Pedrógão Grande. Ministério Público arquiva inquérito sobre suspeita de desvio de donativos

O inquérito sobre o alegado desvio dos donativos às vítimas do incêndio de Pedrógão Grande foi arquivado pelo Ministério Público devido a uma "dificuldade insuperável" no decurso da investigação, avança o jornal Sol.
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O Ministério Público arquivou o inquérito sobre a suspeita de desvio dos donativos às vítimas do incêndio de Pedrógão Grande, em 2017, avançou o jornal Sol ao princípio da tarde.

De acordo com fonte judicial, citada pela publicação, a investigação deparou-se com uma "dificuldade insuperável". A fonte explica que em relação aos donativos doados "às instituições estas dispunham de listagens dos bens doados, isso já não acontecia com os cidadãos particulares que agiram movidos pela solidariedade sem guardarem qualquer fatura das compras efetuadas".

Os donativos em espécie estão armazenados em armazéns cedidos pela câmara de Pedrógão Grande. O processo em causa estava a cargo do DIAP de Coimbra, e foi instaurado na sequência de uma notícia publicada pelo jornal Expresso, a 28 de julho de 2018, " levantando a suspeita de desvio de donativos, em dinheiro e em bens materiais, efetuados na sequência do incêndio de 17.06.2017 que afetou, nomeadamente, o concelho de Pedrógão Grande".

O despacho do Ministério Público - com data de 26.02.2019 - concluiu não ter sido demonstrado o desvio de qualquer verba doada, fosse por parte da autarquia ou por outrem, pois todos os cheques recebidos foram depositados em conta, o mesmo sucedendo com os donativos em dinheiro confirmados. O MP concluiu também que os montantes depositados na conta aberta junto do BPI com a designação "Município de Pedrógão Grande - Incêndios 2017" se mantêm intocados. Em causa estão 358.642,76 euros, tal como o presidente da Câmara declarou ao DN, em entrevista exclusiva publicada na segunda-feira passada.

"Da mesma forma, não se confirmaram as suspeitas de desvios de bens materiais, designadamente os enviados por uma imobiliária, apurando-se que afinal não se trataram de 19 camiões, mas apenas de um, e que os materiais destinados à Câmara Municipal de Pedrógão Grande (com vista a equipar as casas em reconstrução) se encontram em armazém", refere um comunicado da Câmara, enviado esta tarde aos jornalistas, na sequência da notícia de arquivamento do inquérito, por não haver indícios de crime.

O comunicado adianta que "autarquia e o seu presidente não esperavam outro resultado face à transparência e lisura que sempre foram a marca dos seus procedimentos, e nunca deixaram de confiar na atuação do MP, que se deteve no rigor dos factos e se manteve imune às campanhas persecutórias que lhes estão a ser movidas, com puras motivações políticas e cegamente indiferentes às consequências para o bom nome dos pedroguenses e para a generosidade dos cidadãos".

"Estou aliviado. Só tenho arranjado problemas para a minha saúde", disse Valdemar Alves, presidente da Câmara Municipal de Pedrógão Grande, ao jornal Sol, reagindo ao arquivamento do inquérito. "Com a minha experiência de vida, aguento bem isto, mas para a minha família, sobretudo a minha mulher, tem sido muito duro", afirmou ainda o autarca referindo-se às suspeitas sobre a gestão de donativos que que têm vindo a público ​​​​​

Em entrevista ao DN, Valdemar Alves disse ter a "consciência tranquila" em relação à gestão dos donativos e aos fundos para a construção das casas. "Não fiquei com um cêntimo de ninguém", garantiu.

Também o Primeiro-Ministro, António Costa, se pronunciou ontem sobre o caso da distribuição dos donativos em Pedrógão Grande, considerando "importante que se esclareça". Costa participava no programa de entretenimento de Cristina Ferreira, na SIC, e admitiu que o tema também o incomoda: "Claro que faço perguntas, como toda a gente. Na altura nós criámos um fundo para procurar organizar esses donativos e a generosidade espontânea. os cidadãos deram muito e optaram, provavelmente por falta de confiança no Estado, por dar diretamente a diversas entidades e não necessariamente através dos mecanismos que tínhamos criado. Quando vi aqueles armazéns percebi que as coisas dificilmente podiam correr bem...", disse. O Primeiro-Ministro sublinhou ainda que "os donativos que vieram para o Estado foram todos auditados, os que não são do Estado têm de ser esclarecidos".

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