Ferro diz que Cristas foi "incorreta". Cristas responde que Ferro é "parcial"
Assunção Cristas acusou esta quarta-feira Ferro Rodrigues de, a propósito do caso de Tancos, "estar mais preocupado em proteger o PS do que o Parlamento".
"Não estávamos habituados a um presidente da Assembleia tão parcial", disse a presidente do CDS, no final de uma visita a uma fábrica de carpintaria industrial, em Vila Nova de Gaia.
Cristas comentava assim o facto de Ferro Rodrigues ter recusado enviar para o Ministério Público declarações feitas na Assembleia da República tanto pelo ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, como pelo primeiro-ministro, António Costa.
As declarações da líder do CDS surgem já depois da reunião da conferência de líderes, que decorreu ao final da manhã desta quarta-feira, e onde Ferro Rodrigues leu uma nota em que considerou que a presidente do CDS e deputada Assunção Cristas se lhe dirigiu de "forma inapropriada, incorreta e injustificada".
"Tendo, enquanto Presidente da Assembleia da República, de forma inapropriada, incorreta e injustificada, sido interpelado pela presidente do CDS e deputada à Assembleia da República, Assunção Cristas, sobre o envio ao Ministério Público de declarações prestadas no Parlamento pelo antigo ministro da Defesa Nacional e pelo primeiro-ministro, informo que as mesmas se encontram disponíveis na página do Parlamento na Internet, sendo do conhecimento público e acessíveis sem quaisquer restrições ou condicionalismos", disse Ferro Rodrigues aos líderes parlamentares dos vários partidos.
"Todos os elementos e informações requeridos pelo Ministério Público à 'Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as consequências e responsabilidades políticas do furto do material militar ocorrido em Tancos' foram pronta e diretamente enviados por esta (em concreto, o resultante de depoimentos feitos em reuniões à porta fechada, uma vez que o mais é, nos termos da lei, público)", disse ainda o presidente do parlamento.
No final da conferência de líderes, Nuno Magalhães, líder parlamentar do CDS, já tinha deixado críticas à atuação de Ferro Rodrigues, lembrando que este é "presidente de todos os deputados".
De acordo com o deputado centrista, Ferro respondeu ao pedido de envio das declarações ao Ministério Público questionando "a propósito de quê" é que faria isso. "Quando foi Joe Berardo não foi preciso nada" para que Ferro enviasse as declarações do empresário madeirense ao Ministério Público, apontou ainda Nuno Magalhães, considerando que a Assembleia da República "não saiu dignificada" da reunião de hoje.
Nuno Magalhães diz que "o que foi enviado para o Ministério Público foi aquilo que o MP pediu". O CDS quer que seja entregue "tudo o que foi dito [no Parlamento] pelos vários intervenientes, quer nas sessões plenárias, quer na comissão de defesa".
A conferência de líderes parlamentares surgiu na sequência de um pedido do PSD que, num requerimento dirigido a Ferro Rodrigues, na última segunda-feira, solicitou uma reunião "com caráter de urgência" para agendar um debate sobre Tancos na Comissão Permanente (que substitui o plenário da Assembleia da República), invocando uma "suspeita da conivência do primeiro-ministro" com a encenação em torno das armas roubadas em Tancos e encontradas depois na Chamusca. O debate acabou por ser marcado para quarta-feira da próxima semana, já depois das eleições legislativas, uma data proposta por Ferro Rodrigues e aprovada por PS, BE, PCP e PEV.
PSD e CDS, que queriam discutir o tema no Parlamento ainda no decorrer desta semana, foram contra.