Imigração e bom senso
A entrevista que Pedro Nuno Santos concedeu ao Expresso expôs as profundas divisões que existem no PS a respeito do tema da imigração. A posição de Pedro Nuno Santos vai ao encontro daquilo que, segundo os estudos que têm sido divulgados, pensam a maioria dos portugueses. Imigração sim, mas com regras e de uma forma que não coloque em causa o nosso modo de vida.
E é precisamente este o ponto mais sensível na entrevista e o que mais incomoda muitos dos seus correligionários: uma boa parte da esquerda não concorda que se possa falar numa “cultura” e num “modo de vida” português, ou até que ainda faça sentido falar de uma nação portuguesa, enquanto comunidade histórica e cultural composta por pessoas que partilham uma determinada identidade que as diferencia de outras que pertencem a outras comunidades.
A deputada socialista Isabel Moreira compreendeu perfeitamente onde Pedro Nuno Santos queria chegar e respondeu com uma nota numa rede social onde defendeu que as posições que o líder do partido expôs na entrevista são “estranhas” ao PS. “Não sei o que significa respeitar ‘um modo de vida’ ou ‘uma cultura’. Sei que a Constituição estipula que portugueses e estrangeiros estão sujeitos aos mesmos deveres e são titulares dos mesmos direitos. O meu campo de afirmação de valores e princípios é o da Lei Fundamental e esta não quer saber da nacionalidade de ninguém”, disse Isabel Moreira no Facebook, citada pela Lusa.
Aqui chegados, e antes de prosseguir, devo referir que a opinião expressa neste artigo apenas vincula o seu autor e não o Diário de Notícias, que é um jornal plural.
Em primeiro lugar, será útil recordar a razão de ser da própria Constituição. Esta existe porque, a certa altura, o povo português se organizou politicamente na forma de um Estado-nação. Afinal, por alguma razão existe um país chamado Portugal e o preâmbulo da Constituição fala em “povo português”.
Somos uma nação historicamente constituída por indivíduos que partilham um território, uma cultura, uma língua e determinadas aspirações enquanto povo.
É legítimo que os portugueses queiram manter o seu modo de vida e a sua identidade como povo, numa era de migrações em massa, em que largos milhões de pessoas do Sul Global procuram melhores condições de vida nos países do hemisfério norte.
Isto não impede que possamos acolher de braços abertos e de forma digna os estrangeiros que procuram Portugal para viver, desde que o façamos com pés e cabeça. Diria mais: sim, precisamos de imigrantes por razões económicas, mas não deve ser essa a razão principal pela qual os devemos aceitar, mas antes por vivermos numa sociedade aberta, que respeita o direito de todos os seres humanos a melhorarem as suas vidas.
Os imigrantes são pessoas, não fatores de produção. Poderão ser os novos portugueses. Mas só os podemos acolher se tivermos condições e se isso não colocar em causa o nosso modo de vida. Haja bom senso.
Diretor do Diário de Notícias