Quando olhamos para trás, para o clã Kennedy, duas coisas parecem certas: primeiro é que estamos a falar da mais famosa dinastia política dos EUA. E sabemos como a competição é feroz, desde os Adams aos Bush, passando pelos Roosevelt ou os Clinton, com as duas primeiras a dar duas duplas de presidentes pai-filho e a terceira a colocar dois primos (mesmo afastados) na Casa Branca; segundo é que estamos a falar de membros do Partido Democrata.Desde o patriarca Joseph Kennedy, parte da elite democrata de Boston, passando pelo presidente John F. Kennedy, o seu irmão, Robert, procurador-geral e candidato presidencial (assassinado durante a corrida às primárias do partido apenas cinco anos depois de o irmão ter sido morto a tiro a meio do mandato), ou Ted Kennedy, também irmão de John e Robert, senador do Massachusetts que só um escândalo do passado impediu de prosseguir ambições presidenciais, todos serviram o partido cujo símbolo é um burro. Nas gerações mais jovens, Joseph Patrick Kennedy III, neto de Robert, foi congressista pelo Massachusetts, tendo sido encarregue pelo partido de dar a sua resposta ao discurso do Estado da União de Donald Trump em 2018. E se nunca foi eleita para um cargo político, a própria filha de JFK, Caroline, foi embaixadora no Japão e na Austrália, nomeada por presidentes democratas.A exceção? Robert F. Kennedy Jr. O filho do procurador-geral com o mesmo nome começou por tentar a nomeação democrata para as presidenciais de 2024, apenas para desistir da corrida e avançar como independente antes de voltar a desistir para apoiar o republicano Donald Trump. A recompensa chegou meses depois, quando o presidente o escolheu para secretário da Saúde. Conhecido negacionista das vacinas - e adepto das teorias da conspiração - RFK Jr. tem-se destacado como uma das figuras mais controversas da Administração republicana. RFK Jr. é também um dos alvos preferidos do seu primo Jack Schlossberg, uma estrela das redes sociais. O filho de Caroline Kennedy, único neto homem de JFK, anunciou esta semana a intenção de se candidatar ao 12.º distrito de Nova Iorque nas intercalares do próximo ano. Nascido e criado em Nova Iorque, formado em História em Yale e em Direito em Harvard, onde desenvolveu o gosto por stand-up comedy, aos 32 anos Schlossberg parece decidido a trocar os vídeos político-humorístico - muitos deles com Trump como alvo e alguns considerados ofensivos - por uma campanha difícil pela nomeação democrata ao lugar deixado vago pelo congressista Jerry Nadler. Na sua campanha “Jack for New York”, Schlossberg promete “uma nova geração na liderança para Nova Iorque”. Para já, além do peso do apelido, o menino da mamã que cresceu rodeado de privilégios carrega a esperança do clã de voltar a ter um seu no Congresso. E quem sabe mais além.Editora-executiva do Diário de Notícias