Ainda não é claro quem serão os dois candidatos presidenciais que irão passar à segunda volta, com André Ventura, Marques Mendes e Gouveia e Melo a destacarem-se em relação a António José Seguro e a João Cotrim de Figueiredo na maior parte das sondagens. No entanto, a menos de um mês da ida dos portugueses às urnas, agendada para 18 de janeiro de 2026, ninguém duvida de que a sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa só deverá ficar decidida na 2.ª volta - algo que só ocorreu em 1986 - e que o candidato que ficar à frente na 1.ª volta será o vencedor com menor número de votos de sempre.Até hoje, todas as eleições presidenciais tiveram, pelo menos, um candidato com mais de dois milhões de votos, com a reeleição de Mário Soares, em 1991, a estabelecer o máximo (3.459.521 eleitores), nos antípodas da reeleição de Cavaco Silva, em 2011, que foi garantida por apenas 2.231.603 eleitores. Mas nunca antes houve a mesma dispersão de eleitorado que as sondagens demonstram, refletindo as transformações no sistema político, ao ponto de ninguém ultrapassar os 22% de intenção de voto que os recentes estudos da Universidade Católica e do ICS/ISCTE atribuem ao líder do Chega, André Ventura. .Tendo em conta que nas presidenciais de 2016, quando António Sampaio da Nóvoa ficou no segundo lugar, com 22,88% - sem impedir que Marcelo Rebelo de Sousa sucedesse a Cavaco Silva logo na primeira volta -, o antigo reitor da Universidade de Lisboa teve o voto de 1.062.138 portugueses, quer isso dizer que é possível que o vencedor da primeira volta destas eleições presidenciais fique aquém de um milhão de votos?Tal cenário é visto como improvável por Paulo Ricardo Lopes, que se tem dedicado ao estudo de tendências eleitorais. O autor do livro Legislativas 2024 - Os Factos Só Visíveis à Lupa prevê 5,5 milhões de eleitores nestas presidenciais, num nível de participação que não se verifica desde 2006, quando Cavaco Silva derrotou a candidatura independente de Manuel Alegre. Confirmando-se a análise do também conselheiro nacional da Iniciativa Liberal, haverá “milionários”, no que toca ao número de votos escrutinados, ainda que nenhum candidato tenha consigo mais do que 20% daqueles que irão escolher o próximo Chefe de Estado..Mas não está garantido que as posições relativas no “pelotão da frente” da corrida ao Palácio de Belém se mantenham tal como as sondagens indicam neste momento. Nesse sentido, mesmo admitindo que se espera muita dispersão de voto, perante o número de candidatos presidenciais com mais de 10% de intenção de voto e a proximidade de resultados entre os mais prováveis participantes numa eventual 2.ª volta, a politóloga Marina Costa Lobo diz que “até ao dia da votação pode haver mudanças”, tendo em conta a quantidade de inquiridos na sondagem ICS-ICSTE que admitiram poder alterar o seu voto.Marina Costa Lobo antevê que a dispersão de votos na 1.ª volta seja atenuada na reta final da campanha, justamente devido à proximidade das intenções de voto nos três candidatos que se têm destacado mais nas sondagens. “Havendo muita proximidade entre candidatos, a tendência será para mobilizar os votantes, que podem fazer a diferença em relação a quem serão os candidatos a passar à segunda volta”, defende.Quanto à possibilidade de um vencedor da 2.ª volta, marcada para 8 de fevereiro, iniciar o mandato de Presidente da República com legitimidade reduzida pelo reduzido número de votos que tenha recebido a 18 de janeiro, Marina Costa Lobo desvaloriza a questão. “Fica amplamente legitimado”, defende a investigadora principal do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, realçando que, nesse cenário, essa figura terá “superado duas rondas de votação”. Além disso, refere que uma baixa participação dos portugueses, na senda de anteriores presidenciais em que não havia candidato a reeleição no boletim de voto, “é um fenómeno que deve ser entendido como sendo responsabilidade de todos os candidatos à Presidência da República”. “E, já agora, do antecessor também”, acrescenta. Certo é que, entre os cinco eleitos para a Presidência da República desde a Revolução do 25 de Abril - após António de Spínola e Costa Gomes serem apontados para o cargo pela Junta de Salvação Nacional -, um deles foi o que teve menos e mais eleitores consigo na primeira volta. Em 1986, Mário Soares ficou a mais de um milhão de votos do centrista Diogo Freitas do Amaral, mas não só conseguiu superá-lo na inédita segunda volta, beneficiando do voto útil da esquerda, como se tornou recordista aquando da reeleição, em votos (3.459.521) e em percentagem (70,35%), pois o PSD de Cavaco Silva abstraiu-se das presidenciais de 1991, permitindo o melhor resultado de sempre de candidatos apoiados apenas pelo CDS (Basílio Horta) e pela CDU (Carlos Carvalhas).Quatro décadas decorridas desde a experiência de uma segunda volta, André Azevedo Alves, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, assinala que a falta de um frontrunner, comparável ao que Freitas do Amaral foi em 1986, marca a diferença nestas presidenciais. “Mesmo que daqui até às eleições haja um candidato que consiga 25% ou 30%, dificilmente haverá dois, a menos que o outro seja André Ventura”, diz o professor catedático. Ainda que, num campo tão dividido, o líder do Chega tenha potencial vantagem na primeira volta, pois basta-lhe fidelizar grande parte do eleitorado que deu mais de um milhão de votos ao partido nas legislativas de 2024 e de 2025..14 candidatos disputam maior corrida da história em Presidenciais em Portugal.Sorteio coloca Ricardo Sousa em primeiro e Gouveia e Melo em último nos boletins de voto das presidenciais