A coordenadora do Bloco de Esquerda anunciou que não se recandida a um novo mandato. Numa mensagem enviada aos militantes e à qual o DN teve acesso, Mortágua justificou a decisão com o facto de não ter cumprido o objetivo traçado."Comunico-vos que decidi não me candidatar a um novo mandato de coordenadora do Bloco de Esquerda. Tomo esta decisão com a tranquilidade que me deu o constante apoio de todos os meus camaradas ao longo de todo este tempo", escreveu Marina Mortágua, lembrando que quando assumiu esse desafio há dois anos e meio o fez sabendo das "difíceis condições políticas" da esquerda e do Bloco. "Depois do colapso da maioria absoluta do PS e com o reforço da direita e da extrema-direita era preciso encontrar outros caminhos", recorda."Considero que esse objetivo não foi cumprido. Não apenas porque continuou a redução do espaço eleitoral do Bloco, mas também porque a renovação que então fizemos não se revelou suficiente para relançar a nossa intervenção social", justifica."Faço-o por acreditar que o Bloco beneficiará de ter, na coordenação e no parlamento, pessoas com melhores condições do que aquelas que hoje tenho para dar voz ao partido", acrescenta."Nestes dois anos e meio, a precipitação de sucessivas campanhas eleitorais tirou espaço e tempo à nossa reflexão interna e prejudicou uma transformação efetiva do funcionamento do Bloco. A direção por mim encabeçada foi incapaz de inverter a excessiva centralização da estrutura do Bloco e gerar um novo impulso político e eleitoral", assume, referindo-se ainda às "empenhadas campanhas de ódio" dos adversários. "Mas o certo é que não conseguimos neutralizá-las", diz.Mariana Mortágua afirma que caberá a cada uma das moções presentes à próxima Convenção apresentar as suas alternativas de direção e alerta que "a esquerda em geral – e o Bloco em particular – atravessa um período difícil e não é só no nosso país".Nesta carta enviada aos militantes na véspera da reunião da Mesa Nacional, que se realiza este domingo, Mortágua defende que "o Bloco tem a história, as ideias, a coerência e a militância" para enfrentar estes tempos e "para surpreender mais uma vez quem se assanha" para atacar a esquerda. Não temos medo e venceremos os novos fascistas e toda a opressão com a força da ideia socialista", diz, garantindo que será parte desse caminho e que o partido pode continuar a contra com ela.Mais tarde, numa declaração, Mortágua explicou que esta foi uma decisão pessoal e que deixará de ser deputada após a votação final do Orçamento do Estado para 2026. “Pretendo concluir o processo orçamental que iniciei e depois disso sair do Parlamento”, disse.A ainda coordenadora do Bloco de Esquerda deixa a liderança do partido, mas garantiu que não deixa a política. “Estarei aqui para o futuro do Bloco de Esquerda, estarei aqui para construir a esquerda. Sou também parte desse futuro, ainda que não como coordenadora", afirmou, garantindo que o afastamento da vida política "é uma impossibilidade."Quero fazer política, quero mudar a vida do país, quero lutar pelo país, pelo meu povo, quero lutar pela esquerda, pela igualdade, e continuarei certamente a fazer política e continuarei a fazer política dentro do Bloco de Esquerda, contribuindo para o Bloco de Esquerda. Acho que tenho muito para dar”, afirmou, recusando comentar o perfil adequado do sucessor. “Essa é uma decisão que cabe ao Bloco de Esquerda tomar, que cabe aos militantes e à próxima direção, e esse é um processo que continua agora num debate que se fará na convenção", disse.Pureza rejeita cenários precipitados.Apontado pela RTP como possível sucessor, José Manuel Pureza rejeitou, numa nota enviada à Lusa, "cenários precipitados" e manifestou-se confiante de que o partido encontrará uma solução."No Bloco, cada moção apresentará à Convenção Nacional a sua proposta de orientação política e a sua solução de direção. Há, na moção que subscrevo, várias pessoas com grande capacidade para coordenar o Bloco", afirmou Pureza, que é subscritor da moção 'A', até agora encabeçada por Mariana Mortágua."Estou empenhado nela exatamente da mesma forma que todos os meus camaradas. Nem mais nem menos. Estou certo de que saberemos encontrar na próxima Convenção do Bloco uma solução que dê força ao Bloco. Até lá, todos os cenários são precipitados", remata na nota.O sucessor será encontrado na 14.ª Convenção Nacional do Bloco de Esquerda, marcada entretanto para os dias 29 e 30 de novembro e com cinco moções a debate..Bloco defende-se de crítica nas coligações: “Melhorámos a representação que podíamos ter”