A “transumância Wagner” do Sahel ao norte de África!
Primeira nota, “transumância” refere-se a gado, à permanente circulação deste pelas terras à procura de pasto e água, sobretudo água, no deserto!
Segunda nota, o primeiro título que me veio à cabeça foi “Esqueçam o Irão que a bomba vai rebentar aqui ao lado”! Porquê?
Porque, e uma vez mais passou-nos ao lado, distraídos com o Irão, o shopping e o brilho dos ténis com luzes na sola que aí se vendem, um desenvolvimento de guerra da maior importância para o nosso futuro e também para o “sono dos dias” continuar a ser o que tem sido. O português acordará para a Mauritânia, quando esta nos deixar de servir peixe à mesa!
Entretanto, os desenvolvimentos de abril, desconhecidos e aqui e agora revelados foram os seguintes, devendo preocuparmo-nos com os mesmos, prospectivando-os numa leitura extensiva e realista. Os “ataques toca-e-foge” nunca se ficam por aí, são sinais do que ainda estará por vir! Ora as disputas fronteiriças entre Mauritânia e Mali não têm exactamente a ver com “os princípios de Olivença”, ou com o que nos moveu, ainda na Escola Primária, a ter ganas de invadir Espanha! A questão nem é entre governos centrais, mas sim entre pastores. Cá está a transumância, estes empresários guardadores-de-gado, precisam de o mover para onde há pasto e no deserto, para onde há poços de água (o problema no Darfur, depois “vendido” como guerra entre etnias).
De regresso à “vaca fria”, a Junta Militar de Bamako, parece decidida a fazer uma experiência. Enviar os colaborantes Wagner para a zona de fronteira com a Mauritânia e estes friamente acabarem com as disputas entre pastores. Há vários registos preocupantes nestas investidas que picotaram o mês de abril com uma violência que os locais não acreditavam possível, dado o estatuto e importância social do Pastor da Aldeia, um Posto! Da mesma forma nunca se mata uma rês sem razão, ou se envenena um poço de água! Está tudo na lista dos princípios da guerra justa de Santo Agostinho, os quais “fazem escola” nas Nações Unidas!
Este é um primeiro ponto, já ofuscado por um segundo, já que os locais atacados em Adel Bagrou e outras regiões fronteiriças, detectaram “fardas russas a falarem” hassania, confirmando os rumores que corriam de um recrutamento Wagner nos campos sahraouis de Tindouf. Fala-se de 500 sahraouis recrutados recentemente pelos Wagner, sob aconselhamento e supervisão POLISARIO, cujo principal atractivo é a promessa de um ordenado de 3 mil dólares mês, a “solteiros com experiência de guerra e dispostos a cortarem totalmente os laços familiares e embarcarem na aventura do Corpo Expedicionário Africano Russo”, a actual capa jurídico-internacional dos Wagner pós-Prigozhin. Como é que isto nos toca?
Toca-nos porque Portugal tem planos e ambições gizadas com Marrocos no curto, médio e longo prazo. A saber, realização do Campeonato do Mundo de Futebol 2030, conexão eléctrica por cabo entre Marrocos e Reino Unido, com Portugal a meio caminho e a contar nesta vontade, a dependência de Sines da conclusão do Gasoduto Nigéria-Tânger, que viabilizará Sines como polo de referência mundial na produção/distribuição de hidrogénio verde a toda a Europa e basta, que não há mais espaço! A confirmar-se uma adesão/colaboração entre POLISARIO e grupo Wagner, o jogo rapidamente poderá mudar no Magrebe/Sahel/África Ocidental e obrigar americanos e NATO a priorizarem o reforço das “paredes do Atlântico chamadas Mauritânia e Senegal”, importantes países para estancarem o avanço russo da hinterlândia saheliana até ao mar!
Esqueçam o Irão, que o frágil está mesmo aqui ao lado e mais frágil e vulnerável ficará, perante a nossa indiferença, resultante do brilho dos ténis que nos ofuscam a partir da montra!