STCP: "Nada justifica a situação ocorrida"

STCP diz ter exigido suspensão do segurança que agrediu Nicol Quinayas. E que não lhe cabe ouvir a versão da jovem colombiana
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"A STCP não investiga nem julga. Estamos num estado de direito e cabe praticar esses atos a quem tem competência para tal. Tem autoridade apenas para inquirir funcionários seus." É assim que a transportadora responde às questões do DN sobre o inquérito interno que anunciou a propósito da agressão a Nicol Quinayas. Esclarece também que esta não vai ser ouvida nesse inquérito. Mas admite compreender a indignação face à situação ocorrida, considerando que "nada a justifica".

Nas respostas que António Cunha Vaz, cuja empresa faz a comunicação da STCP, enviou ao DN para esclarecer questões sobre o inquérito interno que a transportadora anunciou ter aberto na sequência das agressões a Nicol Quinayas na manhã de 24 de junho, no Porto, é também certificado que a STCP exigiu a suspensão do segurança.

"A STCP agiu como tinha que agir. Informou a empresa 2045 de que exigia a suspensão do referido agente de segurança, informou a Embaixada da Colômbia do que se tinha passado e do que tinha feito para tentar apurar responsabilidades, disponibilizou-se para colaborar - como não podia deixar de ser - com a polícia e internamente aferiu sobre a correção dos procedimentos."

Cunha Vaz explicou ao DN que o inquérito interno instaurado pela SCTP apenas tem como objeto o comportamento dos seus funcionários "em serviço na noite do incidente" porque só sobre eles tem autoridade. Esse inquérito, prossegue o esclarecimento, "é interno e dele não é dado conhecimento público a não ser a autoridades de polícia ou judiciais."

Por outro lado, Nicol não poderia ser ouvida nesse inquérito, diz a STCP, porque a lei não permite à empresa ouvi-la. Aliás, aparentemente o inquérito terá já terminado, uma vez que num comunicado exarado no início da noite a SCTP se congratula com o "comportamento exemplar" dos referidos funcionários.

Neste comunicado, a empresa precisa que a comunicação com a Embaixada da Colômbia se efetuou por carta enviada no dia 28 de junho em que se repudiava, "em nome dos Trabalhadores desta empresa e do Conselho de Administração, qualquer forma de discriminação".

Contrato com 2045 pode estar em causa

Quanto à empresa 2045, além da exigência de que o funcionário em causa deixasse de prestar qualquer serviço à STCP, esta avisa que "não deixará de apurar os danos de imagem e reputação" que a 2045 esteja a causar e que "agirá em conformidade após a conclusão" do inquérito policial.

O DN quis ainda saber, junto da SCTP, a que versões contraditórias esta se referia a 26 de junho, quando foi questionada pelo jornal sobre o ocorrido. Cunha Vaz esclarece que "a informações que transmitimos como sendo contraditórias constam de vários posts colocados desde o dia 25 nos sites de alguns media, obviamente indignados com a situação ocorrida." Na verdade, a 25 não existiam ainda quaisquer notícias sobre o caso em media portugueses ou estrangeiros, pelo que se depreende que é a publicações de redes sociais que se refere.

Nicol Quinayas, de 21 anos, nascida na Colômbia mas a viver em Portugal desde os cinco, foi violentamente agredida, na madrugada de 24 de junho, no Porto, por um segurança da empresa 2045 a exercer funções de fiscalização de títulos para a empresa STCP. Nicol, assim como duas amigas que a acompanhavam e pelo menos uma testemunha ouvida pelo DN alegam que o segurança proferiu vários insultos racistas, nomeadamente "preta de merda, se queres apanhar um autocarro apanhas no teu país."

A jovem, que garante não ter sido sequer identificada pela PSP quando esta foi chamada ao local, apresentou queixa contra o segurança, cuja identidade até agora não foi divulgada, no dia 24 à noite, na esquadra da Corujeira. Aí, foi-lhe dito que não havia qualquer registo do ocorrido. A Direção Nacional da PSP veio a admitir que o auto da ocorrência da manhã de 24 só daria entrada a 27, quando o assunto já fora objeto de várias notícias. O ministério da Administração Interna ordenou já à Inspeção Geral da Administração Interna que averigue os termos da atuação da PSP.

Após BE e PCP terem dirigido perguntas ao MAI sobre o caso, e de o PS, pela voz do presidente do grupo parlamentar, Carlos César, ter certificado que este não pode ser tratado como uma vulgar escaramuça e ser "desvalorizado", perguntando se "a PSP agiu bem", o ministro Eduardo Cabrita garantiu, em comunicado, tolerância zero para "fenómenos de violência e manifestações de cariz racista ou xenófobo". Também a Câmara do Porto condenou hoje, por unanimidade, a agressão a Nicol Quinayas, classificando-a como um "intolerável ato de violência racista".

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