"Os recentes ciberataques são mais um espelho da ineficácia da organização atual das Forças Armadas", reage o Almirante Melo Gomes, ex-Chefe de Estado-Maior da Armada (CEMA) e porta-voz do Grupo de Reflexão Estratégica Independente (GREI), que junta quase todos os ex-chefes da Marinha, Exército e Força Aérea..Melo Gomes lembra que "a pseudo reforma das Forças Armadas, efetuada por um incompreensível acordo PS/PSD, tem um ano" e que foram sendo dados "alertas para as suas inúmeras deficiências, sem qualquer acolhimento por parte do poder político. Agora as consequências estão à vista! Hoje, a situação das Forças Armadas, é inegavelmente ainda pior!"..No espaço de pouco mais de um mês, entre meados de agosto e esta semana, o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) e o Ministério de Defesa Nacional (MDN) foram alvo de dois ciberataques de grande dimensão..O primeiro não chegou a ser detetado pelo sistema de ciberdefesa e, conforme o DN noticiou, foram os serviços de informações norte-americanos a avisarem o Governo português que tinha sido expostos na darkweb documentos classificados NATO exfiltrados do EMGFA e MDN - situação essa que fontes militares têm negado..O ataque desta semana já foi detetado, porque afetou o funcionamento de toda a internet no EMGFA e ainda no final da semana havia problemas no correio eletrónico. As suspeitas de nova exfiltração de documentos ainda estão a ser avaliadas..Ambos os casos estão sob investigação judicial do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) coadjuvado pela Unidade de Combate do Cibercrime da Polícia Judiciária (PJ)..O primeiro, com base na notícia do DN, pois as várias entidades informadas - Gabinete Nacional de Segurança, EMGFA e Serviço de Informações de Segurança - não comunicaram à PJ, apesar de esta polícia fazer parte do grupo "G4" onde são avaliados todos os ciberataques de maior dimensão, principalmente contra o Estado..O ex-CEMA Melo Gomes assinala a "contínua degradação em quantidade e qualidade dos efetivos, com o abandono dos quadros por parte de muitos dos mais preparados. Tal acontece por discriminação negativa nos vencimentos e pela exigência da condição militar chegando-se ao ponto de já não ser possível completar guarnições; por insuficiência de manutenção e de investimento, para o que basta citar o facto de a revisão da Lei de Lei de Programação Militar (LPM) estar, certamente por acaso, atrasadíssima", a que acrescenta situações de "atrito por intromissões na cadeia de comando operacional e administrativa"..O Almirante lamenta que tudo isto ocorra "sem que tenha havido qualquer consequência face às preocupações publicas manifestadas pelo Presidente da República no seu discurso de 25 de Abril e numa situação de conflito na Europa de consequências ainda por explicitar claramente aos portugueses".."A gravidade da situação não se pode mais cobrir com o "Manto Diáfano da Fantasia" nem com o adiamento de decisões imprescindíveis!", conclui..Questionado pelo DN sobre o investimento previsto para a ciberdefesa, cuja execução orçamental em 2021, no âmbito da LPM, ficou apenas nos 27%, o gabinete da Ministra da Defesa, Helena Carreiras sublinha que até 2030, em oito anos, portanto, está previsto um investimento de 45 490 000,00 €..Fonte oficial diz que "na revisão da LPM, que se encontra em fase de negociação interna no Governo, propõe-se não só a manter os compromissos programados entre 2023 e 2026 em matéria de ciberdefesa, mas também a reforçar o investimento na edificação de capacidades nas suas componentes estática e projetável, para a condução de todo o espetro de operações militares no ciberespaço pelas Forças Armadas e defesa da infraestrutura tecnológica da Defesa Nacional"..O gabinete recorda que "em maio, a Ministra da Defesa Nacional emitiu uma diretiva de revisão da LPM em linha com a mudança radical no ambiente de segurança internacional, provocada pela invasão russa da Ucrânia", sublinhando que esta "vai contribuir para a resposta nacional a essas mudanças, reforçando o investimento em novos domínios das operações, como a Ciberdefesa, e em projetos que mitiguem ou eliminem as lacunas do Sistema de Forças conexos com a satisfação de compromissos internacionais"..A isto acresce, adianta ainda a porta-voz de Carreiras, "o investimento em recursos humanos qualificados e em plataformas para reforçar a segurança e resiliência das redes afetas à Defesa Nacional, prioridade inscrita no Programa do XXIII Governo Constitucional para a Defesa Nacional"..Neste âmbito, esclarece, a Ministra "autorizou em agosto o reforço do quadro de pessoal da Secretaria-Geral do MDN para 2023, a afetar ao desenvolvimento das atividades de Direções de Serviços de Sistemas de Informação e Centro de Dados da Defesa. Aprovou, igualmente, a realização da despesa necessária à contratação pelo EMGFA de serviços de formação e consultoria especializados em ciberdefesa e na condução de operações militares no, e através do, ciberespaço para o novénio 2022-2030"..Sobre o alcance e fase de execução destas medidas autorizadas em agosto (aceleradas pelo ciberataque?), o MDN não adiantou mais informações..No entanto, está publicado em Diário da República um despacho assinado por Helena Carreiras, a cinco de agosto, que autoriza uma despesa de 11.5 milhões de euros (+ IVA) durante nove anos (2022-2030) para a "contratação de serviços de formação e consultoria adequados a fim de garantir a qualificação dos recursos humanos afetos à ciberdefesa nacional"..Já para este ano estão previstos 1.6 milhões de euros. Porém, ao que o DN soube de fontes as Defesa que acompanham as contratações, apesar da autorização da ministra ter sido dada no início de agosto, este processo ainda não avançou..O procedimento será através de convite prévio e já estarão identificadas três empresas, duas delas israelitas..O MDN não explica o porquê deste atraso.