Os extremismos e as posições políticas extremistas têm sido os maiores responsáveis pela corrosão das democracias. Defendem medidas tantas vezes desumanas, demagógicas e que alimentam o ódio e a xenofobia. Nesta fase, até tendo em conta a assunção de Pedro Nuno Santos de que as famosas manifestações de interesse - que permitiam a entrada irregular de imigrantes e o seu registo posterior, mantendo milhares explorados em condições degradantes - foram um erro do governo socialista, há que pensar para a frente e criar condições para políticas de imigração organizadas, justas e humanizadas.Sendo discutível, e até criticável, a forma e a oportunidade com que o Governo de Luís Montenegro decidiu publicitar o facto, decorrente da lei, de que iriam ser notificados para abandonarem o país cerca de 4500 imigrantes, numa primeira fase, e um total de mais 18 mil, numa segunda fase, não pode deixar de ser uma hipocrisia alguém achar que o tema da imigração não iria entrar, mais tarde ou mais cedo, na campanha eleitoral. Entrando mais cedo, logo a abrir, dá oportunidade a todos de escrutinarem os anúncios feitos e as medidas tomadas. Como o DN já explicou, os processos de afastamento voluntários e os coercivos estão previstos na lei. Além de que, o governo não tirou este coelho da cartola em vésperas das eleições. Em julho de 2024, pouco mais de três meses depois de tomar posse, apresentou um Plano de Ação para as Migrações, cujo principal objetivo era criar condições para uma imigração regulada, controlando as entradas e a permanência dos imigrantes.O Plano foi fazendo o seu caminho, foi criada uma Estrutura de Missão para analisar e decidir o destino dos mais de 400 mil processos pendentes que tinham sido deixados pelo caótico e negligente processo de extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). É irrelevante se são 400, 500 ou 300 mil - o ex-ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, insiste que o Governo tem inflacionado o número - porque cada um representa uma pessoa, um ser humano que viu defraudada a sua expectativa de uma vida melhor, boa parte por falta de resposta dos organismos estatais na vigência de um Governo que se arvorava campeão dos Direitos Humanos dos imigrantes .Como escreveu neste jornal Ana Rita Gil, doutorada em Direito Público, com tese sobre Direitos Humanos dos Imigrantes, as notificações de 18 mil estrangeiros para abandonarem o país, não é uma medida “à la Donald Trump”, não são uma deportação em massa. “Para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, uma expulsão coletiva é a que incide sobre um grupo de pessoas sem se analisar o caso individual de cada uma delas. Expulsões coletivas são medidas cegas deste tipo: mande-se para trás um barco cheio de imigrantes; expulsem-se todos os cidadãos de nacionalidade x ou da religião y; deportem-se todos os que estão em situação ilegal, sem analisar os seus casos. Ora, não se está perante nenhum destes cenários. Nem sequer o último. Ao que indica, os casos em presença foram todos ponderados”, escreveu. Ana Rita Gil está certa. E as medidas tomadas têm base legal numa Lei de Estrangeiros ainda aprovada no tempo da Geringonça com PS, BE e PCP. Ora, antevendo que a situação criada com a desregulação da política de imigração iria, inevitavelmente, servir as narrativas populistas, xenófobas e extremistas, a prioridade dos partidos moderados não devia ser outra que não a de defender medidas que as combatessem. Contranarrativas que calem a desinformação, as mentiras e a manipulação de dados, como os que relacionam a imigração com a criminalidade.O Governo AD deu o primeiro passo com o já referido Plano de Ação para as Migrações. Pedro Nuno Santos deu outro, importante, ao assumir que as manifestações de interesse foram um erro. Estes dois partidos juntos podem fazer a diferença e seguir como um exemplo contra populismos. Tirar votos aos extremistas, sim. Essa deve ser a prioridade de combate em qualquer democracia madura. E a nossa já tem 50 anos.