Lares promoveram "beijar a cruz" indo contra as indicações da DGS e até da igreja
O Centro Social e Paroquial de Freiriz, concelho de Vila Verde, no Minho, promoveu no domingo de Páscoa o tradicional "beijar a cruz" entre os utentes, indo contra as orientações formalmente divulgadas pela Direção-Geral da Saúde (DGS) e pela hierarquia da Igreja Católica que decidiu suspender esta tradição na celebração pascal, como medida de prevenção para evitar a propagação do novo coronavírus.
A diretora técnica da instituição, no entanto, defendeu a decisão, assegurando que foram tomadas as precauções necessárias.
As imagens foram divulgadas através de um direto na rede social Facebook do Centro Social e Paroquial de Freiriz, divulgado pelo semanário V, publicação do concelho de Vila Verde, e partilhadas nas redes sociais.
No vídeo é possível ver o padre, que é o presidente da direção da instituição e participou na atividade, e funcionárias do centro, todos protegidos com máscaras. Uma funcionária dá a beijar, à vez, o crucifixo aos utentes que estão numa sala.
O centro está em quarentena profilática e o padre foi a única pessoa do exterior que participou nesta iniciativa com os utentes, tendo tido "todos os cuidados" e cumprido todas as recomendações de proteção, segundo disse ao DN Teresa Barbosa, diretora técnica do Centro Social e Paroquial de Freiriz.
A responsável esclarece que desde o dia 8 de março que as entradas na instituição estão proibidas, encontrando-se o centro isolado do exterior."Desde o dia 24 de março que iniciamos a quarentena voluntaria profilática", explica Teresa Barbosa, referindo que todas as funcionárias realizaram testes que "deram negativo" ao covid-19. Ou seja, as colaboradoras que estiveram na atividade "fizeram os testes, já estão cá há alguns dias, estão salvaguardadas", considerou.
A celebração, disse, foi feita apenas com os residentes, "que são neste momento os que estão cá dentro, os funcionários e os idosos", com exceção do padre. "Não foi ele que deu a cruz a beijar, foi uma funcionária. O senhor padre manteve as distâncias de segurança", assegura a diretora clínica da instituição.
Tratou-se, diz, de uma "atividade interna". "As pessoas estão todas a viver cá há alguns dias".
As colaboradoras deram negativo no teste à covid-19, mas os utentes não fizeram o teste porque não apresentam sintomas, explicou Teresa Barbosa sobre os idosos do centro que "já estão sem contacto com o exterior desde o dia 8 de março.
A diretora técnica do centro social refere que até a cruz usada para esta celebração pascal estava no interior do lar, não veio do exterior, tendo sido "devidamente desinfetada".
"Nos fizemos isto só por um motivo, pelo bem-estar dos idosos", afirmou a responsável referindo que os utentes "não estão em contacto direto com a família desde o dia 8 de março". "Já estão com a autoestima e bem-estar psicológico um bocadinho afetado, tentamos compensar isso de uma certa forma e decidimos fazer esta atividade interna".
O arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, anunciou, no entanto, o cancelamento do "Compasso/Visita Pascal", Em comunicado, citado pela agência Ecclesia, era referido que os padres não deveriam dar a beijar a cruz.. Na nota, podia ler-se que "não se deve apresentar a cruz com o Ressuscitado". Nas celebrações da Páscoa deve-se "evitar todo o tipo de contacto que possa servir de transmissão" , refere ainda o documento.
Mas o Centro Social e Paroquial de Freriz não foi o único a manter esta tradição em tempo de pandemia. O Centro Social de Paderne, em Melgaço, também deu a cruz a beijar aos seus utentes, como noticia o jornal O Minho.
Lurdes Gonçalves, diretora de serviços da instituição, improvisou uma visita pascal aos 15 utentes permanentes no lar e ainda a quatro utentes que estão em regime de apoio ao domicílio
"A iniciativa foi minha, era a minha vez de levar os pequenos-almoços ao domicílio e decidi levar um pouco de alegria a casa destas pessoas", justificou ao jornal.
"Fiz isto porque muitos deles não têm ninguém, a família não os pode visitar e andaram a semana toda a queixar-se de que não iam ter Páscoa este ano", acrescentou.
À publicação, a responsável explicou que, no domicílio, todos os utentes utilizaram uma máscara cirúrgica diferente e que dentro do lar, foi aplicado álcool/gel desinfetante na cruz por cada vez que a deu a beijar aos 15 residentes. "A intenção era melhorar o estado anímico dos utentes, nunca pensei que as pessoas fossem levar para o lado de querer fazer mal", lamentou Lurdes Gonçalves sobre a polémica que suscitou o vídeo que mostra esta celebração pascal durante a pandemia covid-19.
A Câmara Municipal de Melgaço condenou a prática levada a cabo pelo Centro Social de Paderne, localizado num concelho onde já se registaram mortes devido ao covid-19 num outro lar daquela zona. "A autarquia reforçou à instituição a necessidade de que sejam tomadas as medidas para que todas as iniciativas e atividades se pautem pelas melhores práticas de segurança que estão plasmadas no Plano de Contigência que foi entregue ao Município e que esta ação não respeita", disse a câmara, em comunicado.
Apesar da Arquidiocese de Braga ter pedido para não se realizar o compasso/ visita pascal, houve quem quisesse manter a tradição.
A GNR está a tentar identificar as pessoas envolvidas numa celebração pascal, no domingo, numa rua em Vermoim, Vila Nova de Famalicão, com direito a beijos na cruz e a champanhe, disse fonte daquela força à Lusa.
Num vídeo que acabou divulgado nas redes sociais, vê-se uma mesa colocada na rua e uma mulher a dar uma cruz a beijar a cerca de 10 pessoas ali presentes.
Uma vizinha foi chamada a juntar-se ao convívio e mostrava alguma renitência em aproximar-se, mas alguém disse "estamos separados, ninguém vê".
Outra pessoa alertou que alguém estava a filmar o momento.
"Deixa estar a filmar. Tem de estar a um metro", atirava outro presente no local.
Segundo a fonte da GNR, o caso será remetido para tribunal.
Num outro caso, a GNR identificou os dois alegados promotores do "beijar da cruz" que no domingo ocorreu na via pública em Martim, Barcelos, disse fonte daquela força à Lusa.
Segunda a fonte, foram identificados uma mulher que segurava a cruz e a dava a beijar e um homem que terá colaborado na iniciativa. Os factos serão agora remetidos a tribunal.
De acordo com a fonte da GNR, em causa poderão estar os crimes de desobediência e/ou de propagação de doença contagiosa.
O caso foi filmado e divulgado nas redes sociais.
Uma mulher estava na rua com uma cruz na mão e, segundo se pode ver nas imagens, foram mais de 10 as pessoas que foram beijar a cruz, incluindo um casal com uma criança ao colo.
Após cada beijo, a mulher passava um pano na cruz.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, já provocou mais de 112 mil mortos e infetou mais de 1,8 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Dos casos de infeção, quase 375 mil são considerados curados.
O boletim epidemiológico divulgado esta segunda-feira pela Direção-Geral da Saúde indica que Portugal regista 535 mortos associados à Covid-19, mais 31 do que no domingo, e 16.934 infetados (mais 349).
Com Lusa