Secretário de Estado do Ambiente demite-se
O "Familygate" faz a sua primeira vítima no elenco governativo. Contrariado, Carlos Martins foi obrigado a pedir a demissão de secretário de Estado do Ambiente.
Em causa esteve o facto de se ter ficado a saber, pelo Observador, que Carlos Martins nomeara um primo, Armindo Alves, para o seu gabinete, como adjunto - relação familiar que o seu ministro, João Pedro Matos Fernandes, alega que não conhecia.
Ontem o adjunto demitiu-se mas a situação tornou-se insustentável para quem o nomeara, o secretário de Estado Carlos Martins.
O caso colidia diretamente com a doutrina que o primeiro-ministro estabelecera dias antes, para se defender das acusações de nepotismo de que o seu Governo e o PS têm vindo a ser alvo nas últimas semanas - e que aliás já chegou à imprensa estrangeira,
Numa entrevista Dinheiro Vivo/TSF publicada no sábado passado, o chefe do Governo considerou que só haveria uma "questão ética se alguém nomeasse um familiar seu". "Não vi um único exemplo de alguém que tenha nomeado um membro da sua própria família", assegurou então. Ora foi precisamente isso que aconteceu com o secretário de Estado agora demissionário: nomeou um primo para seu adjunto.
Ontem à noite, Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do partido, deu sinal da incomodidade nas hostes socialistas com o caso de Carlos Martins dizendo na SIC-Notícias que a nomeação de Armindo Alves pelo seu primo fora "profundamente errada e inadequada".
O ministro do Ambiente ainda tentou segurar o seu secretário de Estado argumentando, via fontes do seu gabinete, que com a demissão do adjunto Armindo Alves considerava a situação resolvida.
A demissão foi anunciada numa nota de imprensa emitida pelo gabinete do ministro do Ambiente. "O Secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, em representação do Governo português na Costa Rica, apresentou, hoje, o seu pedido de demissão", lê-se nessa nota.
A qual acrescenta: "Estou em missão de trabalho no estrangeiro e tomei conhecimento da polémica em torno da nomeação de um membro da equipa do meu gabinete. Ao longo destes anos, enquanto secretário de Estado do Ambiente, agi sempre por critérios de boa-fé e procurei dar o meu melhor para atingir os objetivos do Governo e do Ministério do Ambiente e da Transição Energética. Entendo que o assunto pode prejudicar o Governo, o Partido Socialista e o senhor primeiro-ministro. Com a mesma honra que determinou a minha aceitação de funções governativas, entendo, nesta hora, pedir a minha demissão ao senhor primeiro-ministro e ao senhor ministro".
"A demissão foi aceite pelo ministro e pelo primeiro-ministro", conclui o comunicado governamental.
Permanece por saber quem substituirá Carlos Martins - mas hoje à tarde o primeiro-ministro poderá já levar um nome ao Presidente da República.
Minutos depois da nota da demissão, o ministro do Ambiente emitiu um comunicado elogiando Carlos Martins. João Pedro Matos Fernandes "vem publicamente agradecer todo o seu empenho profissional e político e registar os seus relevantes sucessos, conseguidos ao longo dos mais de três anos em funções".
Entre esses "relevantes sucessos" devem destacar-se, na visão do ministro, "o processo de fusão dos sistemas municipais de gestão de águas, os novos planos de gestão de recursos hídricos, a condução do processo de adaptação do território às alterações climáticas e uma nova política de gestão para os resíduos sólidos urbanos, fundada nos princípios da economia circular".
"No contexto das políticas do ministério, a ação generosa e esclarecida do Carlos Martins foi de importância capital e deixa um legado de futuro que iremos continuar, desenvolver e aprofundar", conclui a nota ministerial.