Quando André Villas-Boas, no dia 7 de maio de 2024, tomou posse como presidente do FC Porto, encerrando o longo reinado de Pinto da Costa no Dragão, estava aberto caminho, pelo menos na teoria, para um novo ciclo no futebol português. Os três principais clubes nacionais eram agora conduzidos por dirigentes de uma nova geração, que prometiam modernizar e cortar com o passado, porventura conscientes que as décadas de atritos constantes entre adversários, ou de alianças estratégicas pontuais, em que dois se juntavam para tentar enfraquecer o terceiro rival, tinham servido apenas para tentar satisfazer os interesses individuais de cada clube sem qualquer preocupação com o todo, a chamada indústria do futebol. É natural que num setor como o futebol, que movimenta largos milhões de euros, a rivalidade tenha de estar presente. Aquece o negócio, gera audiência e estimula a competitividade, obrigando todos os clubes a progredir para não ficarem para trás. O problema é que essa rivalidade é, sobretudo, movida por atitudes e comunicação de guerrilha, que incentiva o ódio ao rival e cava trincheiras cada vez mais fundas a separá-los. A nova geração de dirigentes não trouxe a necessária mudança de mentalidades: infelizmente, a ideia que fica é que qualquer passo de aproximação entre as partes, mesmo que todas beneficiassem, é visto internamente como um sinal de fraqueza e ninguém quer correr o risco de ficar na história como o presidente brando ou ingénuo que cedeu aos rivais. Aliás, a própria cultura instalada no futebol português, cultivada quase irracionalmente pela maioria dos adeptos, sustenta essa forma de dirigir e o mais provável é que o presidente que suavize a hostilidade para com o adversário seja, mais cedo ou mais tarde, castigado nas urnas (é inevitável até, basta que os resultados desportivos não o ajudem). Esta é uma realidade a que nenhum clube escapa. Ninguém pode dizer que está a tentar fazer diferente. O mais recente caso no Dragão, a alegada tentativa de coação sobre o árbitro Fábio Veríssimo (ver pág. 24), é apenas o último episódio deste filme deprimente, a que se juntam outros capítulos como Frederico Varandas a falar em cabalas contra o Sporting, suportando as suas ideias através da identificação das preferências clubísticas de quem preside à Liga e a FPF (como se isso não lançasse suspeição sobre as decisões destes dirigentes), ou os frequentes comunicados do Benfica de Rui Costa (que vai a votos no próximo domingo, frente Noronha Lopes) contra ‘casos e casinhos’ de arbitragens. É tudo mais do mesmo. Não há espaço para a ideia de “unidos somos mais fortes”. Nem vontade de lhe dar corpo. E é assim, de punhos sempre cerrados e a olhar para o próprio umbigo, que o futebol português permanece congelado num eterno combate de egos, que não permite evoluir através do que devia ser trave mestra de qualquer desporto: uma rivalidade sadia, que não contamine tudo em seu redor, e que atraia novos protagonistas e investidores para a modalidade.Editor Executivo do Diário de Notícias.FPF instaura processo disciplinar ao FC Porto por alegada pressão a Fábio Veríssimo.FC Porto responde a processo disciplinar com denúncia de ameaças de Fábio Veríssimo a dirigentes em Arouca