acontece num contexto de negociações sobre o Orçamento do Estado para 2025.

Na tradicional sessão solene na Praça do Município, em Lisboa, marcada para as 11:00, o chefe de Estado irá intervir depois do presidente da Câmara Municipal, Carlos Moedas, na presença, entre outros, do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e do presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco.

Antes dos discursos, será hasteada a bandeira portuguesa na varanda do Salão Nobre dos Paços do Concelho, ao som do hino nacional.

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