Costa diz que "há gato" escondido no programa eleitoral do PSD
O secretário-geral do PS recusou esta terça-feira entrar num "pingue-pongue" de declarações com Rui Rio, mas acusou o PSD de ter um programa onde "há gato" escondido em matérias como o salário mínimo, pensões e saúde.
Estas críticas de António Costa foram feitas a meio de uma ação de rua do PS na baixa de Coimbra, tendo ao seu lado a cabeça de lista socialista por este círculo, a ministra Marta Temido, depois de confrontado pelos jornalistas com a sugestão esta manhã transmitida pelo presidente do PSD de que deveria terminar o seu mandato de primeiro-ministro com dignidade.
"Não vou estar a jogar pingue-pongue com o doutor Rui Rio. O meu diálogo é com os portugueses, explicando o que nós queremos continuar a fazer. Os portugueses conhecem-nos, sabem o que fizemos nos seis anos anteriores", respondeu, antes de citar dados sobre a evolução da economia portuguesa em termos de crescimento, de desemprego, e indicadores ao nível do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Depois, o líder socialista contra-atacou, dizendo que no programa do PS "não há gato".
"Nós temos um programa que é claro, que não está escondido, ninguém tem dúvidas sobre o que é que queremos. Não dizemos uma coisa hoje e outra coisa amanhã", disse, referindo-se a seguir aos sociais-democratas.
"O PSD é contra a subida do salário mínimo, mas chega às eleições e diz que não é. É contra o aumento extraordinário das pensões e chega às eleições e não é capaz de dizer o que faz. Sobre o SNS já disse tudo e o seu contrário. A falta de clareza não está aqui, está mesmo no nosso adversário", contrapôs.
Interrogado sobre as sondagens que apontam para um possível triunfo do PSD, António Costa contrapôs que a sua ideia é a de que os portugueses se preparam para dar uma vitória ao PS no próximo domingo.
"Cada um deve responder pelo seu programa, tudo às claras. Não deve haver gato escondido e deve ser tudo às claras", respondeu.
Ainda sobre um cenário de vitória do PSD, o líder socialista reagiu: "Quem sabe que vai ganhar são os portugueses. Cabe-nos expor e não esconder o seu programa".
"O doutor Rui Rio, em vez de se preocupar comigo, devia preocupar-se em expor o seu verdadeiro programa", acrescentou.
O secretário-geral do PS advertiu ainda que só uma vitória do seu partido garante este ano um aumento extraordinário das pensões, a subida do salário mínimo até 2026 e a manutenção de um Serviço Nacional de Saúde tendencialmente gratuito.
Estas posições foram transmitidas por António Costa no final de uma arruada na baixa de Coimbra, tendo ao seu lado a cabeça de lista socialista por este círculo eleitoral, a ministra Marta Temido.
Perante centenas de apoiantes, o líder socialista dramatizou, dizendo que no próximo domingo "está em causa um conjunto de escolhas decisivas para o país".
"Quando votarmos pelo PS, vamos votar pelos idosos que têm direito a uma Segurança Social forte e ao aumento extraordinário das pensões, que estava no Orçamento [para 2022] e que vai ser pago quando o Orçamento for aprovado", declarou.
Neste mesmo tom, António Costa prosseguiu a sua intervenção com referências aos salários.
"Vamos votar pelos trabalhadores que têm salário mínimo nacional e que querem que o salário mínimo nacional continue a subir. Vamos votar pelos trabalhadores que têm salário médio e que tem de aumentar. Vamos votar por todos os trabalhadores que têm direito a uma agenda de trabalho digna, sem precariedade, com salário justo e com boa conciliação entre as vidas profissional e familiar", disse.
Na cidade dos estudantes, para a juventude, António Costa advogou que o voto no PS se destina "à redução das propinas e à existência de bolsas para a frequências dos mestrados".
Depois, falou na intenção do PS de baixar o IRS para a classe média, para as famílias com filhos e para os jovens nos primeiros cinco anos de atividade.
"Com o PS, fica garantido um Serviço Nacional de Saúde [SNS] público, universal e sempre, sempre, sempre tendencialmente gratuito", completou.
Antes, Marta Temido já tinha feito uma intervenção na mesma linha.
"Não podemos correr o risco de deitar o SNS borda fora, porque é isso que está em causa", declarou, antes de atacar o PSD.
"Saibamos ler nas entrelinhas. É claro: Quando se diz [no programa do PSD] que se quer substituir o SNS por um sistema nacional de saúde, ninguém fica a saber porquê. Quando se diz que as taxas moderadoras são uma questão técnica, pretende-se esconder que essa questão técnica toca no bolso dos portugueses", sustentou.
Depois, Marta Temido invocou a obra política do fundador do PS e criador do SNS, António Arnaut.
"Quem é de Coimbra e viu o doutor António Arnaut defender o SNS, não esquece o património que temos na saúde pública. O SNS tem muito para melhorar, mas o SNS esteve lá nos piores dias, naqueles dias em que as ambulâncias faziam fila e não havia sítio para deitar doentes. Dias em que todos tínhamos o coração cheio de aflição", disse.
No próximo domingo, segundo a "número um" da lista do PS por Coimbra, "está em causa uma escolha entre dois modelos diferentes".
"Estamos do lado dos que precisam mais, dos que querem combater a pobreza, que querem emprego mais digno e melhores condições salariais. Valorizamos o Estado, porque o Estado é um guarda-chuva social para os piores momentos", acrescentou.