Poder
30 outubro 2020 às 09h16

"Estranho, muito estranho". Ana Gomes reage à morte do marido de Isabel dos Santos

Sindika Dokolo, marido da filha do ex-presidente de Angola e colecionador de arte, morreu esta quinta-feira, aos 48 anos, no Dubai, onde vivia atualmente com a família.

Paula Freitas Ferreira

Partilhou " target="_blank">o tweet de João Cordeiro, que dava conta da morte de Sindika Dokolo, durante um mergulho no Dubai. E comentou: "Estranho. Muito estranho...", para logo a seguir voltar ao tema "Angola", desta vez sobre a prisão da ativista Laura Macedo. A candidata presidencial Ana Gomes não moderou as críticas, sobretudo no Twitter, onde sempre foi muito ativa.

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"Mas o que realmente hoje mais importa em Angola é que Laura Macedo, corajosa ativista pela transparência e anticorrupção, está presa. E não devia estar. #FreeLauraMacedo!", escreveu a antiga eurodeputada.

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Em causa, o facto do nome de Sindika Dokolo e de Isabel dos Santos apareceram em vários documentos divulgados pelo chamado Luanda Leaks, uma investigação que dava conta de uma série de transferências para offshores de fundos pertencentes ao estado angolano, que se encontra atualmente sob investigação em Angola e Portugal.

O empresário e Isabel dos Santos foram alvo de arresto de bens e participações sociais em empresas, em dezembro do ano passado, por determinação do Tribunal Provincial de Luanda.

"Foi durante um mergulho submarino que partiste para a eternidade. Uma atividade habitual que te afastou do teu combate, dos teus próximos. Descansa em paz", confirmou no Twitter Michée Mulumba assistente do atual presidente da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi

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Em nota enviada às redações nesta sexta-feira, a família Dokolo agradeceu "as mensagens de condolências pelo passamento físico de Sindika Dokolo", lê-se num tweet da rádio Voa Português.

"A família agradece a todos os que expressaram sentimentos de pesar, solidariedade e bondade e que partilham a nossa dor", lê-se ainda.

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Em janeiro, soube-se que 715 mil documentos constavam da massiva fuga de informação que levou à investigação por um consórcio de jornalistas e que ficou conhecida como Luanda Leaks.

Servirão como prova de que a fortuna de Isabel dos Santos, a filha mais velha do homem que presidiu a Angola durante 38 anos, foi construída com base em nepotismo e negócios duvidosos, à custa de Angola e dos angolanos. Há portugueses envolvidos.

Entretanto, Rui Pinto assume-se como a fonte do Luanda Leaks, e Ana Gomes nunca deixou de justificar a sua defesa do hacker - que sempre considerou um denunciante (whistleblower) - com o facto de ter exposto os negócios "sujos" de Isabel dos Santos e família, que a então eurodeputada já havia denunciado.

Também em janeiro deste ano, a joalharia De Grisogono, detida parcialmente por Sindika Dokolo, anunciou que entrou em falência, depois de não ter conseguido encontrar um comprador e perante a acumulação de dívidas.

De acordo com a imprensa suíça, a decisão surgia na sequência do "Luanda Leaks".

O Procurador-Geral de Angola, Hélder Pitta Grós, admitiu que entre os processos em investigação está o financiamento com dinheiros públicos da empresa pública de diamantes, Sodiam (200 milhões de dólares, 180 milhões de euros] para a compra da joalharia De Grisogono.

No despacho-sentença que determinou o arresto de bens de Isabel dos Santos, divulgado no final do ano passado, é dito que em audiência de produção de prova, ouvidas as testemunhas, resultou provado, entre outros factos, que, em agosto de 2010, o executivo angolano, chefiado então por José Eduardo dos Santos, decidiu comercializar diamantes angolanos no exterior do país.

Ficou também provado que "o antigo Presidente da República decidiu investir numa empresa suíça - De Grisogono/Joalharia de Luxo - que se encontrava em falência técnica em virtude de uma dívida para com os bancos UBS-Banco Cantonale de Genebra e BCV".

Segundo a providência cautelar de arresto, ficou igualmente provado que José Eduardo dos Santos decidiu comprar a dívida da sociedade De Grisogono/Joalharia de Luxo junto dos bancos e "oferecer o negócio a Isabel dos Santos e Sindika Dokolo, sua filha e genro".

Nuno Ribeiro da Cunha, diretor do private banking do EuroBic e gestor que autorizou a transferência de milhões de dólares da conta da Sonangol para uma empresa detida por Isabel dos Santos, foi encontrado morto, a 23 de janeiro, pouco depois de se ter tornado pública a fuga de documentos.

O diretor do Eurobic tinha sido constituído arguido, no dia anterior à sua morte, juntamente com Isabel dos Santos, num processo em que são também arguidos Sarju Raikundalia, ex-administrador financeiro da Sonangol, Mário Leite da Silva, gestor da empresária e presidente do conselho de administração do Banco de Fomento Angola (BFA) e Paula Oliveira, amiga de Isabel dos Santos e administradora da NOS.

De acordo com o Expresso, que faz parte do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), responsável pela investigação que recebeu o nome Luanda Leaks, foi apenas questão de um dia, entre sair a notícia de que o conselho de administração da Sonangol tinha sido exonerado (e Isabel dos Santos deixar a companhia angolana) e a tomada de posse da nova equipa para que a conta da empresa fosse esvaziada.