Antecipar férias da Páscoa? Diretores das escolas em desacordo

O presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, sugeriu ao Ministério da Educação que as férias iniciem já no final desta semana, para conter o contágio naquele que considera ser "o ambiente perfeito" para a disseminação do vírus. Mas a decisão gera discórdia entre diretores.
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Numa altura em que já fecharam quase uma dezenas de escolas devido ao novo coronavírus, a Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) sugeriu ao Ministério da Educação a antecipação das férias escolares da Páscoa, como avançou esta terça-feira o Público. Contudo, o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, considera que esta decisão não deve partir da pasta da educação, mas sim do próprio Ministério da Saúde.

A ideia seria arrancar com a interrupção já esta sexta-feira e durante 12 dias, para retomar o período letivo na primeira semana de abril - e não a 13 de abril, como previsto no calendário oficial. O início do terceiro período também poderia ser antecipado, mediante a situação em que o surto se encontrar em Portugal, confirmou ao DN o presidente da ANDE, Manuel Pereira.

"Atendendo à situação de alastramento da infeção do novo coronavírus e à situação atual das escolas, que estão em estado de choque e em polvorosa, nomeadamente no norte do país, o ideal seria antecipar as férias da Páscoa por duas semanas. E depois o terceiro período poderia começar mais cedo também. Isto deixaria as pessoas em casa e evitaria o alastramento da situação", começou por explicar Manuel Pereira. "Em vez de aulas recomeçarem a 13 de abril recomeçariam a 5 ou a 6. A Páscoa acontecerá de qualquer forma, será sempre feriado sexta-feira [Santa] e no domingo. Não haveria grande problema em relação a isso", acrescentou ainda Manuel Pereira ao DN.

"As escolas são o ambiente perfeito para o contágio", lembra. No entender do líder da associação que representa os diretores das escolas, esta seria uma forma de colocar as escolas em pé de igualdade, uma vez que escolas de Lousada, Felgueiras, Portimão e Amadora foram encerradas. "A impressão que nós temos é que nos próximos dias vai haver mais escolas a fechar, à medida que novos casos vão surgindo", perspetivou. Por isso, seria "uma decisão de grande coragem" do Ministério da Educação fechar todas as instituições de ensino agora mesmo, em vez de optar por um processo a conta-gotas.

Mas a decisão causa discórdia entre representantes de diretores escolares. Segundo o dirigente da ANDAEP, esta "só é uma boa solução se o Ministério da Saúde considerar que pode evitar que o vírus se propague", não deve ser uma decisão tomada pelo Ministério da Educação ou sugerida por diretores. "Até tenho dúvidas que isto dê algum resultado, porque durante estes 12 dias o mais provável é os alunos irem para os ATL's ou passear para os shoppings, contaminando ou ficando contaminados noutros lugares", alerta.

Manuel Pereira frisa que não foi sugerido o prolongamento do ano letivo, apenas a antecipação das férias escolares e do início do terceiro período. O segundo período letivo termina na sexta-feira, 27 de março de 2020, sendo retomadas as aulas, para o último período letivo, na terça-feira, dia 14 de abril de 2020, segundo o calendário do Ministério da Educação para o ano letivo de 2019/2020.

"Em Itália, o governo tem estado a correr atrás do prejuízo"

Segundo o presidente da ANDE, o Ministério da Educação "não achou descabida a proposta". "A impressão que temos é que há muitas interligações entre educação, saúde e administração pública, e que os pais teriam de ir para casa para tomar conta dos filhos. É uma situação muito complexa em termos de organização", disse.

"Porém, tenho estado em contacto com colegas de Itália, que nos dizem que as medidas tomadas nos últimos dias pelo governo italiano deveriam ter sido tomadas há um mês. Em Itália o governo tem estado a correr atrás do prejuízo, tomando medidas à medida que os problemas vão surgindo. Se essas medidas fossem tomadas em tempo oportuno, se calhar não seria esta a situação ideal. Mais vale fechar mais cedo do que mais tarde, porque se está a contar que o pico do covid-19 em Portugal surja na primeira quinzena de abril. Acho que não vale a pena que chegue o pico", concluiu.

O DN contactou o Ministério da Educação sobre esta questão e está a aguardar uma resposta.

Até ao momento, foi anunciado o encerramento de todas as escolas dos concelhos de Felgueiras e Lousada, duas em Portimão e na Amadora. Em conferência de imprensa, esta terça-feira, o primeiro-ministro disse ainda não estar em cima da mesa o fecho de todos os estabelecimentos de ensino em território nacional, mas garantiu expor esta questão na quarta-feira, em reunião com o Conselho Nacional de Saúde Pública. António Costa falava à margem da reunião de ministros desta terça-feira.

São já milhares aqueles que defendem o encerramento imediato das escolas. Na internet, circula uma "Petição para encerramento das escolas e estabelecimentos de ensino em Portugal devido a SARS-CoV-2" que conta com mais de 6600 subscritores. No documento, lê-se que "seria uma irresponsabilidade total do governo deixar estas instituições abertas perante esta situação".

Em Espanha, as autoridades da região espanhola de Madrid decretaram esta segunda-feira o encerramento, a partir de quarta-feira e durante 15 dias, de todas as creches, escolas e universidades, depois do número de contágios pelo novo coronavírus ter duplicado naquela comunidade.

A epidemia de covid-19 foi detetada em dezembro, na China, e já provocou mais de 114 mil casos de infeção quatro mil mortos em todo o mundo. Nos últimos dias, a Itália tornou-se o caso mais grave de epidemia fora da China, com 463 mortos, estando neste momento cerca de 16 milhões de pessoas em quarentena no Norte do país.

Em Portugal, o total de casos de infeção pelo novo coronavírus aumentou esta segunda-feira para 39, mais nove do que no domingo, havendo uma doente com um quadro clínico mais gravoso e que se encontra em "vigilância apertada".

Face ao aumento de casos, o Governo ordenou a suspensão temporária de visitas em hospitais, lares, estabelecimentos prisionais na região Norte e alguns estabelecimentos de ensino.

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