Um Presidente frustrado por não ajudar a baixar a pobreza

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A cerca de um mês das eleições para a Presidência da República, o atual ocupante do cargo assumiu o fracasso do país naquela que era uma das suas principais bandeiras desde que tomou posse, a 9 de março de 2016: reduzir a pobreza em Portugal. Desde esse momento, Marcelo Rebelo de Sousa apontou essa diminuição como um dos objetivos da sua Presidência, mas agora que estamos a pouco mais de um mês das eleições para a escolha do futuro presidente - 18 de janeiro de 2026 - aproveitou a visita, no passado fim de semana, ao Banco Alimentar Contra a Fome para dizer que sente “frustração” pela situação em Portugal.

E os dados conhecidos deviam, de facto, preocupar: há 2,1 milhões de pessoas no país em risco de pobreza. Sendo que 900 mil, apesar de estarem empregadas, estão em situação de pobreza absoluta, como foi divulgado no relatório Portugal, Balanço Social 2024.

Tem, assim, razão Marcelo Rebelo de Sousa para dizer: “E se há tristeza que eu tenho no coração é porque a pobreza não diminuiu aquilo que devia ter diminuído.” Uma tristeza que não diminui com as doações que os portugueses fizeram no passado fim de semana na campanha do Banco Alimentar Contra a Fome, que recolheu 2150 toneladas de alimentos - uma diminuição de 2,8% em relação a 2024 -, que estarão a ser entregues a 2500 instituições em todo o país e, depois, através destas a mais de 380 mil pessoas, segundo disse a presidente da instituição, Isabel Jonet.

Se a frieza dos números já é chocante, quando se procede a uma análise mais profunda, como fez a Fundação Francisco Manuel dos Santos no início do ano, a preocupação deverá ser ainda maior: há cada vez mais idosos a necessitarem de apoio, pois as prestações sociais que recebem não chegam para suprir as necessidades.

E aqui recordamos outra declaração de Marcelo Rebelo de Sousa que, frise-se, não é responsável pelas políticas do país: “A sociedade portuguesa e as sociedades europeias estão a envelhecer muito rapidamente e o envelhecimento significa empobrecimento, e significa também uma dificuldade.”

Perante estes renovados alertas do Presidente o que se pode fazer? Talvez colocar em prática, ou pelo menos divulgar, a implementação das anunciadas estratégias, como a aprovada em setembro de 2021 e que envolveria 270 medidas com o objetivo de reduzir a pobreza em 10% até 2030.

Esta não é uma questão apenas nacional. A prova disso é que o Parlamento Europeu discutiu ontem um relatório do eurodeputado do PCP João Oliveira que tem como objetivo o desenvolvimento de uma estratégia europeia antipobreza.

Portanto, estratégias em papel existem - tanto em Portugal, como no Parlamento Europeu -, agora só falta ter os resultados.

Editor executivo do Diário de Notícias

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