Seis anos de prisão por dar duas facadas em Tavinho, jogador do Farense
O homem de 31 anos que esfaqueou, em março do ano passado, o futebolista Tavinho foi condenado a seis anos de prisão no Tribunal de Faro, pelo crime de tentativa de homicídio qualificado. Sem que a motivação do crime ficasse apurada, ficou provado que Nelson Sousa desferiu duas facadas no jogador do Farense à porta de um bar em Vilamoura. Terá ainda de pagar uma indemnização de 25 mil euros ao futebolista por danos morais. O futebolista de 25 anos disse em tribunal que chegou a pensar que podia ter acabado ali a sua carreira e que, após recuperar, o seu rendimento profissional ficou afetado.
Em julgamento o coletivo do tribunal decidiu condenar Nelson Sousa por homicídio qualificado na forma tentada. Os juízes entenderam que Nelson Sousa agiu de forma surpreendente, sem motivo aparente e com uma conduta especialmente censurável quando atacou Octávio Barros, conhecido por Tavinho. Sabia, concluiu o tribunal, que podia causar a morte. Pela posse da faca utilizada no crime, o arguido foi absolvido do crime de detenção de arma proibida por se tratar de uma faca de cozinha. O acórdão foi lido na passada sexta-feira, dia 25.
Eram 05.00 de 19 de março de 2018 quando o crime ocorreu, à saída do bar Iluminati, em Vilamoura. Foi dado como provado que Tavinho estava a conversar com o companheiro de equipa no Farense, Irobiso, nigeriano, quando Nelson Sousa se aproximou e disse "Estão a falar em inglês para eu não perceber?". O futebolista virou-se e logo foi esfaqueado duas vezes, no pescoço e no peito. Ainda dirigiu palavras ao agressor, pois não sentiu de imediato o efeito das facadas. "Eu conheço o teu irmão", disse Tavinho após ter sido esfaqueado. O agressor fugiu a pé do local (entregou-se à polícia mais tarde) enquanto o jogador de futebol desfalecia. Foi transportado ao hospital onde esteve internado até ao dia 29 de março.
Em tribunal, ficou dado como provado que os dois envolvidos não tiveram qualquer contacto dentro do bar. Nelson Sousa justificou o seu ato por ter sido empurrado e reagido de forma defensiva, tendo usado uma faca, alegou, que encontrou no chão. O tribunal não deu credibilidade a esta versão e valorou os testemunhos de Tavinho e de Irobiso, que se mostraram coerentes.
Para decidirem os juízes avaliaram o percurso do arguido. Cresceu num bairro de Quarteira, tendo vivido uma infância marcada por negligência familiar e cedo caiu no mundo da delinquência. Aos 16 anos foi institucionalizado num centro educativo e depois teve vários processos judiciais, com oito condenações por crimes desde resistência e coação até dano qualificado e roubo, entre outros. Esteve preso por duas vezes, primeiro entre 2008 e 2010, e numa segunda reclusão, mais longa e relativa a uma pensa de seis anos de cadeia, entre 2012 e 2016, ano em que saiu em liberdade condicional, o que se verificava ainda na data deste crime.
No ano passado estava colaborar com uma associação, onde iniciou um período laboral. Mas deixou de cumprir horários e dois meses antes deste crime tinha abandonado o estágio profissional. O tribunal realça ainda os comportamentos desviantes, sobretudo a nível do consumo de álcool. Neste caso, Nelson Sousa tinha consumido álcool mas o tribunal não considerou que fosse atenuante. Para a pena, os juízes também tiveram em conta as condenações anteriores que revelam um percurso com muitos delitos.
Do lado da vítima, houve receio pela vida e pelo futuro profissional. Tavinho disse em tribunal que nos dias imediatos ao crime chegou a pensar que a sua carreira estava terminada e que passou a ter medo de estar na rua e de sair à noite. No plano futebolístico garante que deixou de ter a mesma resistência e passou a ser um jogador menos utilizado na equipa do Farense.