Na passada 2.ª feira entrou em funções a nova Agência para a Gestão do Sistema Educativo. Na comunicação colocada a circular anuncia-se que “a criação da AGSE é um passo crucial na necessária e importante reforma, em curso, da orgânica do MECI e marca uma mudança de paradigma na gestão do sistema educativo português”. Todas estas mudanças são sempre apresentadas como cruciais, essenciais e inadiáveis, nunca faltando o recurso à “mudança de paradigma”, o que deve fazer Thomas Kuhn revolver-se onde quer que esteja. No contexto das recentes políticas educativas, onde as sucessivas equipas ministeriais sublinharam o seu empenho na flexibilização da máquina administrativa do Ministério da Educação, apresentada como ultrapassada, “pesada”, ineficaz, sendo imperativo um esforço de descentralização dos serviços não deixa de ser curioso que se afirme que a nova agência passe a concentrar “numa única entidade a gestão de recursos humanos, financeiros e administrativos”, pois “estas atribuições encontravam-se espalhadas por três entidades (DGAE, DGEstE e IGeFE), dispersão que acarretava duplicações, limitações operacionais e perda de eficiência”. Ou seja, a centralização é apresentada como potenciadora da eficiência e redutora das redundâncias. Curiosamente, este não é o “paradigma” aplicado na parte da gestão do sistema em que têm vindo a ser transferidas competências para as autarquias e agora para as CCDR. Nesses casos não há risco de dispersão, duplicações ou limitações operacionais? Mas vamos ser positivos e esperar que o novo paradigma traga consigo uma renovação do pessoal dirigente, com um novo olhar, experiências diferentes e um conjunto de propostas novas para resolver os problemas. Só que no mesmo dia se ficou a saber que a nova agência vai ser dirigida pelo secretário-geral da Educação e Ciência e que, de acordo com o comunicado oficial, o seu Conselho Diretivo vai ser “integralmente constituído por atuais dirigente de serviços do MECI e, por isso, profundos conhecedores do sistema educativo, das suas fragilidades e das soluções para o seu bom funcionamento”. Se bem percebo, as pessoas escolhidas são as mesmas que conviveram com as alegadas fragilidades, que colaboraram com as políticas educativas que as criaram ou foram incapazes de achar as soluções para as superar. Isto faz lembrar aquel@s ministr@s que ajudaram a criar a actual falta de professores que aparecem nas televisões a explicar como deve resolver-se o problema. O novo paradigma promete “uma transição suave e tranquila, garantindo a continuidade de todos os processos, nas vésperas do arranque de mais um ano letivo”. Deve ter sido por tanta continuidade que foi inviabilizada, por esquecimento ou incompetência, a renovação dos contratos com os mediadores linguísticos tão necessários a milhares de alunos em centenas de agrupamentos. Professor do Ensino Básico. Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico