Tenho saudades de um ano lectivo que possa considerar “normal”, sem novidades, de business as usual. A sério que sim. Para uma profissão que os detractores gostam de apresentar como pouco inovadora, rotineira, repetitiva, apropriada a quem não gosta de mudanças, há muito tempo (décadas!) que não me lembro de começar um ano que não venha carregado de novidades, conflitos anunciados ou em decurso, promessas de reformas, revisões e remendos vários. A que, em regra, se costumam juntar uns imprevistos mais ou menos esperados e umas mudanças de rumo a meio do trajecto.O próximo ano escolar começa daqui a poucos dias e já temos anunciado um concurso “extraordinário” para preenchimento de vagas de professores em escolas “carenciadas”, porque, afinal, todas as medidas que foram tomadas no último ano e meio se revelaram fracas panaceias para uma maleita grave. Nem o sucessivo adiamento do conhecimento do número de alunos sem professores em 2024-25 permite esconder que, sem o recurso às outrora proibidas horas extraordinárias, a situação teria sido muito pior.E começa também com o remendo de uma das medidas anunciadas com maior impacto mediático: o da proibição do uso de smartphones por alunos dos 1.º e 2.º ciclos. Na altura, chamou-se a atenção para a dificuldade da sua implementação, em especial nas escolas nas onde convivem alunos dos 2.º e 3.º ciclos. Quando as escolas já devem ter regulamentações internas sobre o assunto, eis que surge esta semana a recomendação para “que seja ponderado o alargamento da proibição também aos alunos do 3.º ciclo”, sendo a mesma apresentada como “uma sugestão operacional, [que] reforçaria a coerência interna das regras, facilitaria a monitorização e evitaria mensagens contraditórias”.Sim, é de elementar bom senso recomendar às escolas que emendem o que a tutela recomendou inicialmente de equívoco e teve meses para corrigir, mas que só agora parece ter achado oportuno voltar a abordar. De forma novamente pouco clara pois, desta forma, teremos alunos a frequentar o 3.º ciclo em escolas onde não poderão usar smartphones e outras onde o poderão fazer, porque de fora da nota explicativa do MECI ficou a situação das Escolas Secundárias com 3.º ciclo, para as quais não existe recomendação de proibição, mas apenas de “medidas restritivas no 3.º ciclo”, enquanto aos alunos do Secundário se recomenda o envolvimento na “construção de regras para a utilização responsável de smartphones nos espaços escolares”.Acresce que há agrupamentos de escolas em que a sede é uma Secundária com 3º ciclo, mas existem outras com o 2.º e 3º ciclos, pelo que alunos do mesmo ano, no mesmo agrupamento podem ter de seguir regras diferentes.Isto parece confuso? Nem por isso, será apenas mais um ano normal, de tão “extraordinário”.Professor do Ensino Básico. Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico