Na passada semana, com aquele peculiar entusiasmo contagiante que caracteriza a maioria dos intervenientes na Web Summit (uma espécie de conferências TEDx com esteróides), o ministro da Reforma do Estado anunciou que “está previsto que cada aluno tenha um tutor de IA”, pelo que foi reproduzido na comunicação social e ele confirmou em outras intervenções. Embora não tenha especificado se é para os alunos de todos os ciclos de escolaridade, depreende-se que sim, pois também garantiu que o LLM nacional, o Amália, está pronto, tendo sido desenvolvido em parceria com o Ministério da Educação, garantindo “qualidade e segurança da informação” (CNN Portugal, 11 de Novembro de 2025).Claro que permanecem inúmeras dúvidas sobre a exequibilidade do projecto numa rede escolar (do Básico e Secundário) que luta por conseguir colocar os alunos de alguns anos de escolaridade a fazer, em simultâneo, provas digitais e tem um rácio baixíssimo de salas equipadas com meios informáticos que permitam lá colocar turmas inteiras a trabalhar em modo de pesquisa e produção de conteúdos, de forma autónoma ou orientada.Assim como ficam por explicar muitos outros aspectos do que se entende por “tutor de IA” e o que se pretende com isso. É um apoio para o aluno ter fora da sala de aula no seu estudo? É uma espécie de “explicador”? Mas como vai funcionar? Com base nas dúvidas colocadas por alunos, em “diálogo”? A partir de indicações fornecidas previamente pelos professores? Ou, no limite, pensará o voluntarioso e reformista governante que esta possa ser a estratégia de médio prazo para superar a carência de professores de carne e osso, com a vantagem da ausência de queixas, reivindicações e maleitas diversas que conduzem a baixas médicas?Vamos lá tentar regressar um pouco à Terra e colocar as coisas em eixos razoáveis. A IA, mesmo que seja Generativa, produz conteúdos a partir de informações que lhe são previamente fornecidas e de algoritmos com concepção humana. Apesar de algumas evoluções ao nível de alguma distópica ficção científica, o que a IAG produz por agora é apenas uma versão turbinada da combinação entre um bom motor de busca e uma qualquer enciclopédia wiki, por muito verniz que tenham os seus grafismos e possa ser, na versão tuga, acrescentado um avatar giro a que podemos chamar carinhosamente Gonçalinho Xtra+, aos pulos e com os bracinhos agitados a clamar pela atenção da petizada com um olho nos tiktoks e o outro no Roblox, no Free Fire ou no Call of Duty. Na verdade, o que o ministro promete não é muito mais do que uma variante digital das boas e velhas sebentas. Só que numa versão ainda mais confortável para malta preguiçosa que nem perante a possibilidade de nem ter de fazer o resumo das matérias irá responder ao Gonçalinho Xtra+… “Sebentas Digitais? Iá!!”.Professor do Ensino Básico.Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico