Nem mais uma. Mas todos os anos são dezenas as mulheres assassinadas

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Passou mais um 25 de novembro e por todo o mundo milhões de pessoas saíram à rua pela eliminação da violência contra as mulheres. É uma data que não deveríamos ter de assinalar. Mas temos. A violência contra as mulheres é diária, condiciona vidas e tira vidas. 

Os dados são claros: a ONU revela que uma mulher ou menina é assassinada no mundo a cada 10 minutos. A violência sexual continua a ser usada como arma de guerra, como forma de opressão. Em várias zonas do mundo mulheres são impedidas de ir à escola, de mostrar o rosto, de falar, de cantar. Este é um problema mundial. 

Mas é também um problema português. Todos os anos, no dia 25 de novembro, gritamos “nem mais uma”. Mas, em Portugal, todos os anos são dezenas as mulheres assassinadas por serem mulheres, muitas mortas pela mão daqueles que se dizem seus companheiros. Este ano já 24 mulheres foram assassinadas. Nos primeiros nove meses de 2025, mais de 25.000 ocorrências de violência doméstica foram registadas pelas forças de segurança - e bem sabemos que muitas mais acontecem escondidas e despercebidas. A violência no namoro continua a preocupar, com a aceitação de comportamentos controladores e violentos como normais numa relação. Este é um problema estrutural, onde a violência e a desconsideração acontecem diariamente e são muitas vezes desvalorizadas e desconsideradas. 

Esta é uma questão de desigualdade e de misoginia. Na verdade, é uma questão de completa desconsideração por raparigas e mulheres. E essa desconsideração vê-se quando conhecemos episódios de extrema violência que acontecem com o conhecimento de tantos sem nada terem feito para os denunciar. Vimos isso em França: foram milhares as pessoas que viram os anúncios de Dominique Pellicot para homens desconhecidos violarem a sua agora ex-mulher e nunca denunciaram. Vemos isso em Portugal: foi reportado um canal de Telegram com mais de 70.000 homens onde se partilham fotografias de meninas e mulheres - algumas delas desconhecidas e outras familiares - e onde os comentários são absolutamente repugnantes. O número 70.000 impressiona mas este é apenas um canal - muitos outros haverá por essa internet fora. O vídeo de uma presumível violação em Loures, há uns meses, foi partilhado milhares de vezes e  visualizado por milhares de pessoas sem que o tivessem denunciado às autoridades.  

A violência contra as mulheres só se elimina com medidas estruturais, de promoção de igualdade de género e com muita formação. E, sobretudo nesta altura em que a misoginia cresce e conservadores querem voltar a controlar o que as mulheres podem ou não fazer, é responsabilidade de todas e todos nós denunciar toda e qualquer violência. Porque a conivência e o silêncio são em si formas de violência. 

Se é vítima de violência de género ou conhece alguém que o seja ou corra o risco de o ser, contacte a linha nacional de apoio 800 202 148 ou envie sms para 3060. O serviço de informação, gratuito, anónimo e confidencial, funciona 24 horas por dia. Peça apoio. Denuncie. 

 Líder parlamentar do Livre

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