Fado, futebol e Fátima: o fado confinou
Para que servem exatamente os artistas?
Serão uns inúteis!? Se o carro avariar, não chamamos um artista, mas sim um mecânico. Se tivermos dores na barriga, de que nos serve um artista? Vamos ao médico. E se rebentar um fusível? Ligamos ao eletricista.
Quando se pergunta o que realmente fazem, nunca se consegue dar uma resposta suficientemente precisa e satisfatória daquilo que entregam à sociedade. Estranha-se sempre como se consegue ter uma profissão que não dá nada de tangível. Nada!
Então para que serve um escultor? Um pintor? Um cineasta ou um ator? Um músico ou um comediante? Um dramaturgo ou um realizador?

Para que nos serve o Miguel Guilherme ou o Bruno Nogueira? Para que nos serve a Mariza? Para que nos serviu, e ainda serve, a Amália? Para que nos serve um Guimarães ou um Cutileiro? Maluda, Amadeu, Pessoa, Paula Rego? Rita Blanco, Herman, Albano? La Féria? Diogo Infante? Palhaços, acrobatas, cantores. Produtores, argumentistas? Para quê? Servem para quê?
Que problemas nos resolvem? Eu diria, muitos! Mais do que aqueles que se possa imaginar.
Precisamos que nos toquem o coração, que nos agucem o pensamento. Que nos façam fantasiar. Que nos levem a questionar a nossa própria existência. Que nos façam lembrar e que nos façam também esquecer. Que nos enfureçam ou que nos engrandeçam.
É isto. Na verdade, nada de prático ou mensurável. Nada tangível. Nada que possamos pôr num saco e levar para casa.
E então? Então é desta inutilidade que o povo precisa.
Enquanto uns confinam ou fingem, os outros, jogam à roleta-russa. Enquanto uns se juntam à porta dos cafés, outros ficam privados de trabalhar. Enquanto uns vão à missa, outros ficam a rezar para que tudo isto acabe.
Pode ser que corra bem.
Designer e diretor do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia