Hoje, 21 de novembro, era para ser o dia em que as sanções norte-americanas contra Rosneft e Lukoil, dois conglomerados gigantes russos nas áreas do petróleo e do gás, deveriam entrar em vigor. Esta decisão do presidente Donald Trump, tomada há um mês, foi alterada recentemente no que diz respeito à Lukoil. A empresa tem agora até 13 de dezembro para vender os seus ativos externos e até abril do próximo ano para cessar todas as suas atividades na Bulgária. Há várias firmas interessadas na compra dos ativos em questão, mas as transações só poderão ser finalizadas após o aval da administração Trump.A Lukoil, uma companhia privada cotada nas bolsas de capitais, é um colosso a nível mundial. A maior parte das suas operações têm lugar fora da Rússia. Os lucros e os dividendos que realiza pesam bastante na economia russa. A decisão tomada por Washington põe em causa a sobrevivência da Lukoil.Por seu lado, a Rosneft, uma empresa controlada pelo Kremlin, é o maior contribuinte para o orçamento da Federação Russa. As sanções, se se tornarem efetivas, terão um impacto significativo sobre as finanças públicas do país.A questão que fica, para já, sem resposta é clara: a perda de receitas e os consequentes desequilíbrios orçamentais serão suficientes para convencer o Kremlin que há urgência em matéria de negociações de paz? É essa a intenção de Trump. A experiência diz-me que tal hipótese é pouco provável. As sanções, por si só, têm um impacto demorado sobre as políticas que visam alterar.Defendo, no entanto, a aplicação de sanções contra regimes que atuam fora da lei internacional. No caso concreto, trata-se de reduzir de maneira significativa a base financeira e outros meios que permitem à Rússia continuar a sua agressão inaceitável contra a Ucrânia. E de expressar uma mensagem política forte, de absoluta condenação.Não existem condições para que o Conselho de Segurança da ONU aprove um qualquer pacote de sanções que visem a Rússia. Esse seria à partida o processo apropriado. Não sendo possível, cabe a cada Estado decidir sobre as restrições e a pressão que está pronto a exercer. Tem, todavia, de respeitar os princípios humanitários – as sanções não podem pôr em causa a vida dos cidadãos do país visado –, e a soberania dos Estados terceiros. Devem, igualmente, ter como objetivo contribuir para a resolução da crise ou do conflito, e neste caso para parar a guerra injustificável de que a Rússia é responsável.Sou de opinião que nem o cessar-fogo, e muito menos a paz, fazem parte dos planos mais imediatos de Vladimir Putin. Antes pelo contrário, dir-se-ia que vamos continuar a assistir à intensificação da destruição e morte na Ucrânia com chancela russa. O Kremlin aposta na guerra e está convencido que acabará por subjugar a Ucrânia. As informações que nos chegam de Moscovo indicam que Putin ouve cada vez menos os diplomatas, incluindo Sergey Lavrov. Os seus principais conselheiros provêm dos aparelhos da polícia política e da esfera económica. Veja-se quem o vai representar na cimeira do G20, este fim-semana na África do Sul: não será o ministro dos Negócios Estrangeiros, Lavrov, mas sim o Vice-chefe do Gabinete Executivo da Presidência, Maxim Oreshkin. É um apparatchik com um passado inteiramente ligado à gestão da economia nacional. A preocupação com a estabilidade da economia é uma prioridade para Putin. Isso confirma a importância das sanções nas áreas económicas e financeiras.Putin delira por uma vitória que faça incluir o seu nome nos livros de história da “grande e santa” Rússia, como ele gosta de dizer. As suas declarações, matraqueadas à exaustão pelo grupo que controla o poder e a comunicação social em Moscovo, revelam um líder que apenas aceita negociar com os grandes deste mundo – Donald Trump e Xi Jinping. Os outros são vistos como atores menores, sem valor no xadrez geopolítico internacional. Putin não quer perder tempo em diálogos com os líderes europeus.A UE deve responder em três frentes: manter a ajuda à Ucrânia, aplicar com rigor as sanções já aprovadas e mostrar-se pronta para iniciar um processo de conversações a sério com os dirigentes russos.No que respeita às conversações, a minha sugestão é simples: António Costa, enquanto presidente do Conselho Europeu, tem de receber um mandato dos Estados membros que lhe dê a autoridade necessária para entrar em contacto com Putin. O seu gabinete procuraria então estabelecer linhas de comunicação com o Kremlin, de modo a convencer os russos que um ciclo de conversas entre Putin e Costa poderia ser benéfico para ambas as partes e vital para os interesses internos da Federação Russa, e para a paz na Europa.Há urgência em avançar nessa frente, antes que os EUA e a Rússia cheguem a um acordo por cima da cabeça e dos interesses europeus. Esta hipótese é cada vez mais plausível, dirão alguns.Tudo sem ilusões e com muita perseverança, do lado europeu. As mensagens que provêm do Kremlin mostram que Putin vê qualquer possível negociação como um exercício de afirmação dos seus pontos de vista e das suas ambições. Para ele, a flexibilidade, as concessões, a procura de equilíbrios, tudo isso equivale a fraqueza e à admissão de erros, próprios ou alheios. Essa atitude não pode desencorajar a parte europeia. A UE tem de calçar as botas e entrar no jogo geopolítico, na única arena que é sua, o campeonato dos grandes. Tem aqui uma oportunidade e uma exigência históricas.Conselheiro em segurança internacional. Ex-secretário-geral-adjunto da ONU