Chegam à hora estipulada para a sua sala, são acompanhados pelos funcionários e educadores até ao espaço onde ficam - arejado, desinfetado e onde estarão menos crianças. Os sapatos ficaram à porta, quanto muito na sala está outro par que fica na instituição, e não trazem brinquedos seus. À hora da sesta, cada um tem o seu colchão, o mais afastado possível do dos outros colegas, e no refeitório têm o seu lugar marcado. Os adultos (educadores e funcionários), que andam de máscara, ficam com a responsabilidade de fazer cumprir ao máximo estas normas..As orientações constam de um documento elaborado pela Direção-Geral da Saúde (DGS) e publicado esta quarta-feira, onde estão estipuladas as medidas de prevenção e controlo a adotar nas instituições para crianças até aos três anos durante a pandemia da covid-19. O documento, que não inclui, por exemplo o distanciamento social de 1,5 a dois metros entre as crianças (criticado durante o fim de semana, na sequência de uma conferência de imprensa) refere que as normas foram discutidas com os parceiros do setor..A reabertura das creches, que tem sido alvo de muitas criticas por causa do receio de contaminação das crianças, está agendada para a próxima segunda-feira (dia 18 de maio). No entanto, quer o Governo, quer a DGS têm demonstrado confiança na decisão. "Quero dizer a todos os pais, alunos, professores, auxiliares e a toda a comunidade escolar e educativa que o regresso às aulas está a ser ponderado para garantir a segurança de todos", prometeu a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, na semana passada, acrescentando que "o risco de voltar para a escola é o risco de viver em comunidade", desde que se tenham todos os cuidados..Discurso reafirmado esta quarta-feira, em conferência de imprensa. Sobre as recomendações apresentadas, a diretora-geral da Saúde salientou que "tiveram como base indicações internacionais e foram elaboradas em conjunto por várias entidades". "Tentámos conciliar o melhor de dois mundos. As crianças vão brincar, como é obvio. Mas estamos a entrar num novo tipo de normalidade. Há relações e afetos, mas com regras", explicou. .Às creches, em particular, a Direção-Geral da Saúde recomenda:.- Redução do número de crianças por sala, para que seja possível um maior distanciamento entre estas;.- Afastar entre si berços, espreguiçadeiras e mesas;.- Cada criança deve ter uma sala fixa e ser acompanhada pelo mesmo funcionário, evitando ao máximo o contacto entre diferentes grupos/salas;.- Os horários de entrada e saída devem estar bem definidos e ser desfasados de sala para sala para, mais uma vez, evitar contactos desnecessários. Também os circuitos a seguir podem ser assinalados;.- As crianças devem descalçar-se à entrada. Sendo que pode ser pedido um calçado suplementar só para andar dentro da sala;.- Os brinquedos são aqueles que já existem dentro do espaço, que serão lavados e desinfetados com frequência. As crianças não devem levar de casa objetos não essenciais;.- Durante a sesta, cada criança tem de ter o seu colchão e este deve estar o mais afastado possível do do colega;.- No refeitório, deve comer-se à vez, por sala, e cada criança tem o seu lugar marcado..- Todos os funcionários devem usar máscara cirúrgica durante o horário de trabalho..- Quando existirem espaços vazios por suspensão de outras atividades ou respostas sociais, estes devem servir para ampliar a creche;.- O espaço onde as crianças estão deve estar tão arejado quanto possível, com portas e janelas abertas, garantindo, no entanto, "que a segurança das crianças não fica comprometida"..Educadores pedem exclusão de responsabilidade.Apesar das garantias das autoridades de saúde, há vários educadores que consideram não estar reunidas as condições para o regresso dos mais novos às salas de aulas. Por isso, estão a recorrer ao apoio legal para apresentar declarações de exclusão de responsabilidade na eventualidade de ser registado um caso de contágio de uma criança no seu local de trabalho..A nota de exclusão de responsabilidade não é novidade entre profissionais de saúde. Por várias vezes, sindicatos representantes desta classe anunciaram a publicação de minutas que poderiam ser utilizadas por médicos de forma defenderem-se de qualquer responsabilidade em acidentes que resultem da falta de meios - um problema com o qual se debate o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Na educação a acontecer, será uma novidade. Mas a intenção está lá, como confirmou ao DN, a Associação de Profissionais de Educação de Infância (APEI)..O receio dos educadores é transversal a encarregados de educação. São várias as famílias que têm sido perentórias em dizer que os seus filhos não marcarão presença na sala de aula ou nas creches e jardins-de-infância. Alguns assumem mesmo a ausência dos filhos até que seja conhecida uma vacina para a covid-19..Fenprof pede testes para os professores e educadores no regresso à escola.Também a Federação Nacional dos Sindicatos de Professores (Fenprof) não está totalmente descansada com o regresso das creches e dos alunos do 11.º e do 12.º anos, que passam a ter aulas presenciais a partir do mesmo dia em que as creches podem reabrir. Numa petição, que já reúne mais de quatro mil assinaturas, a estrutura sindical pede ao Governo que considere testar todos os professores e educadores à covid.."Fazem-se testes aos árbitros, aos jogadores de futebol, a ministra da Saúde diz que é preciso testar, testar, mas os professores ficam de fora", diz, indignado, o líder da Fenprof, Mário Nogueira.