Em fevereiro de 2023, três cidadãos búlgaros foram detidos no Reino Unido por suspeitas de serem espiões a trabalhar para a Rússia. Os três indivíduos teriam em sua posse documentos de identidade falsos, usando a capa de várias nacionalidades: Reino Unido, Bulgária, França, Itália, Espanha, Croácia, Eslovénia, Grécia e Chéquia..Orlin Roussev, de 45 anos, Bizer Dzhambazon, de 41 anos, e Katrin Ivanova, de 31 anos, viviam há vários anos no Reino Unido: tiveram vários empregos, passaram por diferentes lugares do país. Bizer e Katrin eram descritos pelos vizinhos em Harrow, bairro da zona norte de Londres, como um casal. Ambos trabalhariam no Setor Sa saúde: ele motorista em hospitais, ela assistente laboratorial..Quanto a Orlin, tem historial de ligações empresariais à Rússia. Trabalhou no Setor Financeiro e nas informações. Foram detidos por agentes da Divisão de Contraterrorismo da Polícia Metropolitana..Outro caso: Tatjana Zdanoka, eurodeputada eleita pela Letónia, tem assento no grupo dos independentes e é alvo de investigação do Parlamento Europeu, por ser, alegadamente, colaboradora do regime russo. Ela nega: “Dizem que Tatjana Zdanoka é uma agente. Sim, sou uma agente pela paz, pela Europa sem fascismo, pelos direitos das minorias. Sou uma agente pela Europa unida de Lisboa aos Urais.”.Na Polónia, o Ministério Público abriu um inquérito por espionagem, depois de um juiz, Tomasz Szmydt, ter pedido asilo político na Bielorrússia, alegando temer um “caso de espionagem fabricado” em solo polaco. Szmydt pediu asilo à vizinha Bielorrússia, que mantém relações tensas com Varsóvia. Uma decisão que fez soar os sinais de alarme nas autoridades polacas..As redes de espionagem russas dividem-se em quatro categorias: espiões russos que trabalham em embaixadas estrangeiras; funcionários ou políticos que a Rússia influencia pagando para obter informações; agentes infiltrados da Rússia, conhecidos como “ilegais”, que vivem vidas aparentemente normais; células de espionagem adormecidas, com a missão de estabelecerem contactos e obterem acesso a pessoas que possam tornar-se alvos de espionagem..A interferência naval.A Marinha da Suécia detetou equipamentos de comunicações nos petroleiros russos que não são necessários em navios deste tipo - uma espécie de frota sombra russa a fazer espionagem no Mar Báltico, em especial na Suécia - o mais recente membro da NATO..Os suecos detetaram os intrusos nas suas águas com equipamentos a bordo que não são necessários nos navios em causa, alegadamente petroleiros ou pesqueiros. “Estamos a encontrar antenas e mastros que não pertencem a navios de pesca, pelo que é evidente que existem outros objetivos associados às suas atividades em termos de movimentação no mar”, disse a chefe da Marinha sueca, Ewa Skoog Haslum..A interferência cibernética.O Ministério dos Negócios Estrangeiros checo afirmou que Praga tem sido alvo de ataques informáticos orquestrados por um grupo com ligações aos Serviços Secretos Militares russos. “Certas instituições checas foram alvo de ciberataques que exploraram uma vulnerabilidade desconhecida do Microsoft Outlook a partir de 2023”. Também o Governo alemão convocou o encarregado de negócios da Embaixada da Rússia em Berlim, depois de ter acusado os Serviços Secretos russos de um ataque informático. O ataque visou membros do SPD, de Scholz..O Conselho do Atlântico Norte, principal órgão de decisão política da NATO, condenou os ataques cibernéticos cometidos por uma entidade russa, por tentarem “minar instituições democráticas”. Os Aliados “reconhecem que a Alemanha e a República Checa atribuíram a responsabilidade das atividades cibernéticas maliciosas nos seus respetivos países ao agente de ameaça APT28, patrocinado pela Federação Russa, especificamente pela Direção Principal de Informações do Estado-Maior russo”. Além disso, “os Aliados registam também com preocupação que o mesmo agente de ameaça visou outras entidades governamentais nacionais, operadores de infraestruturas críticas e outras entidades em toda a Aliança, nomeadamente na Lituânia, Polónia, Eslováquia e Suécia”..A partir do exclave de Kaliningrado (território russo entalado entre Polónia e Lituânia) haverá uma ação russa continuada no sentido de inibir os sinais GPS nos Bálticos - o que já terá levado ao adiamento, anulamento ou desvio de várias dezenas de voos comerciais nos últimos meses..Reino Unido, Austrália e EUA sancionaram o líder russo do grupo de cibercrime LockBit, Dmitry Khoroshev, especializado em ransom, que extorquiu mais de mil milhões de dólares de vítimas em todo o mundo..A interferência política.E há ainda a interferência política..A presidente da Moldávia, Maia Sandu, tem denunciado a preparação de manifestações orquestradas por Moscovo para desestabilizar o país..Os partidos pró-russos da Moldávia celebraram o aniversário da vitória soviética sobre a Alemanha nazi, a 9 de maio, um elemento central da narrativa patriótica do Kremlin. Essa ação teve um claro objetivo de neutralizar os efeitos das celebrações do Dia da Europa dos apoiantes de Maia Sandu - cuja ambição é a adesão do país à União Europeia. Os partidos pró-russos anunciaram recentemente, a partir de Moscovo, a criação de uma coligação sob a égide do oligarca moldavo fugitivo Ilan Shor, condenado à revelia por Chisinau por fraude, meses antes das eleições presidenciais previstas para 20 de outubro deste ano. Desde a invasão russa da Ucrânia, Ilan Shor organiza regularmente manifestações contra o Governo pró-europeu na capital moldava e noutras cidades..Na Geórgia, milhares de pessoas manifestam-se há vários dias na capital, Tiblíssi, contra o projeto de lei sobre “influência estrangeira”, cujos opositores afirmam ter sido inspirado numa lei usada durante anos pelo Kremlin para calar vozes dissidentes. Os manifestantes apontam o dedo ao Sonho Georgiano, o partido no poder, com palavras de ordem como “A Geórgia vai vencer!” ou “Não à lei russa”. O objetivo será o de desviar a sociedade georgiana da rota europeia e ocidental..Olhemos também para o que se passa na Eslováquia.Depois de Robert Fico ter chegado à chefia do Governo com uma agenda claramente pró-russa, o presidente eleito da Eslováquia, Peter Pellegrini, disse estar “preparado para oferecer” a cidade de Bratislava como palco de eventuais negociações de paz entre Ucrânia e Rússia..Pellegrini - que só foi eleito depois de um caso de interferência da Inteligência Artificial que terá comprometido o seu adversário pró-Ucrânia - afirma que conceitos como “cessar-fogo” e “paz” têm de ser mais discutidos. “No contexto da guerra na Ucrânia, as armas estão lentamente a começar a soar noutras partes da Europa e do mundo. Fala-se em enviar tropas diretamente para a guerra russo-ucraniana, muitos estão a desenvolver planos para um conflito militar e a diplomacia está a tornar-se mais dura.” Ora, isto soa demasiado à narrativa do Kremlin para que deixemos passar despercebido mais este sinal de alarme..Nem tudo é mau: nas eleições regionais de domingo passado na Catalunha, os independentistas - financiados e ajudados pela Rússia nos últimos anos, das mais diversas formas, perderam a maioria. Moscovo olha com especial interesse para movimentos separatistas ou independentistas dentro do espaço europeu. Mas a ajuda do Kremlin nem sempre tem os efeitos obtidos no referendo do Brexit em 2016.