"Troca-tintas". Depois do chumbo do tempo dos professores, todos culpam todos
PSD atacou PS; PCP atacou PSD, CDS e PS; BE criticou PS, PSD e CDS; PEV apontou o dedo ao PSD, CDS e PS; e PS responsabilizou PSD, CDS, BE e PCP. Foi um final de manhã animado na Assembleia da República.
Mário Nogueira assistiu das galerias da Assembleia da República ao chumbo de todas as propostas que poderiam devolver aos professores os nove anos, quatro meses e dois dias que os sindicatos têm exigido, com os partidos parlamentares a ensaiarem um passa-culpas entre todas as bancadas parlamentares, sem exceção.
Depois de, na semana passada, o secretário-geral da Fenprof ter anunciado uma vitória dos docentes, esta sexta-feira, no mesmo Parlamento, o resultado foi bem diferente: PSD e CDS apresentaram alterações ao texto que tinham aprovado com BE e PCP, na comissão parlamentar de Educação, e estas foram chumbadas por socialistas, bloquistas e comunistas. E sobre a recuperação integral do tempo, os professores ficaram a ver zero - PS, PSD e CDS chumbaram essas propostas. Tudo como se antecipava desde segunda-feira.
No período de debate das propostas avocadas, Margarida Mano, do PSD, defendeu que a proposta do seu partido "traduzia um firme compromisso para com a Educação" e "a justa recuperação de tempo de serviço para os professores", que foram "chumbadas pelos partidos que apoiam o governo".
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A deputada - que assinou pelo PSD na quinta-feira da semana passada o acordo com o BE, PCP e CDS - deixou claro que os sociais-democratas não abdicam "destes princípios". "Nunca o fizemos", disse, "somos um partido de direitos e deveres".
Para Margarida Mano, o PSD olha "para as pessoas, para os alunos e para os professores, com sentido de responsabilidade", apontando o dedo aos socialistas. "Estamos aqui por responsabilidade exclusiva do PS", atirou, recordando que o partido "congelou em 2007", "descongelou em 2009 antes das eleições" e "voltou a congelar a seguir às eleições". Para os sociais-democratas, "o primeiro-ministro instala o caos", depois de os socialistas serem "a favor do tempo todo sem condições, mas contra o tempo com condições".
O líder parlamentar do PCP, João Oliveira, ainda atirou um "troca-tintas", motivando protestos muito ruidosos dos sociais-democratas.
Neste ambiente a ferver, Joana Mortágua, pelo BE, apontou o dedo ao velho arco da governação. "Hoje é o dia em que caem as máscaras", com o PS a votar "contra os travões que diziam ser necessários" e com PSD e CDS contra "o que disseram ser de justiça". A bloquista voltou a insistir que os socialistas mostraram "até onde" eram capazes "de ir pela ambição da maioria absoluta", enquanto PSD e CDS usaram uma "artimanha para sacar o voto dos professores".
"O PS não hesitou em deixar nas mãos da direita o fim da legislatura", acusou, lembrando também que "Assunção Cristas e Rui Rio sabiam o que votaram". "Fica mal o país quando os partidos não são fiéis às suas votações", disse.
Pelo PCP, Ana Mesquita foi mais dura para quem tinha estado a seu lado a assinar o acordo. E não poupou Margarida Mano, recordando que a deputada social-democrata tinha dito, no final da reunião em que tinha sido aprovada a contagem integral: "O fundamental tinha sido fixado no texto da comissão", afirmou Mano, agora citada por Mesquita.
A comunista sublinhou que as propostas da direita não eram "meras salvaguardas financeiras", por anularem "a concretização da contagem integral". "Viabilizar isto seria passar um cheque em branco para a revisão das carreiras", notou, afirmando que PSD e CDS tinham "uma oportunidade para mostrar que o PS não os enfiou no bolso": "Votem favoravelmente o texto que aprovaram e tão bem defenderam até ao fim de semana."
Também Heloísa Apolónia, d'Os Verdes, acompanhou as críticas à deputada social-democrata de que "Margarida Mano não pode fazer um apagão sobre as suas declarações como o governo quer fazer do tempo dos professores". "PSD e CDS viraram bico ao prego", atirou.
Já o socialista Porfírio Silva disparou contra Rui Rio, quando "o próprio veio reconhecer que é impossível fazer as contas". Referindo-se às cláusulas de salvaguarda, apresentadas pela direita, o deputado do PS notou que estas "seriam a desculpa de mau pagador para Rui Rio não fazer o que votaram aqui", se fosse primeiro-ministro.
Para os socialistas, "as nossas cláusulas de sustentabilidade são as contas certas, de toda uma legislatura, que permitiram recuperar rendimentos e direitos". "Não se recupera o tempo de serviço dos professores que os senhores atiraram para o desemprego", defendeu, sublinhando que "não é o PS que está a tentar sair da fotografia da última ceia da coligação negativa".
Por fim, Ana Rita Bessa, do CDS, reiterou que a sua proposta "é conhecida há dois anos" e que os socialistas fecharam "a porta a uma proposta responsável e equilibrada".
No final das votações, todos os partidos anunciaram declarações de voto oral. E, perante uma acusação do PCP ao PSD, de que tinham apoiado o PS "em tudo o que é negativo para os trabalhadores", Fernando Negrão atirou: "Nós não suportamos o PS." O líder parlamentar social-democrata criticou Costa, por ser um primeiro-ministro "em geringonça que quer ser primeiro-ministro a todo o custo e a toda a pressa sem geringonça".
Por sua vez, Porfírio Silva, do PS, citou o deputado social-democrata Hugo Soares, para notar que "sempre que Rui Rio tem uma aflição, culpa o grupo parlamentar". Hugo Soares já não estava na sala para ouvir o socialista.
Fora do Parlamento, no final das votações, o sindicalista Dias da Silva, da FNE, disse-se "animado para as próximas etapas", admitindo que terá de se "equacionar" se faz sentido manter a greve neste "novo cenário", em que "todos os partidos à exceção do PS" são favoráveis aos "9A4M2D". Dias da Silva defendeu que devem continuar a realizar-se "ações, todos os dias, que demonstrem que os professores não estão desmobilizados".