Grupos vulneráveis e cuidadores têm prioridade na vacinação
Os grupos de risco e os seus cuidadores, nomeadamente os profissionais de saúde ou os trabalhadores de lares serão, à partida, os primeiros a receber uma possível vacina contra a covid-19, indicou a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, esta sexta-feira. No entanto, é preciso esperar até à aprovação do medicamento para confirmar as características e a eficácia do antídoto em cada população, antes dos especialistas se reunirem para dar um parecer decisivo.
A confirmar-se a existência de uma vacina contra o novo coronavírus "vão ser estabelecidos grupos prioritários para a vacinação e estes grupos prioritários são definidos por especialistas em vacinação, doenças infecciosas, em farmácia, virologia, que terão em consideração o tipo de vacina e as suas características", explicou Graça Freitas, durante a conferência de imprensa sobre a evolução da pandemia em Portugal, que, esta sexta-feira, foi quase dedicada à questão da vacinação.
Significa isto que dependendo do que vier escrito no bilhete de identidade da vacina - como começa por simplificar a diretora-geral da saúde referindo-se ao resumo das características do medicamento - podem ser abrangidas ou retiradas certo tipo de pessoas. Independentemente, de serem consideradas como pertencendo ao grupo de risco.
"Nós sabemos quais são as doenças que têm uma probabilidade maior de vir a influenciar o pior prognostico para a covid", assume a responsável pela Direção-Geral da Saúde. No entanto, falta saber como reagem estas pessoas às características da vacina e se desenvolvem ou não anticorpos após a toma.
"Temos de esperar pela ficha da vacina, onde estão as características em relação a cada grupo etário", diz Graça Freitas. "Mas há sempre dois tipos de prioridades: grupos vulneráveis e os cuidadores, como os profissionais de saúde".
A ficha da vacina será divulgada apenas depois de esta passar pela aprovação, no caso europeu, da Agência Europeia do Medicamento. "Os estudos estão a decorrer e em função desses estudos é que temos a informação quer de segurança, quer de eficácia", explica o presidente do Infarmed, Rui Ivo.
O timing é difícil de prever. Como tudo neste processo, é dominado pela incerteza, uma vez que ainda nem sequer é certo que haja vacina ou, a existir, quando estará pronta. Embora se fale na possibilidade de haver vacina já no final deste ano, todas as negociações a decorrer são cenários hipotéticos, como diz o presidente da Autoridade do Medicamento portuguesa, trata-se de um "processo muito antecipado face à fase de desenvolvimento da vacina".
"É do domínio publico que estão em desenvolvimento bastantes vacinas. São 165, de acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde. Há 26 que estão em fase clínica, podem estar na fase um, dois ou três", refere Rui Ivo. "As que estão na fase três estão a ser objeto de negociação mais intensa a nível europeu. Foram anunciados quatro processo que estão em fase mais avançada: com a [farmacêutica] Sanofi, a AstraZeneca, a Johnson & Johnson e, ontem, com a CureVac. É muito importante que haja um conjunto de vacinas negociadas e disponíveis". No entanto, estas possíveis vacinas estarão sempre sujeitas à aprovação da Agência Europeia do Medicamento.
A Comissão Europeia, no âmbito do programa de Instrumento de Apoio de Emergência, que dispõe de fundos dedicados à criação de uma carteira de potenciais vacinas com diferentes perfis e produzidas por diferentes empresas, tem na mira seis possíveis vacinas contra a covid-19. Tendo- se posicionado na corrida a quatro delas, assinando acordos com as farmacêuticas.
Assim que estiver confirmada a eficácia de uma, Portugal deverá receber 6,9 milhões de doses, que o primeiro-ministro, já adiantou que serão distribuídas de forma "universal e gratuita".
Isto para já, ressalva Rui Ivo, porque o processo "é gradual", não está fechado e há outros contratos em cima da mesa com outras farmacêuticas.
A avaliação da Agência Europeia do Medicamento definirá ainda o número de doses que uma pessoa terá de tomar de determinada vacina para ficar imune ao vírus. Uma vez que nem todas as vacinas novas garantem anticorpos à primeira e que há, segundo Graça Freitas, muitas vezes necessidade de um reforço.
"Depende mais uma vez do tipo de vacina", continua a diretora-geral da Saúde.
Questionada sobre a possibilidade da vacina contra a covid se tornar obrigatória, a diretora-geral da Saúde indicou que "essa decisão não está fechada". Salientando, no entanto, que "a lei portuguesa permite que se torne uma vacina obrigatória para defesa da saúde publica".
"Se de facto for muitíssimo eficaz pode ser considerada uma metodologia obrigatória de vacinação. Se for menor a eficácia, poderá ser ponderada outra opção", continua Graça Freitas, que considera que "esta decisão terá de depender de uma análise profunda da sociedade, não só do setor da saúde".