Formação de aviário

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Uma das consequências da carência de professores é que, se os que existiam profissionalizados em boa quantidade há uns 15 anos rumaram para outros destinos profissionais, é necessário formar novos, que substituam os que saem em ritmo acelerado, como diria La Palisse

A cada nova versão de um qualquer estudo feito por encomenda de um Ministério da Educação que parece incapaz de tratar os dados que recolhe, parece aumentar o número dos professores necessários, pelo que a urgência da referida formação vai-se tornando imperativa. Formação inicial, formação profissionalizante para os que estão a leccionar apenas com habilitação própria ou suficiente e ainda a formação contínua para os que já se encontram na carreira. Por isso, não espanta que se vá instalando uma espécie de negócio em torno dessas variadas “formações”, subitamente atractivas para um crescente número de “formadores”, em especial os recrutados em ambientes académicos que se apresentam como “especializados” em matérias ligadas à Educação.

É curioso encontrar alguns “especialistas” que em tempos recentes surgiram associados aos tais estudos sobre a situação da Educação, mas que praticamente nunca entraram numa Escola Básica ou Secundária sem ser como alunos, a anunciar “formações” onde explicam como devem ser planificadas e dadas as aulas que nunca deram. Mas estudaram como se faz, leram estudos sobre a matéria e sabem a fórmula quase mágica para cativar os alunos e promover as aprendizagens mais significativas de sempre. E estão prontos para ensinar os professores que temos e os que esperamos ter. Estão prontos para “ensinar a ensinar”, como em tempos havia o chavão de “aprender a aprender”.

Não contesto a necessidade de olhares novos, de contributos externos ao mundo dos nichos instalados na formação de professores ou mesmo das gerações de decisores políticos que desgovernaram a Educação nas últimas décadas ou de certos especialistas com uma assinalável patine de mofo e patchouly que têm resistido a todas as estações. Ouvi pessoas com responsabilidades de décadas, ao mais alto nível, na formação de professores a tecer azedas críticas à formação de professores. É como que um ruído de fundo permanente. Parafraseando um dito que por vezes usam, temos escolas e alunos no século XXI, com professores formados no século XX com teorias do século XIX.

Por isso, é útil a chegada de uma aragem nova à formação de professores. Mas que não seja uma formação “de aviário”, dada por quem tem uma muito vaga ligação à prática da docência no mundo real das escolas públicas da maioria do país. Não há visitas em modo vip ou prelecções a partir de palanques que substituam uns meses de experiência concreta.

Já se percebeu que as novas gerações de alunos vão ter de crescer com professores formados em modo acelerado. Pior mesmo é se parte dessa formação for meramente cosmética.

Professor do Ensino Básico.

Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

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