A 9 de dezembro de 1950, o general Dwight Eisenhower tornava-se no primeiro Comandante Supremo Aliado da Europa (SACEUR) da NATO. Desde esse dia, há quase 75 anos, que tem sido responsabilidade dos EUA ter um general de quatro estrelas americano a supervisionar todas as operações militares da Aliança Atlântica na Europa. Mas isso pode vir a mudar num futuro mais ou menos próximo. O último sinal do desejo dos EUA de acabarem com esta tradição inaugurada pelo último general a ter chegado à Casa Branca surgiu através do embaixador americano na NATO. “Aguardo com expectativa o dia em que a Alemanha venha ter com os EUA e diga que está pronta para assumir a posição de Comandante Supremo Aliado”, disse Matthew Whitaker na Conferência de Segurança de Berlim. Citado pelo The Telegraph e pela Euronews, o diplomata até pode ter admitido que “ainda estamos longe disso”, mas não deixou de garantir que espera que essas conversações tenham mesmo lugar. A ideia de os EUA desistirem do SACEUR não é bem nova. Já em março, dois meses após a tomada de posse de Donald Trump para um segundo mandato, a NBC News citava dois responsáveis da defesa segundo os quais abandonar o comando da NATO na Europa faria parte dos planos da Administração para cortar nos custos do Pentágono. Mas em julho, o general Alexus G. Grynkewich sucedeu mesmo a Chistopher G. Cavoli num cargo que inclui a supervisão do apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia. Os EUA abdicarem do SACEUR seria, no mínimo, uma viragem no equilíbrio de poderes dentro da aliança militar criada em 1949, no início da Guerra Fria, como resposta à ameaça soviética. E se a ideia não surpreende vinda de um presidente que ameaçou que “se os países da NATO não pagarem, não os vou defender”, deixa muitos céticos. É o caso de James Stavridis, que serviu como SACEUR e chefe do Comando Europeu de 2009 a 2013, para quem “para os EUA, abdicar do papel de comandante supremo aliado da NATO seria visto na Europa como um sinal significativo de afastamento da Aliança”. À NBC News garantiu: “seria um erro político de proporções épicas” porque “perderíamos uma enorme influência dentro da NATO e isso seria visto, corretamente, como provavelmente o primeiro passo para abandonar completamente a Aliança.”Venham ou não a concretizar-se, que as palavras de Whitaker sirvam pelo menos para percebermos que a proteção dos EUA que nós, europeus, demos por adquirida durante décadas já não o é. E que chegou mesmo a hora de sermos capazes de assumir a nossa própria defesa. Editora-executiva do Diário de Notícias