Do oficioso ao oficial - ‘Wagner out, Africa Corps in” - foram saindo ficando!

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No passado 6 de Junho, o Grupo Wagner, paramilitares russos a operarem no Mali, anunciaram a retirada com um: “Missão cumprida, nós saímos, mas a Rússia continua no Mali.”

Os factos:

primeiro, os oficiosos Wagner tornaram-se um problema de gestão séria para o Kremlin após a tentativa de golpe do seu líder, Yevgeny Prigozhin, em Junho de 2023 e sua subsequente morte, em Agosto;

segundo, a herança que Prigozhin deixou ao seu semi-chefe, o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, foi “Agora lida com eles”! E Shoigu lidou - os desaires Wagner no Mali em 2024 não foram censurados, sobretudo o de Tinzaouaten, onde há um ano caíram numa armadilha tuaregue. Não foi preciso fazer mais, um desaire com mais de 70 baixas russas, face a “homens-azuis”, destrói a reputação de qualquer grupo;

terceiro, o problema resolveu-se com uma campanha sem ser campanha, através do “vox bom populi senso”, é menos mau aderir ao recrutamento de Shoigu, do que ao dos órfãos de Prigozhin! Desta forma, natural, secou-se a fonte, propôs-se integrar e oficializar os Wagner que acharam merecedores, ou com bons padrinhos! Mudaram de farda e passaram de oficiosos a oficiais. Vão sair ficando, portanto.

O que é que muda afinal?

Tudo, passar de Grupo Wagner a Africa Corps, é passar de órfão a Filho da Mãe Rússia, é passar a ser gente e isso confere responsabilidade! E será precisamente nesse sentido que as alterações operacionais se estarão já a dar:

primeiro, a responsabilidade que o estatuto oficial confere ao novo grupo, dependente directamente do Ministério da Defesa Russo (MDR), certamente o obrigará (ao MDR) a dar indicações para se concentrarem no treino e formação das forças locais e não participarem nas missões no terreno, como anteriormente. Quantos menos mortos russos, agora oficiais, melhor;

segundo, os aprovisionamentos são fundamentais para esta hinterlândia sem acesso ao mar, quer em equipamentos militares, quer em leite em pó! O MDR certamente não negligenciará a oportunidade que as prateleiras vazias no Mali, Níger e Burquina, podem representar para os grossistas russos, a partir do seis de Junho;

por último, há que ganhar os corações das populações e as prateleiras/estômagos cheios, é um bom começo! Só assim imagino possível o cumprimento de um imperativo para esta missão ser cumprida. A recuperação da rede de informadores deixada pelos franceses, pulverizada por toda a região. Com óleo, com açúcar, com carvão vegetal, com cereais, vodka, Viagra e cigarros. Não com dólares e porrada. Isso já comeram!

Politólogo/arabista

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Escreve de acordo com a antiga ortografia

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