Luís Grilo há três anos: "Estou com a minha mulher 24 horas por dia"
Três anos antes de ser morto com uma bala na cabeça, Luís Grilo, engenheiro informático e triatleta residente em Cachoeiras, concelho de Vila Franca de Xira, falou com o jornal O Mirante. O jornal regional recuperou a entrevista, com vídeo, depois de a sua mulher Rosa Grilo, mulher da vítima, e António Joaquim, alegado cúmplice do homicídio e seu amante, serem detidos pela Polícia Judiciária. Os dois encontram-se neste momento em prisão preventiva.
Na entrevista, para a rubrica Três Dimensões, Luís Grilo, morto aos 55 anos, apresenta a sua visão da vida falando da família, que inclui a mulher Rosa e o filho que agora deixou com 12 anos, do seu trabalho, e do desporto.
"Ajudo a minha mulher na cozinha e se estiver sozinho não morro de fome. Mas tem dias. Estamos um com o outro 24 horas por dia porque trabalhamos juntos e para que as coisas corram bem temos áreas bem definidas nas responsabilidades da empresa. Em casa não luto com ela pelo comando da televisão. Está sempre na Benfica TV."
"A disputa maior é com o meu filhote. O mundo é tão grande e há tanta coisa para descobrir que sempre que posso viajo. Espero conhecer o Vietname e adoro África. A vida não é só trabalho. Para mim o trabalho é uma parte importante mas não é tudo. O mais importante para mim na vida além de correr é a família e o meu filho. Espero poder vir a dar-lhe ferramentas para ele ter um bom futuro. Acho que não estamos a criar um bom futuro para esta geração mas todos temos de tentar melhorar."
"Comecei a praticar atletismo há quatro anos e estou viciado. Já participei em várias maratonas. Treino todos os dias entre uma hora e uma hora e um quarto. Aos domingos gosto de fazer umas corridas de manhã. Levo aquilo a sério. É uma questão de superação pessoal e de alcançar os objetivos a que me proponho."
"O meu escape é tirar todos os dias uma hora para correr. Em termos de distância já fiz uma prova de 55 quilómetros e ando agora a pensar entrar no triatlo, já ando a aprender natação. Mas as provas que me interessam são as maratonas. Sevilha é a sétima maratona que faço nos últimos quatro anos. Tenho vindo a melhorar em termos de tempo."
"Não corro para as medalhas, corro para melhorar a minha capacidade de sacrifício e bem-estar pessoal. Quando atingimos objetivos na corrida conseguimos transmitir isso no trabalho. Faz com que pensemos que não há impossíveis."
"Não gosto das empresas onde se começa a trabalhar tarde. Também não gosto de coisas feitas em cima do joelho. Por vezes fico com a sensação que o setor empresarial é uma espécie de selva. Dou muito valor às pessoas de palavra. Sei que são cada vez menos mas sou um idealista."
"Não gosto da maior parte dos políticos mas não me digam que são todos iguais. Seja como for, acho que quem está no poleiro não tem qualquer valor nem ideal. Na juventude estive envolvido na política e vi logo que não podia continuar porque aquilo ia contra os meus valores. Vi os que continuavam, como continuavam e porque continuavam e o que tinham de fazer para continuar na política."
"Podemos ter aqui pessoas a nível local que vêm de outras áreas e fazem um bom trabalho, admito. Mas os políticos de carreira, que vivem agarrados à mama do Estado, não servem a ninguém. Infelizmente o português é um povo que idolatra o chico-espertismo. Somos capazes de votar livremente em pessoas condenadas em tribunal por corrupção."
O corpo do triatleta foi encontrado com sinais de violência e em adiantado estado de decomposição mais de um mês depois do desaparecimento, no concelho de Avis, distrito de Portalegre, a mais de 130 quilómetros da sua casa. "A investigação apurou que os factos terão ocorrido no passado dia 15 de julho, tendo a vítima sido atingida por um disparo de arma de fogo na caixa craniana, o qual lhe terá provocado a morte", indicou a PJ em comunicado divulgado na quinta-feira.