Uma mulher antitrump

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Claudia Sheinbaum é a primeira mulher presidente do México. Física e doutorada em Engenharia de Energia, é uma cientista reputada. Transportou esse rigor para a política. Todas as manhãs fala ao país com muita informação para fundamentar as suas opções. Assume uma postura séria e segura, como se estivesse numa conferência científica.

Há duas semanas pronunciou-se sobre um caso chocante que ocupou a imprensa mexicana. Uma menina indígena e pobre de 14 anos chegou ao hospital para se tratar de um aborto de uma gravidez avançada que disse ter sido espontâneo. Tinha sido violada por um familiar. O Ministério Público acusou-a de homicídio e pediu uma indemnização para o pai do feto, o seu violador. Cláudia ofereceu publicamente a sua ajuda à família para se defender dessa acusação.

Se for aprovada a proposta de despenalização geral do aborto para o Estado da capital, o México continuará um caminho em sentido contrário às políticas anti- aborto de Trump e dos seus seguidores.

Cláudia Sheinbaum é a vizinha a sul de Trump. Além dos problemas graves que tem no seu país, do número de desaparecidos, cujas fotos vi coladas nas paredes de Oaxaca, aos conflitos entre cartéis de droga bem armados, a presidente vai ter agora de enfrentar a política anti-imigração e de deportações que Trump se fartou de anunciar durante a sua campanha.

Talvez ainda mais difícil do que isso, será a revisão do acordo comercial assinado pelo próprio Trump em 2018, mas que agora ele ameaça alterar radicalmente e aumentar as tarifas alfandegárias. O acordo tem atraído muito investimento para o México e criado emprego para muita gente, que assim não precisa de sair do seu país. Contudo, a balança comercial é atualmente desfavorável aos EUA.

Esta poderá ser uma boa oportunidade para a UE aprofundar as suas relações com o México e a América Latina em geral, que lhe deveria merecer uma atenção bem maior do que tem acontecido.

Aqui no México, dizia-se antes das eleições que havia já dois planos preparados. Ao estilo de Claudia, acredito que sim. Porém, Trump é o seu oposto: errático, amante da desinformação e descrente da importância da ciência e do conhecimento. Poderá esta mulher antiTrump fazer frente ao seu vizinho?

Espero que sim. Contudo, para ganhar esta batalha a presidente do México vai precisar não só da razão que lhe dão relatórios em que fundamenta as suas decisões, mas também de muita criatividade, talvez aquela que o seu povo tem ao transformar o Dia de Muertos numa grande festa da vida.

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